Presidente da Associação Brasileira de Planos de Saúde em MG afirma que os custos aumentaram muito com as novas coberturas aprovadas pela ANS
Após um levantamento da Associação Nacional de Hospitais Privados (Anahp) apontar que as empresas de planos de saúde devem atualmente cerca de R$ 2,3 bilhões para 48 hospitais do país, o diretor-presidente da Associação Brasileira de Planos de Saúde em Minas Gerais (Abramge/MG), Celso Dilascio, confirmou que o setor passa por grave crise financeira e defendeu um reajuste dos valores cobrados dos clientes. Segundo ele, houve um aumento muito grande das coberturas, ao mesmo tempo em que a receita das operadoras ficou represada
A gente enxerga que um aumento desproporcional das coberturas deveria fazer frente a um aumento das receitas, portanto, um reajuste do preço dos planos de saúde. Ultimamente temos visto grupos no Congresso Nacional, de uma maneira geral, e políticos interferindo nas coberturas, trazendo procedimentos experimentais, sem comprovação ou inovadores, que infelizmente têm custos muito altos. E o que se tem visto desde a metade da pandemia para cá é que a sinistralidade, em consequência, aumentou muito nas operadoras”, afirma.
De fato, em abril de 2021, entraram em vigor 69 novas coberturas obrigatórias dos planos de saúde, que foram acrescentadas ao Rol de Procedimentos após autorização da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS). Fazem parte da lista 19 medicamentos orais que cobrem 28 indicações para tratamento de diversos tipos de câncer; 17 imunobiológicos com 21 indicações para tratamento de doenças inflamatórias, crônicas e autoimunes, como psoríase, asma e esclerose múltipla; um medicamento para tratamento de doença que leva a deformidades ósseas; e 19 procedimentos entre exames, terapias e cirurgias para diagnóstico e tratamento de doenças do coração, intestino, coluna, pulmão e mama, entre outros.
Além das novas coberturas, os planos de saúde também enfrentam um outro problema atualmente: a demanda reprimida. Desde o ano passado, alguns procedimentos eletivos puderam ser retomados após os casos de Covid-19 diminuírem no Brasil e a vacinação contra a doença ter sido aplicada em boa parte da população.
Durante muitos meses, apenas procedimentos de caráter emergencial podiam ser realizados, o que fez com que consultas, exames e cirurgias menos complexas ou que não eram urgentes sofressem uma grande procura a partir do momento em que foram liberados novamente. Isso, claro, sobrecarregou os planos de saúde, que desde então enfrentam dificuldades operacionais e financeiras para aguentar toda a demanda.
“O que se tem visto, desde a pandemia, é que a sinistralidade aumentou muito nos operadores. Como toda operadora tem carregamento comercial, tem custos para comercializar produtos, tem impostos a pagar, tem equipe, tem folha de pagamento e outras despesas, a grande maioria das operadoras tem ficado no vermelho”, justifica Dilascio.
E ele defende uma mudança urgente na cadeia para evitar que a crise das empresas de planos de saúde fique ainda maior. “Algumas operadoras gigantes que têm hospitais próprios ainda conseguem se defender, mas nós vemos no segmento uma dificuldade muito grande. Eu acho que tanto o Ministério da Saúde, a ANS, políticos, o governo federal e o setor precisam sentar e rever regras, porque nós estamos vivendo um grande desequilíbrio”, explica.
O diretor-executivo da Associação Nacional de Hospitais Privados, Antônio Britto, também defende mais diálogo para que seja encontrada uma solução para toda a cadeia da saúde suplementar. “Estamos diante de uma crise que não é só de um segmento do setor de saúde. É do sistema. E essa crise não vai se resolver com um segmento tentando ajustar seus problemas às custas do outro. Precisamos de um grande diálogo setorial com a Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS)”.
E o diretor-presidente da Abramge/MG sugere ainda a regulação de toda a cadeia, não apenas das empresas de planos de saúde. “A saúde suplementar envolve quatro entes: os pacientes; os hospitais, médicos e prestadores de serviço de saúde; a indústria farmacêutica e as operadoras. Mas só as operadoras são reguladas”, destaca.
Na opinião dele, os outros lados da cadeia também deveriam sofrer maior fiscalização. “Isso pode evitar muitas fraudes de reembolso, de solicitações indevidas, de venda de pacientes em situações graves que burlam as carências previstas em lei”, avalia.
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