SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Um funcionário da Fundação Casa está internado em coma induzido no Hospital das Clínicas de São Paulo, na capital paulista, segundo a família, após ter sido espancado dentro de uma unidade do Complexo Raposo Tavares, na zona oeste, na tarde de segunda-feira (21).
Conforme registro de boletim de ocorrência na polícia, o agente de apoio socioeducativo, de 62 anos, recebeu chutes, socos e cusparadas, além de um golpe na região do pescoço, que o deixou inconsciente. Mesmo desacordado e sangrando, as agressões só teriam parado após a chegada de outros funcionários, ação que teria demorado para ocorrer, também segundo a família da vítima.
"O estado é crítico e não tem previsão de alta", afirmou a mulher da vítima, de 55 anos. "Ele está em coma induzido, intubado, e estamos aguardando a evolução", completou. Procurado, o Hospital das Clínicas disse "não ter autorização para divulgar o estado de saúde do paciente".
A esposa da vítima afirmou que seu marido está na instituição socioeducativa há 25 anos. Ela contou que não é a primeira agressão sofrida por ele, que fraturou ossos do rosto em uma outra confusão, há cerca de seis anos.
Em nota, a Fundação Casa, do governo João Doria (PSDB), disse que a Corregedoria Geral da instituição apura, por meio de sindicância, o movimento de indisciplina causado por um grupo de adolescentes do centro socioeducativo Nova Aroeira, no Complexo Raposo Tavares.
Segundo o documento elaborado pela Polícia Civil, sete jovens, entre eles quatro com 18 anos, teriam participado das agressões. Ao menos outros três internos, que estavam na mesma sala, se recusaram a agredir o homem e ficaram em um canto enquanto o funcionário apanhava.
Uma testemunha protegida contou para a polícia em detalhes os momentos de terror passados pela vítima. De acordo com ela, pouco antes de ser agredido, o agente cuidava da higienização, como uso do banheiro.
Segundo a testemunha, alguns adolescentes teriam pedido para ir aos sanitários. Prevendo que algo estivesse sendo planejado, o agente de apoio resolveu vetar a ida ao banheiro, encaminhado o grupo até uma nova atividade na sala de TV e leitura.
No local, Garcia teria discutido com um dos jovens de 18 anos, que desferiu um soco no rosto do funcionário, que caiu. Com a vítima no chão, de acordo com o depoimento, o mesmo interno passou a pisar pelo corpo do servidor.
Em seu depoimento, a testemunha relatou que o agente implorava para que as agressões parassem, mas que o agressor dizia "já era". Nesse instante, um outro interno maior de idade teria pego o funcionário pelo pescoço, aplicando um golpe conhecido como mata-leão.
Com a vítima desmaiada, outros três internos se juntaram à dupla e passaram a pisar pelo corpo do funcionário da unidade. Um deles teria retirado um tênis do pé e batido com ele no rosto do homem.
Conforme a testemunha, a intenção do grupo era conseguir pegar uma lâmpada, quebrá-la e, com os cacos, matar o agente de apoio. Como a luminária não quebrou, eles passaram a usar o rádio comunicador do funcionário para continuar as agressões.
O agente ainda teria sido atingido com cusparadas e, mesmo desmaiado e sangrando, continuou a ser agredido com chutes no rosto e pisões na cabeça e na barriga, segundo o relato da testemunha.
Assim que um outro funcionário chegou, ele também passou a ser espancado. Em seu depoimento, o agente socioeducativo contou ter desmaiado, assim que recebeu os primeiros golpes, o que retardou ainda mais o pedido de socorro ao colega.
Parte do grupo suspeito das agressões preferiu permanecer calado à polícia. Já o jovem apontado como o autor do soco confirmou ter participado da confusão, mas alegou ter apenas quebrado cadeiras, não agredindo os funcionários. No entanto, apontou ter sido "conivente num momento de emoção".
Um outro interno também confirmou ter participado da quebra de uma TV e de uma cadeira, mas negou agressões.
Conforme o boletim de ocorrência, os quatro suspeitos da agressão com mais de 18 anos tiveram as prisões preventivas decretadas por homicídio qualificado tentado. Já os três adolescentes do grupo devem responder por ato infracional análogo ao crime de homicídio qualificado tentado, no que foi pedido suas internações provisórias.
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