domingo, 20 de janeiro de 2019

O PODER DO CRIME


O PODER DO CRIME
Diretor de Tremembé, que deve ser nomeado pelo governo para coordenar presídios, é investigado por corregedoria
Estado indica coordenador "sob suspeita"

Roosevelt Casio
O diretor da Casa de Custódia de Taubaté, José Ismael Pedrosa, durante entrevista


ROBERTA MEDEIROS
FREE-LANCE PARA A FOLHA VALE

O governo do Estado deve nomear para o cargo de coordenador dos presídios do Vale do Paraíba o diretor da Pemano (Presídio Magalhães Noronha), Carlos Alberto Corade, que é alvo de 19 processos administrativos abertos pela Secretaria de Estado da Administração Penitenciária.
A indicação de Corade para o cargo foi confirmada pelo secretário da Administração Penitenciária, Nagashi Furukawa. O projeto de lei que cria as cinco coordenadorias regionais -entre elas a do Vale- é do governador interino, Geraldo Alckmin (PSDB), e precisa ainda de aprovação da Assembléia Legislativa.
Pelo projeto, a Coespe (Coordenadoria dos Estabelecimentos Penitenciários do Estado) seria extinta para dar lugar às coordenadorias. Os outros quatro nomes não foram divulgados.
A Folha teve acesso ao dossiê que embasa os 19 processos. O documento é analisado pela corregedoria da secretaria de Estado e pelo Ministério Público.
As denúncias partiram de agentes penitenciários do Pemano, que preferiram não se identificar.
O grupo enumera 38 irregularidades em um dossiê que acusa Corade de, entre outros, facilitação de fuga e prevaricação (crime cometido quando um funcionário público retarda ou deixa de cumprir um dever de ofício).
Isso significa que, segundo o grupo, ele teria se omitido diante de supostas irregularidades, postergando a abertura de sindicância para apurá-las.
Ontem, Corade confirmou à Folha que é, de fato, alvo de processos administrativos, mas ressaltou que não há provas que sustentem as acusações.
Segundo ele, as denúncias foram feitas por agentes que estariam insatisfeitos com sua administração porque foram transferidos para outro setor.
"Eles (agentes penitenciários) têm interesse em prejudicar minha imagem porque eu os transferi para um setor que eles não queriam trabalhar (leia texto nesta página).

Assalto
O grupo acusa Corade de ter usado R$ 45 mil acumulados pelos presos por meio de pecúlio (prestação de serviços a empresas) para cobrir o rombo deixado na penitenciária após um assalto ocorrido no Pemano em 99.
Outra acusação contra Corade é permitir a instalação de empresas "fantasmas" no presídio, que contratam os serviços de detentos. O preso Rosveres Celestino, segundo o dossiê, saía para ir a São José dos Campos administrar seu próprio negócio, quando o detento deveria sair para trabalhar para outras empresas.
Outra irregularidade seria o desvio de alimentos, principalmente carne, destinados pelo governo aos presos. Em 2000, o alimento teria sido usado para o churrasco dos funcionários da administração do Pemano.
O dossiê foi encaminhado no ano passado ao Ministério Público, que também apura as denúncias, à Ouvidoria da Secretaria de Estado da Administração Penitenciária e ao próprio Furukawa.
Anteontem, Furukawa afirmou ter conhecimento das acusações contra Corade, mas evitou comentá-las. Disse apenas que Corade pode ser inocente. "Ele não foi condenado. Até que seja julgado, ele é inocente", disse.
Corade já administrou por dois anos a Penitenciária 1, de Campinas, e por três anos o presídio José Parada Neto, de Guarulhos. Atualmente, é diretor do Pemano, cargo que ocupa há sete anos. Seu nome foi indicado para preencher o cargo a partir de um pedido pessoal de Furukawa. Corade disse que ainda está estudante se vai ou não ocupar a coordenadoria.
O Pemano está entre os 74 presídios do Estado cujas direções serão avaliadas pela secretaria.

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