Guilherme Derrite, que se manifestava contrário ao programa 'Olho Vivo' e defendia sua revisão, mudou discurso e disse nesta terça (10) que proposta da gestão estadual é 'acoplar funcionalidade operacional para combater o crime e proteger o policial'. Tecnologia de câmeras reduziu letalidade policial em 46% em 2021.
Por g1 SP — São Paulo
Guilherme Derrite, secretário da Segurança Pública de São Paulo, negou nesta terça-feira (10) que a gestão estadual irá acabar com o programa de câmeras corporais da Polícia Militar, o "Olho Vivo".
"Não iremos acabar com o programa Olho Vivo das câmeras. Não iremos, é o meu compromisso e do governador", afirmou em entrevista ao Bom Dia SP.
Na semana passada, em entrevista à rádio Cruzeiro, de Sorocaba, interior de São Paulo, terra natal do secretário, ele afirmou iria rever o programa e que uma das suas primeiras medidas foi pedir o estudo da Fundação Getúlio Vargas (FGV) que mostra que o uso de câmeras portáteis nos uniformes de policiais militares de São Paulo evitou 104 mortes, uma redução de 57%, em relação ao período anterior em que a medida entrou em vigor.
Por conta da declaração, procuradores chegaram a divulgar uma manifestação contrária à revisão, dizendo que a suspensão ou a retirada das câmeras poderia ser entendida como "licença para matar".
Ao Bom Dia SP, porém, ele afirmou que a gestão estadual pretende ampliar as funcionalidades da câmera, como georreferenciamento e leitura de placa de veículos.
"Ela foi instalada com uma intenção de fiscalização e controle que é aceitável, tem sua funcionalidade. Nós queremos, além da fiscalização e controle, acoplar a câmera do policial ferramentas que vão combater o crime. Como por exemplo, leitura de placa de veículos roubados. Isso pode ser instalado na câmera."
Mudança no discurso
Durante toda a campanha eleitoral, tanto Derrite quanto o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos) criticaram o uso do equipamento.
Sobre o assunto, Derrite chegou a dizer, à época da implementação, que o governo de São Paulo era inimigo da polícia ao compartilhar uma manchete de um jornal sobre o uso de câmeras nas fardas.
Índices de letalidade policial em SP
Levantamento realizado pelo Instituto Sou da Paz, divulgado em outubro de 2022, aponta que houve uma queda de 49,8% no número de vitimizações pelos agentes de segurança pública: 420 pessoas foram mortas pelas polícias paulistas no primeiro semestre de 2018, contra 221 mortes decorrentes de intervenção policial no mesmo período de 2022.
O levantamento analisou todo o estado, com os dados segmentados pela capital, Grande SP e o interior. Em todos os casos, apesar das reduções, o interior foi onde foram registradas mais ocorrências.
Em fevereiro de 2022, dados divulgados pela própria Secretaria de Segurança Pública (SSP), apontam que a letalidade policial caiu quase 40% em cinco anos no estado.
Em 2017, 941 pessoas morreram em ações envolvendo policiais civis e militares em serviço e de folga. No ano passado, foram 570.
Mudanças 'drásticas' na Cracolândia
Derrite afirmou que o governo de SP tem como pauta prioritária a questão da Cracolândia e disse que a polícia já faz um trabalho de inteligência para identificar e prender traficantes.
"Boa parte da droga chega por pequenos traficantes que levam sacolas dentro das estações de trem, de Metrô, da CPTM."
O secretário afirmou que a população deverá sentir os resultados da nova gestão no local no final do semestre.
"Creio que em seis meses já vão ver uma mudança drástica para melhor na Cracolândia"
Crise de efetivo e tecnologia
Ao jornal, Derrite afirmou que o estado vive a maior crise de efetivo da história das forças de segurança, e que começou a implementar um plano emergencial.
"A Polícia Militar tem a defasagem de efetivo em mais de 14%, a polícia técnico-cientifica, mais de 25%, a Polícia Civil, mais de 32%. Apresentamos um plano emergencial. Tem concursos em andamento. O próximo serão de 200 delegados, mais de mil investigadores. Na PM serão três concursos concomitante. O plano emergencial é de recomposição de efetivo. E nos delegados, para que tenha na delegacia especializada, mais delegados participando das investigações que vão combater crimes das quadrilhas de Pix"
Na avaliação do secretário, além da ampliação do efetivo, o estado precisa investir em tecnologia. Ele disse ser inaceitável que boletins de ocorrência ainda sejam feitos em papel e não digitalmente.
De acordo com Derrite, o crescimento de sequestros e assaltos se dá "por conta da Impunidade e porque não há, por parte do estado, a evolução tecnológica que o crime acabou adquirindo.”
Perfil do secretário
Derrite é ex-policial militar com passagem pelas Rota da PM e com forte ligação com a família do presidente Jair Bolsonaro (PL). Ele participou ativamente da campanha pela reeleição do presidente e o acompanhou em diversas agendas. Ele é formado em direito e oficial da reserva da PM.
Assumiu a pasta da Segurança sem ter chegado ao topo da carreira, diferente de seus últimos antecessores, como, por exemplo, o atual secretário, general João Camilo Pires de Campos.
O deputado nasceu em Sorocaba, no interior paulista, e começou a carreira como militar no ano de 2003. Ele se tornou 1º Tenente da PM em 2010, quando assumiu o comando da Rota e ficou até 2013. Derrite também fez parte do Corpo de Bombeiros e foi eleito deputado federal pelo Partido Progressista (PP) no ano de 2018.
Em março de 2022, Derrite migrou para o partido de Bolsonaro, o PL e foi reeleito deputado federal.
Derrite é coautor do Projeto de Lei 2310/2022 apresentado em agosto deste ano pelo deputado Subtenente Gonzaga (PSD-MG) que prevê que a Polícia Militar tenha poder de formalizar investigações e pedir ao Judiciário mandados de busca e apreensão.
O projeto passou pela Comissão de Segurança Pública de Câmara dos deputados e aguarda parecer do relator da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ).
'CPFs cancelados'
Popular nas redes sociais e com mais de 2,8 milhões de seguidores no Facebook, Derrite se tornou conhecido por defender pautas conservadoras e as mortes de suspeitos de crimes em confronto com a polícia.
Ele costuma compartilhar vídeos marcando uma página chamada 'CPFSCancelados', elogiando policiais e civis que atiram em suspeitos, sobretudo, quando o caso termina em morte.
Derrite também defende sempre a atuação da Rota e costuma escrever "uma vez Rota, sempre Rota", nas redes sociais.
Condenação por danos morais
Justamente por causa das postagens nas redes sociais é que Derrite foi condenado pela Justiça comum a pagar R$ 20 mil de indenização por dano moral à família de um homem morto pela PM em 24 de fevereiro de 2020 em Osasco.
O futuro secretário da Segurança Pública o tratou como um criminoso armado, mas ele era um encanador que tinha ido comprar leite num mercado e foi atingido na cabeça por um disparo de um policial militar que perseguia um suspeito.
No mesmo dia, Derrite, que já era deputado federal à época, postou no seu Twitter que "um criminoso trocar tiros com a PM e vai curtir o Carnaval no inferno. Esse vai aproveitar o Carnaval e já vai usar a fantasia do Capeta".
O homem morto deixou a esposa e o filho criança. Ele não estava armado. Seus parentes constituíram advogados e entraram na Justiça com um pedido de indenização contra Derrite. E em março deste ano ela decidiu condenar Derrite pelo dano moral.
A defesa do condenado recorreu da sentença ao Tribunal de Justiça (TJ) de São Paulo, que ainda não julgou o recurso.
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