O Governador do Estado de São Paulo, Tarcísio de Freitas
Foto: Isadora de Leão Moreira / Governo do Estado de SP
O Governador do Estado de São Paulo, Tarcísio de Freitas

A inexperiência do governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) na política tem pesado no  relacionamento dele com sua base na Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp). Fontes disseram à coluna que há um forte racha entre os aliados e a falta de ação do Palácio dos Bandeirantes tem enfraquecido o governador.

A prova maior aconteceu nesta quarta-feira (17). Em conversa com a base, Tarcísio pediu a aprovação do projeto que reajusta os salários de policiais civis e militares ainda nesta semana. A pressão da oposição e os problemas com a base governista, porém, obrigaram o adiamento da discussão para a próxima terça-feira (23).

Um dos problemas apontados pelos parlamentares é a falta de articulação política. Segundo as fontes, o líder de governo, o deputado Jorge Wilson (Republicanos), não tem poder de articulação entre os parlamentares, o que atrasa as negociações e deixa o Palácio dos Bandeirantes mais distante da própria base governista.

Wilson foi pego de surpresa quando foi escolhido como líder de Tarcísio. No início da legislatura, havia a possibilidade de se nomear alguém da Igreja Universal, mas o governador bancou Jorge Wilson, que mira a prefeitura de Guarulhos no próximo ano.

Em conversas com assessores e parlamentares, o próprio Tarcísio admitiu haver problemas na articulação política. O chefe do Bandeirantes prometeu cobrar de Wilson e dos vices-líderes, Tomé Abduch (Republicanos) e Guto Zacarias (União Brasil), uma agilidade maior nas conversas com os deputados para evitar derrotas e atrasos em projetos de interesse do governo do estado.

Nos bastidores, há conversas para que Wilson deixe a liderança de governo e foque na sua disputa pela prefeitura da Grande São Paulo no ano que vem. Na costura política, as tratativas preveem que o PL deve assumir o posto.

Quem decide?

A articulação política entre os deputados é apenas a ponta o iceberg de Tarcísio de Freitas com a Alesp. A indefinição sobre quem é o articulador no Palácio dos Bandeirantes também incomoda os parlamentares.

Quando eleito, Tarcísio colocou Gilberto Kassab como secretário de Governo para ser o principal nome da rodada de negociações. Kassab chegou a conversar com deputados e conseguiu articular a maioria na Casa.

Nas últimas semanas, porém, quem tem dado a palavra final é o secretário da Casa Civil, Arthur Lima, braço-direito de Tarcísio. Fontes informaram que Gilberto Kassab chegou a fazer promessas para manter a base sólida, mas todos os pedidos foram barrados por Lima.

O secretário de Governo ainda tem observado de longe a movimentação de Arthur Lima nas negociações com os deputados. O braço-direito de Tarcísio tem se reunido com os parlamentares para debater projetos e mostrar os interesses do governo. Uma fonte informou que as trocas de articulações prejudicam e deixam os deputados perdidos sobre com quem conversar no Bandeirantes.

Acenos ao PL

O racha na base governista na Alesp ainda traz aspectos políticos e de interesse. O PL é a maior bancada da Alesp, com 19 parlamentares, e tem a presidência da Casa com André do Prado, após um acordo com o presidente do partido, Valdemar Costa Neto.

Tarcísio tem visto que a legenda pode manter o bom índice de aprovação de projetos e na articulação política pelo Palácio dos Bandeirantes. A ideia mina o Republicanos, seu próprio partido, tem apenas oito parlamentares.

Em aceno ao PL, Tarcísio de Freitas deve indicar o deputado Carlos Cezar (PL) para assumir uma cadeira no Tribunal de Contas do Estado. A possibilidade gerou um forte incômodo com o Republicanos, que quer a indicação de Gilmaci Santos para o TCE-SP.

Além da vaga, Tarcísio ainda acena a legenda de Jair Bolsonaro na possibilidade de liderança. Caso Jorge Wilson deixe o comando da articulação na Alesp, um deputado do próprio PL deve assumir o posto.

Os acenos incomodam, principalmente, a base ligada à Igreja Universal dentro do Republicanos. A igreja queria a liderança de governo quando Tarcísio de Freitas assumiu o Palácio dos Bandeirantes, mas foi preterida devido ao perfil mais central do governador.

Texto fechado

No campo das articulações políticas, o governo Tarcísio ainda encontra forte resistência pela falta de negociação em projetos importantes, como o reajuste dos policiais. Deputados, tanto de base quanto de oposição, reclamaram do texto fechado, sem brechas para emendas.

Um parlamentar de oposição disse nunca ter visto um governador sem diálogo como Tarcísio. Ele exemplificou os ex-governadores João Doria e Geraldo Alckmin, que davam brechas para alterações nos projetos e um pouco mais de liberdade para a inclusão de emendas.

No caso do reajuste das polícias, Tarcísio foi enfático com sua base e pediu a aprovação do texto integral enviado pelo Palácio dos Bandeirantes. Até uma emenda feita pelo deputado Major Mecca, do PL, deve ficar de fora da proposta.

Em conversa com deputados, Tarcísio prometeu enviar novos projetos para atender as emendas enviadas pelos parlamentares. Entre elas, o aumento do salário de agentes penais e da Fundação Casa, além de calibrar as porcentagens de algumas patentes da Polícia Militar.

Emendas liberadas

Por fim, as emendas liberadas pelo Palácio dos Bandeirantes também é um fator que tem deixado os parlamentares desconfortados. Para formar a base governista, por exemplo, Tarcísio liberou R$ 1 milhão para cada parlamentar distribuir em seus redutos eleitorais.

Entretanto, há informação que um parlamentar negociou cerca de R$ 3 milhões em emendas