Josmar Jozino
Colunista do UOL
31/07/2020 04h06
O PCC (Primeiro Comando da Capital) divulgou um salve (recado) pedindo para as famílias dos presos boicotarem a visita virtual nos presídios paulistas, inaugurada no último fim de semana pela SAP (Secretaria Estadual da Administração Penitenciária).
Segundo fontes do sistema prisional ouvidas pela coluna, a insatisfação dos integrantes da facção criminosa é com o tempo de duração da visita, de apenas cinco minutos e somente uma vez por mês.
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Em nota, a SAP informou que o tempo da visita virtual foi definido considerando-se experiências de outros estados e para contemplar o maior número de famílias possível. A nota diz ainda que o período será avaliado permanentemente e ajustado em face da demanda existente.
Encontro frustrado
Laura, 4 anos, estava feliz e ansiosa para participar da visita virtual, domingo passado, e falar com o pai, preso na Penitenciária 2 de Presidente Venceslau (SP). A família não se vê desde março deste ano, quando as visitas foram suspensas por causa da pandemia de covid-19.
A criança queria ficar bonita para agradar ao pai. Penteou os cabelos, se deixou ser maquiada pela mãe e vestiu a melhor roupa. Mas seu desejo foi frustrado por um funcionário do presídio.
O agente penitenciário disse para Gabriela, mãe de Laura, que a visita estava autorizada apenas para a mulher do preso e não para a filha. A nota da SAP explica que podem participar da visita virtual pessoas cadastradas no rol de visitantes do preso e que não há, absolutamente, restrições às crianças e adolescentes.
A menina tem cadastro de visitante na P2 de Venceslau. Por conta disso, a mãe entendeu que não havia necessidade de fazer um recadastramento online para a visita virtual. "Essas informações não estão bem claras no site da SAP. Lá diz que crianças cadastradas e acompanhadas pelo responsável estão autorizadas a participar da visita virtual. Eu entendi que esse cadastramento é o que já existe no presídio e não para fazer online", reclamou Gabriela.
Presídios federais estão sem visita, nem virtual
Segundo a SAP, a visita virtual é uma iniciativa emergencial e temporária e visa minimizar os efeitos do isolamento com a manutenção dos laços familiares dos presos em razão das restrições impostas pela pandemia de covid-19.
A secretaria não confirmou nem desmentiu se o PCC divulgou o "salve" pedindo o boicote às visitas virtuais. Mas fontes ligadas ao sistema prisional garantem que o recado saiu da P2 de Presidente Venceslau.
Já as famílias de presos recolhidos nas penitenciárias federais estão lutando pela visita virtual. Os parentes estão desde 11 de março, há quatro meses, portanto, sem ver os detentos.
As visitas também foram suspensas por causa da pandemia de coronavírus. O Ministério da Justiça e Segurança Pública baixou nessa terça-feira (28), uma portaria prorrogando a suspensão das visitas por mais 30 dias.
Email de três linhas
O único contato dos presos com suas famílias é por uma carta virtual de apenas três linhas, enviada por email. As mensagens são monitoradas por funcionários dos presídios.
Parentes de presos da Penitenciária Federal de Brasília enviaram email à direção da unidade, pedindo a liberação da visita virtual. Até agora os familiares afirmam não ter tido resposta.
Segundo o site do Depen (Departamento Penitenciário Nacional) foram registradas 73 mortes de detentos por coronavírus nos presídios do país, além de 11.386 casos confirmados e 3.027 suspeitos.
No site da SAP consta que 19 presos morreram nas unidades prisionais paulistas; 125 presos foram colocados em isolamento; 2.021 casos foram confirmados por teste rápido e 486 por exame PCR. O site informa que 21 servidores foram a óbito e 284 acabaram afastados do serviço.
** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.
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