Ex-cabo Victor Cristilder e guarda-civil Sérgio Manhanhã são acusados de integrar grupo que matou vítimas em Osasco e Barueri para vingar assassinatos de policial militar e GCM. Eles tiveram júris anteriores anulados e, por isso, deverão ser julgados novamente nesta segunda (22) em Osasco.
Por Kleber Tomaz, G1 SP — São Paulo
O ex-PM Victor Cristilder e o GCM Sérgio Manhanhã são acusados de 17 mortes na maior chacina do estado de São Paulo, em 2015 — Foto: Reprodução/TV Globo
O ex-cabo da Polícia Militar (PM) Victor Cristilder Silva dos Santos, de 37 anos, e o guarda-civil municipal Sérgio Manhanhã, de 48, devem começar a ser julgados, na manhã desta segunda-feira (22), pela maior chacina da história do estado de São Paulo, em 2015.
O novo julgamento do ex-PM e do agente da Guarda Civil Municipal (GCM) de Barueri está marcado para ocorrer a partir das 10h no Fórum Criminal de Osasco, na região metropolitana. Os júris anteriores que condenaram os réus pela mesma chacina foram anulados pelo Tribunal de Justiça (TJ), que marcou um novo e único júri para ambos (saiba mais abaixo). A previsão da Justiça é a de que esse outro júri popular possa durar até quatro dias.
Cristilder e Manhanhã alegam inocência, mas estão presos preventivamente acusados de matar a tiros 17 pessoas e ter ferido outras sete na noite de 13 de agosto de 2015 em Barueri e Osasco. Câmeras de segurança gravaram as execuções que foram cometidas por homens armados e encapuzados (veja o vídeo abaixo).
Segundo o Ministério Público (MP), o ex-PM e o GCM integravam esse grupo de extermínio, que era formado por agentes das forças de segurança pública. Ainda de acordo com a acusação, os atiradores executaram as vítimas para vingar os assassinatos de um policial militar e de um guarda-civil, respectivamente nos dias 8 e 12 de agosto de 2015.
Júri sem público
Por causa da pandemia de coronavírus, o novo júri do ex-PM e do GCM não terá a presença da plateia ou da imprensa. Ao todo, 20 testemunhas, entre acusação e defesa, deverão ser ouvidas.
Também participarão do julgamento o Ministério Público e advogados dos réus. Os acusados serão interrogados por último. Sete jurados vão decidir se absolvem ou condenam os réus. Após a votação, a juíza Elia Kinosita Bulman dará a sentença e, no caso de condenação, a pena.
É a segunda vez que Cristilder e Manhanhã vão a júri popular pelos mesmos crimes. Na primeira, entre 2017 e 2018, ambos foram condenados pela chacina a penas, que somadas, chegam a mais de 200 anos.
Mas a defesa recorreu e o Tribunal de Justiça anulou essas condenações em 2019. A alegação foi de que os jurados votaram contra as provas do processo, que já tem mais de 30 mil páginas. Por esse motivo, o TJ determinou que os acusados fossem julgados novamente num único júri.
Outros dois policiais militares acusados da chacina continuam presos após terem sido condenados em 2017 pelos homicídios. As penas deles somam mais de 500 anos (saiba mais abaixo).
Em 2017 parentes das vítimas mortas na chacina protestaram do lado de fora do Fórum Criminal de Osasco, na Grande São Paulo — Foto: Alice Vergueiro/Estadão Conteúdo
O que diz a defesa
O novo júri de Cristilder e Manhanhã já deveria ter ocorrido em novembro de 2020, mas foi adiado pela Justiça porque o advogado deles, João Carlos Campanini, estava com suspeita de Covid-19, que foi descartada depois.
“Já ficou comprovado nos autos que eles não participaram da chacina. As provas documentais, periciais e testemunhais tornam evidente a inocência de ambos”, afirmou Campanini, na semana passada, ao G1, sobre como será a defesa de seus clientes no novo julgamento.
De acordo com o advogado, o fato de Cristilder ter fraturado a perna jogando bola na prisão, no dia 15, na capital, não impedirá que ele compareça à nova audiência.
“Já foi operado. Assim, o júri vai acontecer”, falou Campanini, que até a última atualização desta reportagem aguardava a alta médica de Cristilder na sexta-feira (19). O ex-PM passou por cirurgia no Hospital das Clínicas (HC).
O que diz a acusação
O promotor Marcelo Oliveira acusa Cristilder e Manhanhã pelos crimes de homicídio doloso qualificado (meio cruel e recurso que dificultou a defesa das vítimas), tentativa de homicídio e formação de quadrilha.
“O Ministério Público pedirá a condenação e espera serenamente que eles sejam condenados, como já o foram, quando do primeiro julgamento”, disse Oliveira à reportagem. "Verdadeiro ato terrorista que foi praticado em Osasco e Barueri".
Como foi a chacina
Local da série de ataques em Osasco e Barueri — Foto: Nivaldo Lima/Estadão Conteúdo
Ao todo, 23 pessoas foram mortas a tiros por encapuzados armados em agosto de 2015. Mas somente 17 mortes foram atribuídas ao grupo de extermínio formado por agentes de segurança (saiba mais abaixo).
De acordo com a Promotoria, a chacina foi cometida pelos agentes para vingar os assassinatos do policial militar Admilson Pereira de Oliveira, em 8 de agosto de 2015, em Osasco e do guarda-civil Jeferson Luiz Rodrigues da Silva, no dia 12 de agosto do mesmo ano, em Barueri.
Ainda no dia 8 de agosto de 2015, homens armados mataram seis vítimas em Carapicuíba, Itapevi e Osasco. Mas a Polícia Civil e o Ministério Público não conseguiram identificar a autoria de cinco dessas mortes. Além disso, na morte cometida em Carapicuíba, o único acusado, Cristilder, foi julgado e inocentado pela Justiça em 2020.
A investigação só conseguiu confirmar a autoria das mortes cometidas na chacina do dia 13 de agosto de 2015: sendo 14 delas em Osasco e outras três em Barueri (veja no quadro abaixo).
Quatro agentes, três policiais militares e um guarda-civil municipal, estão presos atualmente por esses 17 assassinatos. Todos os acusados negam os crimes.
Segundo o Ministério Público, Cristilder e Manhanhã se uniram ao grupo de milicianos para cometer os ataques à época que trabalhavam, respectivamente, no 20º Batalhão da PM e na Guarda Civil Municipal de Barueri.
As vítimas foram escolhidas aleatoriamente, segundo a denúncia do MP. Algumas tinham ficha criminal. Estavam em ruas e em bares. Dezesseis eram do sexo masculino e uma do feminino, uma adolescente de 15 anos (veja aqui e abaixo quem são).
Veja acima como foi a chacina que deixou 17 mortos em Osasco e Barueri em 2015 — Foto: G1 Arte
Condenações anteriores
Em 2017, os então policiais militares Fabrício Eleutério, soldado das Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar (Rota), e Thiago Henklain, do 42º BPM, foram condenados a penas de 255 e 247 anos de reclusão em regime fechado, respectivamente. Eles foram acusados de matar 17 pessoas e ferir outras sete no dia 13 de agosto de 2015 em Osasco e Barueri.
Nesse mesmo júri de 2017, Manhanhã também foi julgado e condenado. Recebeu pena de 100 anos e 10 meses por participação em 11 mortes e duas tentativas de assassinatos.
Cristilder foi julgado sozinho em 2018. Havia sido condenado a 119 anos, 4 meses e 4 dias de prisão por 12 das mortes e quatro tentativas de assassinatos.
Apesar de receberem penas que ultrapassam o período de um século de prisão, pela lei brasileira nenhum deles poderá ficar mais de 30 anos preso.
Em 2019, depois da condenação dos seus agentes, a Polícia Militar expulsou os três PMs da corporação. Manhanhã continua na GCM.
Todos os quatro acusados da maior chacina do estado de São Paulo permanecem presos. O G1 não conseguiu localizar as defesas de Eleutério e Henklein para comentarem o assunto até a última atualização desta reportagem.
Parentes do ex-PM e do GCM devem comparecer na frente do fórum de Osasco para pedir a absolvição dos réus. Já os familiares das vítimas da chacina pretendem protestar no local durante os dias do novo julgamento para cobrar as condenações do ex-PM e do GCM. Assim como fizeram nos júris anteriores.
Veja também
21 de fev de 2021 às 21:31
Nenhum comentário:
Postar um comentário