SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - A Secretaria de Estado da Saúde paulista investiga dois casos suspeitos de "doença do pombo" (criptococose) em internos da Fundação Casa, da unidade Vila Palmares, em Santo André, na Grande São Paulo.
A fundação disse aguardar os resultados dos exames e que não há infestação de pombos no local.
Os dois jovens foram encaminhados para o Centro Hospitalar Municipal de Santo André em março com sintomas semelhantes à meningite.
O primeiro, de 18 anos, deu entrada no dia 22 de março com complicações no quadro pulmonar e acabou tendo a morte cerebral confirmada 18 dias após a internação. No atestado de óbito, o exame de necrópsia constatou morte por meningoencefalite grave, que pode ser causada por criptococose.
O segundo, de 17 anos, foi levado ao hospital no dia 25 de março e recebeu alta na última quinta (21), de acordo com a Fundação Casa. O hospital colheu amostra de liquor para realização do exame diagnóstico de criptococose no Instituto Adolfo Lutz, em São Paulo, e aguarda resultado do exame.
A criptococose, conhecida como doença do pombo, é causada por um fungo presente nas fezes de pombos (Cryptococcus neoformans e C. gattii).
Em geral, em indivíduos saudáveis, a criptococose não costuma evoluir para um quadro grave e causar morte, situação que ocorre em grande parte em indivíduos imunossuprimidos, como idosos, portadores de tuberculose ou com HIV.
Por outro lado, a presença em grandes quantidades de fezes contaminadas com o fungo, se inaladas, podem levar ao quadro grave da doença, chamado de meningite criptocócica.
Segundo registros do Sistema de Internações Hospitalares do Ministério da Saúde, de 2017 a 2020 foram registradas 1.105 internações por criptococose no Brasil, com 185 óbitos no mesmo período. A doença não é de notificação obrigatória.
Recentemente, a pasta, via Conitec (Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no SUS), incorporou ao SUS (Serviço Único de Saúde) o medicamento flucitosina, recomendado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) para tratamento da doença.
A meningite causada por fungos não é transmissível de pessoa para pessoa e as formas de prevenção são a higiene de recintos, limpeza de locais onde há aves ou uso de equipamentos individuais de proteção (EPIs), bem como o controle dos animais urbanos.
Procurada, a Fundação Casa, por meio de nota, disse à reportagem que aguarda os resultados dos exames que indiquem a causa da morte do jovem e da internação hospitalar do adolescente. A instituição afirmou ainda que não há infestação de pombos nas unidades em Santo André.
"Em relação ao jovem que faleceu, a Fundação Casa esclarece que o paciente foi atendido pela equipe de saúde do centro socioeducativo e encaminhado ao atendimento médico geral e especializado do município. A família foi informada do quadro, assim como o Poder Judiciário. Quanto ao segundo adolescente ele recebeu alta na última quinta por melhora do quadro geral", disse a nota.
Ainda, segundo o centro socioeducativo, foi realizada uma vistoria pela equipe de vigilância epidemiológica do município, que não localizou "focos de contaminação por fezes de pombo", e, embora não tenha emitido um laudo, solicitou "a manutenção dos cuidados de higienização dos ambientes, lavagem das mãos e uso de máscaras por adolescentes e servidores".
O Centro Hospitalar Municipal de Santo André disse que, até o momento, não há outros casos suspeitos na instituição.
A Secretaria de Saúde paulista, por meio do Grupo de Vigilância Epidemiológica (GVE) de Santo André, disse que "ambos os casos ainda estão em investigação, aguardando a conclusão dos laudos".
A Defensoria Pública diz ter tomado conhecimento das internações dos dois jovens "supostamente por meningite meningocócica" e acionou as autoridades sanitárias para investigação.
Segundo o órgão, os casos continuam sendo analisados pelas autoridades, e os resultados dos exames ainda não foram apresentados à Defensoria. "A Defensoria também informa que, até o momento, desconhece a confirmação de infestação de pombos nos centros da Fundação Casa. Continuamos atentos e aguardando os laudos para análise e tomada das medidas pertinentes", disse, em nota, à Folha.
A reportagem conversou com um técnico do GVE, que não quis se identificar para não interferir na investigação. Segundo ele, a Defensoria Pública notificou a Secretaria Municipal de Saúde de Santo André no final de março para investigar os casos suspeitos.
O GVE, disse ele, esteve na Vila Palmares, mas no dia da visita não havia pombos na unidade. Porém, a apuração do grupo por meio de relatos dos internos que estavam internados indicam que há sempre pombos no local.
Ainda de acordo com ele, as duas investigações continuam em curso e não foi possível ainda estabelecer se os dois casos são de criptococose, podendo ser apenas uma coincidência temporal.
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