terça-feira, 2 de novembro de 2021

O que se sabe e o que falta esclarecer sobre o desabamento da gruta em Altinópolis, SP

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Por EPTV e g1 Ribeirão Preto e Franca

 


Polícia Civil investiga desmoronamento que matou 9 em em gruta de Altinópolis, SP
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Polícia Civil investiga desmoronamento que matou 9 em em gruta de Altinópolis, SP

O desabamento da gruta Duas Bocas, em Altinópolis (SP), matou na madrugada de domingo (31) nove instrutores e bombeiros civis que realizavam um treinamento para técnicas de busca e resgate de pessoas em cavernas.

Todas as vítimas foram veladas e enterradas nesta segunda-feira (1°), sendo seis delas em Batatais (SP) e as outras em Altinópolis, Sales Oliveira (SP) e em Monte Santo de Minas (MG).

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Ao todo, dez pessoas foram soterradas. Entre os retidos, apenas Walace Ricardo da Silva foi resgatado com vida. Ele está na enfermaria da Unidade de Emergência do Hospital das Clínicas (HC-UE), em Ribeirão Preto (SP), e não corre risco de morte.

Já o bombeiro Antônio Marcos Caldas Teixeira, que foi parcialmente soterrado, está internado na Santa Casa de Batatais. O quadro dele é estável.

Outras quatro pessoas sofreram ferimentos leves, chegaram a ser levadas ao hospital e receberam alta após passarem seis horas em observação.

Depois de encerrados os trabalhos de resgate e realizados os enterros, a Polícia Civil deu início a uma investigação para apurar o que causou o acidente e eventuais responsáveis pelas mortes. Inicialmente, o caso foi registrado como homicídio culposo e lesão corporal culposa, quando não há intenção.

Cronologia

Sábado (30)

  • 17h: 28 pessoas incluindo instrutores e bombeiros civis começam treinamento de busca e resgate de vítimas em caverna na Gruta Duas Bocas, em Altinópolis; grupo passaria a noite no local como parte do curso

Domingo (31)

  • 1h: Corpo de Bombeiros é acionado para atender ocorrência de desmoronamento; a primeira informação era de que 15 pessoas estavam soterradas na Gruta Duas Bocas
  • 2h: Resgate tem início com equipes dos bombeiros; chuva intensa dificulta trabalho
  • 9h30: Corpo de Bombeiros atualiza número total de vítimas soterradas para 12
  • 9h45: Primeira vítima soterrada é retirada com vida da caverna; outras cinco pessoas que ficaram parcialmente presas ou tiveram ferimentos leves são socorridas para hospitais de Batatais e Altinópolis
  • 13h: Corpo de Bombeiros localiza a primeira vítima morta; é uma mulher
  • 13h50: equipe formada por socorristas e geólogo enviada pelo governo do estado chega ao local do acidente; posto unificado é montado com membros da PM, Polícia Civil, Instituto de Criminalística, Corpo de Bombeiros, Defesa Civil e da prefeitura
  • 15h: Corpo de Bombeiros atualiza número total de vítimas soterradas para 10
  • 15h20: Segunda vítima soterrada é localizada sem vida pelas equipes; sete continuam desaparecidos
  • 15h57: Terceira vítima soterrada é localizada sem vida pelas equipes; seis continuam desaparecidos
  • 16h: médico do Grupo de Resgate e Atenção às Urgências (GRAU), Leandro Mota, diz que a principal dificuldade no resgate é o risco de novos desabamentos na caverna
  • 17h37: Mais duas mortes são confirmadas pelo Corpo de Bombeiros e o número de vítimas vai a cinco; quatro seguem desaparecidos
  • 18h02: Número de mortos sobe para sete após o resgate de mais duas vítimas; dois seguem desaparecidos
  • 18h44: bombeiros localizam as duas últimas vítimas desaparecidas e encerram as buscas; nove morrem
  • 20h30: as vítimas são identificadas pela Polícia Militar; são cinco homens e quatro mulheres
  • 22h30: Corpo de Bombeiros termina de transportar os últimos quatro corpos para a base de apoio.

Entrada da Gruta Duas Bocas em Altinópolis, SP, onde nove pessoas morreram soterradas — Foto: Murilo Badessa/EPTV

Entrada da Gruta Duas Bocas em Altinópolis, SP, onde nove pessoas morreram soterradas — Foto: Murilo Badessa/EPTV

O que se sabe sobre o caso

  1. Grupo participava de treinamento quando gruta desabou
  2. Chovia na região no momento do acidente
  3. Quem eram os responsáveis pelo treinamento
  4. Atividade de bombeiro civil é regulamentada por lei
  5. Gruta que desabou é composta por arenito

1.Grupo participava de treinamento quando gruta desabou

De acordo com o Corpo de Bombeiros, 28 bombeiros civis e instrutores faziam um treinamento no interior da gruta, quando o teto da caverna desabou, deixando dez pessoas retidas. O curso teve início na tarde de sábado (30) na Gruta Duas Bocas. O local fica perto da Gruta do Itambé, ponto turístico conhecido na região. O grupo passaria a noite no local.

2.Chovia na região no momento do acidente

A chuva volumosa que atingiu a região no sábado (30) é apontada por especialistas como um dos fatores que podem ter contribuído para o desmoronamento da gruta. Ela também dificultou o trabalho de resgate das vítimas.

Diante das circunstâncias, Ivan Campos, presidente do Conselho Nacional de Bombeiros Civis (CNBC), diz que o acidente poderia ter sido evitado.

"Você tem uma situação em que pessoas em treinamento foram expostas a uma situação de risco em uma situação de curso, onde qualquer tipo de treinamento tem que ser feito em um ambiente de risco controlado, em que você pode ter uma simulação, mas que não pode expor os alunos ao risco real."

Bombeiros durante resgate de vítimas na Gruta Duas Bocas, em Altinópolis, SP — Foto: Divulgação/Polícia Militar

Bombeiros durante resgate de vítimas na Gruta Duas Bocas, em Altinópolis, SP — Foto: Divulgação/Polícia Militar

3.Quem eram os responsáveis pelo treinamento

O curso foi organizado por bombeiros civis de Batatais que fazem parte da empresa de treinamentos Real Life, com escritório em Ribeirão Preto (SP).

O dono da empresa Real Life, Sebastião Abreu, disse que treinamentos como esse são comuns na escola. Porém, por causa da chuva, informou que o curso poderia ter sido adiado. Segundo Abreu, os instrutores no local decidiram por dar continuidade à prática.

"Três dias antes, o Celso [instrutor] e a equipe dele foram no local, analisaram toda a cena para realizar o treinamento. No sábado, antes de entrarem na gruta, fizeram de novo a análise de risco da gruta e entraram para dentro. Não estava chovendo, mas, de repente, começou a chover bastante, eles deitaram, onde escutaram um barulho e não viram mais nada."

4.Atividade de bombeiro civil é regulamentada por lei

A lei federal nº 11.901, de janeiro de 2009, trata sobre atividades de bombeiros civis no país.

Segundo o texto, o bombeiro civil exerce atividades exclusivas de prevenção e combate a incêndio. O profissional pode ser contratado diretamente por empresas privadas ou públicas, sociedades de economia mista, ou empresas especializadas em prestação de serviços de prevenção e combate a incêndio.

Ainda segundo a lei, o bombeiro civil pode atuar, em conjunto, com o Corpo de Bombeiros no atendimento de outras ocorrências. No entanto, a coordenação e a direção das ações cabem, exclusivamente, à corporação militar.

Rodrigo Quintino, tenente-coronel da Polícia Militar e coordenador regional da Defesa Civil do estado de São Paulo, evita fazer conclusões precipitadas, mas afirma que é necessário avaliar as autorizações para a realização do treinamento.

"O bombeiro civil, por atribuição, é uma profissão regulamentada a nível nacional, mas são aqueles profissionais treinados e preparados para trabalhar dentro de ambientes mais controlados, como por exemplo, um shopping center, dentro de uma empresa ou até em prédios públicos, mas com atribuição bem limitada e definida por toda legislação, não só federal, mas como aqui no estado de São Paulo também."

5.Gruta que desabou é composta por arenito

De acordo com o geólogo Willian Sallun, a gruta Duas Bocas, local do acidente, é uma formação rochosa de arenito.

“As cavernas na região de Altinópolis são compostas por arenito, que são rochas formadas pela consolidação de areias antigas de milhões de anos atrás. O arenito, por sua própria composição de grãos de areia, com o passar do tempo e o contato com a água, vai deixando de ser rocha e vai voltando a ser areia novamente.”

O que falta esclarecer sobre o caso

  1. Por que a gruta desabou?
  2. Há culpados pelas mortes?

1.Por que a gruta desabou?

Ainda não se sabe o que de fato motivou o desabamento da gruta. Segundo a Secretaria de Segurança Pública (SSP), a equipe do Núcleo do Instituto de Criminalística (IC) de Ribeirão Preto esteve no local no domingo e fez a perícia na entrada da gruta. No entanto, não foi possível acessar o interior por causa da instabilidade do solo e do risco de novo desabamento.

Rodrigo Quintino disse, porém, que a análise feita pela Polícia Técnica Científica na gruta no domingo é suficiente para avaliar o que teria causado o desabamento. Ainda não foi informado o prazo para a conclusão.

2.Há culpados pelas mortes?

Em nota, a Secretaria de Segurança Pública informou que a Polícia Civil de Altinópolis instaurou inquérito para investigar o acidente. Inicialmente, o caso foi registrado como homicídio culposo, quando não há intenção de matar.

Na manhã desta terça-feira (2), os responsáveis pela empresa que realiza os treinamentos devem prestar depoimento em Ribeirão Preto, ao delegado Rodrigo Patto, que ficará à frente das investigações.

Desmoronamento

Arte detalha desmoronamento de gruta em Altinópolis, SP — Foto: Arte/G1

Arte detalha desmoronamento de gruta em Altinópolis, SP — Foto: Arte/G1

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