quinta-feira, 15 de outubro de 2020

Privatização deve modernizar Correios e abrir vagas em novas profissões

 

Projeto de lei que libera à equipe econômica vender a estatal para iniciativa privada até 2021 está pronto; quem comprar a companhia deve investir na contratação de trabalhadores da área de tecnologia

Publicado em 14/10/2020 às 16h21
Os Correios são responsáveis pelo envio e receptação de mercadorias. Crédito: Elza Fiúza/Arquivo Agência Brasil
Os Correios são responsáveis pelo envio e receptação de mercadorias. Crédito: Elza Fiúza/Arquivo Agência Brasil

A privatização dos Correios, que já tem projeto de lei pronto para ser enviado ao Congresso, deve causar uma renovação nos serviços, deixando-os mais modernos e abrindo novas oportunidades de trabalho. Os tradicionais carteiros, que hoje executam funções muito além  de entrega de cartas e contas, vão continuar sendo essenciais, principalmente com a expansão das vendas on-line.

Esse mercado de e-commerce, aliás, deve fazer com que a nova dona da companhia invista em profissionais que terão papel fundamental para desenvolver estratégias logísticas, análise de dados e produção de tecnologia, segundo especialistas ouvidos por A Gazeta.

Nesta quarta-feira (14), o ministro das Comunicações, Fábio Faria, entregou o projeto de lei de desestatização dos Correios à Secretaria de Assuntos Jurídicos da Presidência. A proposta, segundo ele, é melhorar a capacidade de entrega da empresa.

O modelo da privatização ainda não está fechado, mas o governo está otimista de que ainda em 2021 fará o leilão. E para facilitar essa operação, a proposta costurada pelo Ministério da Economia, responsável pelos programas de vendas de estatais, colocou no texto artigos que garantem à equipe econômica adotar o melhor formato.

Atualmente, a estatal conta com mais de 130 mil funcionários, o maior contingente entre as estatais. Não se sabe se haverá demissão. Especialistas acreditam que algumas carreiras possam ser extintas para dar lugar a novas funções. Entre as que existem hoje que podem se manter, além dos carteiros, estão operador de triagem e transbordo (logística) e atendente comercial.

O diretor da Academia do Concurso, Paulo Estrella, acredita que estes três cargos não devem ser impactados com a venda da estatal, porque são esses profissionais que fazem atendimento direto ao público e são considerados estratégicos pelo serviço que prestam, o de entrega de correspondências e mercadorias. 

“Não há como alterar toda estrutura organizacional de uma hora para outra. Qualquer tipo de mudança demanda um certo tempo. Acredito que não deve haver demissão em massa, pois quem comprar a estatal vai precisar de pessoas que saibam como ela funciona. Carteiro, atendente e operador fazem contato com o público, são essenciais para o funcionamento desse tipo de serviço. É claro que a diretoria vai ser toda substituída, até por se tratar de funções estratégicas, além da parte administrativa, mas o restante deve se manter”, avalia.

Por conta da tecnologia, Estrella observa que atendente e operador podem até ter o número de profissionais reduzidos, mas não será de forma imediata.

A professora de administração e finanças da Fucape Marcia D'Angelo concorda que as carreiras de operador e carteiro devem permanecer mesmo com a privatização. Entretanto, ela aponta que novos cargos deverão surgir para agilizar e modernizar os serviços dos Correios.

“A empresa vai precisar de pessoas que tenham facilidade de lidar com a tecnologia. Para isso, novas oportunidades poderão surgir em cargos como os cientistas de dados, segurança da informação, analistas em TI, entre outros”, comenta.

Ela alerta que, ao se tornar uma empresa privada, os funcionários passarão a ter menos estabilidade, algo que esses trabalhadores têm mesmo sendo celetistas, já que é bem difícil haver demissões em estatais. O novo modelo, inclusive, fica semelhante ao proposto pela reforma administrativa, em que terá estabilidade apenas quem ocupa cargos típicos de Estado.

“Chegará o momento em que eles vão precisar cumprir metas e apresentar resultados, caso contrário estarão fora. Este deve ser o maior impacto gerado pela venda da estatal”, resume, ao dizer que isso deve mobilizar as pessoas para aumentar a produtividade.

Os especialistas acreditam que a estatal deve lançar um Plano de Demissão Voluntária (PDV) para reduzir o quadro de funcionários antes de ser vendida. “A iniciativa vai servir para enxugar as despesas e tornar a venda mais atrativa. Caberá ao trabalhador decidir se vai querer permanecer”, afirma Estrella.

O último concurso para os Correios foi para o cargo de carteiro e foi realizado em 2011. A remuneração inicial de carteiro é de R$ 2.885,37 e a de operador, R$ 2.348,87, incluindo os benefícios e adicionais. Com a privatização, há a expectativa também de que haja uma maior valorização de profissionais.

PREJUÍZOS E POLÊMICAS

O projeto de lei construído pelo governo e que deve ir para o Parlamento ainda neste mês regulamenta o artigo da Constituição que trata dos serviços postais e que estabelece exclusividade dessa atividade para empresas estatais. A expectativa do ministro da Economia, Paulo Guedes, é tentar aprovar o projeto ainda neste ano, para que em meados de 2021 ocorra o leilão. 

Nos últimos anos, os Correios têm se envolvido em diversas polêmicas, como investigações de corrupção e prejuízos financeiros. Entre 2013 e 2016, a companhia obteve quatro anos seguidos de caixa no vermelho e tem feito PDVs para reduzir as despesas e voltar a ter equilíbrio financeiro e lucro. Em 2019, fechou com Ebitda (resultado antes dos juros) de R$ 640 milhões.

A vantagem da privatização para o governo será reduzir a necessidade de fazer intervenções para socorrer os Correios das crises financeiras, deixando para o poder público o papel de regular e fiscalizar a atividade, assim como ocorreu com os setores elétrico e de telefonia.

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