terça-feira, 2 de julho de 2019

Vigilantes perdem espaço para empresas clandestinas


    
A crise econômica afetou todos os setores da sociedade e a segurança privada não ficou
de fora. Hoje, as empresas têm adotado cortes significativos em suas finanças, com reduções de pessoal e consequentemente empregos, ou seja, precisam fazer mais com menos.
Segundo a VI Edição do Estudo do Setor da Segurança Privada, da Federação Nacional
das Empresas de Segurança e Transporte de Valores (Fenavist), a segurança privada perdeu cerca de 100 mil postos de trabalho nos últimos cinco anos. Essas empresas de segurança privada oferecem serviços na vigilância patrimonial, transporte de valores, escolta armada, segurança pessoal privada e eletrônica.
De acordo com César Urbano, empresário no ramo há 10 anos, a sua empresa CNU Segurança Patrimonial registrou uma queda expressiva no segmento e na contratação dos serviços.
“Tanto nas áreas de postos fixos, que são os vigilantes em empresas e condomínios como
em eventos. Em muitos deles o vigilante físico foi substituído pelo monitoramento eletrônico com câmeras, cerca elétrica e até porteiros eletrônicos. Um serviço mensal tem, no mínimo, quatro funcionários trabalhando 24 horas para cobrir dia e noite, sete dias por semana, durante um mês. O vigilante trabalha em escala de 12 horas por 36 e recebe 30% de periculosidade sobre o salário, mais todos os benefícios da lei. Os custos totais saem em torno de R$ 23 mil”, explica Mirian.
Ela acrescenta que “considero os encargos trabalhistas o fator que mais complica a situação. Sem falar que a Justiça do Trabalho também é extremamente protecionista”.
O serviço de um vigilante é considerado um serviço caro. Sem uma situação econômica
estável, além da inexistência de novos contratos haverá rescisões por causa da crise. Todas as despesas começam a ser cortadas. Segurança gera conforto. Mas, sem dinheiro, ele fica de lado e o patrimônio se torna vulnerável.
De acordo com Mirian Bazote, que é Delegada Regional da Sesvesp (Sindicato das Empresas de Segurança Privada, Segurança Eletrônica e Cursos de Formação do Estado de São Paulo) e empresária na área de segurança há 23 anos, os encargos trabalhistas são também grandes vilões no mercado.
“Para tentar driblar a crise, as empresas tentam adaptações, como a substituição de pessoal por tecnologia. Uma opção mais barata porque se compra equipamento e pagasse
a mensalidade para monitorar o ambiente”, frisa.
Outra alternativa para baixar custos é a contratação de vigilância apenas para a noite. “A empresa se dispõe a ter menos segurança durante o dia porque está claro e, em tese, é mais seguro. Mas sabemos que isso não é uma realidade”, comenta Mirian Bazote.
A procura pela formação de vigilantes, mesmo com a crise acentuada, não caiu em Rio Preto, segundo Solange Medina, gerente financeira da empresa Defense, Centro de Formação e Reciclagem de Vigilantes. “Tivemos uma queda de 10% no número de pessoas que deixaram de fazer a reciclagem, mas a busca pela formação continua acontecendo”, salienta.
Na região de Rio Preto, conforme explica o presidente do Sindicato dos Vigilantes, Sebastião Antonio da Silva existem cerca de 2,5 mil vigilantes e se não existe reciclagem, abre-se espaço para os trabalhos irregulares. “O mais clássico é a empresa que presta serviços de atendimento que assume a segurança sem ter a autorização da Polícia Federal para isso. Temos também aqueles que fornecem esse tipo de segurança com policiais
aposentados ou fazendo bicos.
Ou então recrutam mão de obra barata para fazer esse trabalho sem arma. É o segurança da padaria, do supermercado. Podemos dizer que na nossa região tivemos uma queda de 30% nas contratações”, esclarece Sebastião. Embora não haja pesquisa sobre o assunto, o mercado tem uma estimativa nada animadora quando à existência de empresas clandestinas. Os números apontam que para cada legalizada há quatro empresas clandestinas no estado de São Paulo.
De acordo com dados fornecidos pela Polícia Federal, o total de empresas de segurança
privada especializadas e de orgânicas (aquelas que optam por contratar diretamente os vigilantes em vez de terceirizar a função) regulares, no Brasil é de 2.253. Dessas, 511 estão no Estado de São Paulo e 306 na capital.
Para uma empresa de segurança privada funcionar legalmente há uma longa série de requisitos que vão desde a idoneidade dos sócios diretores (que não podem ter condenação
criminal registrada) e seguro de vida coletivo para conseguir a autorização de funcionamento em nível estadual. Também é necessário o Certificado de Segurança para o qual se considera a instalação física que, obrigatoriamente, deve separar os ambientes administrativos e operacionais onde ficam vigilantes, coletes, armas, cofres, entre outras exigências.
Para o presidente do Sindicato dos Vigilantes, além da crise existe o desvio de função que contribui para a desvalorização da categoria. “Hoje as empresas trocam o vigilante pelo fiscal de piso, pelo controlador de acesso, pessoas sem experiência e sem preparo.
É importante que as pessoas saibam que a cada dois anos obrigatoriamente esse profissional tem que fazer reciclagem com novo exame médico, psicológico e provas incluindo a de tiro. Mas, a partir do momento em que o profissional começar a trabalhar, a empresa é responsável por essa reciclagem. E todos os empregados de empresas de
segurança fazem parte de um cadastro da Polícia Federal que inclui o posto em que trabalha”, pondera.
Por todos esses cuidados se torna importante pesquisar sempre se a empresa de segurança
privada que será contratada está de fato legalizada. As pesquisas podem ser feitas no site da Polícia Federal.

Por Jaqueline BARROS

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