Marcos Cintra disse que há a sensação de que o contribuinte está sendo deixado de lado num debate que diz respeito a ele
O ex-secretário da Receita Federal, Marcos Cintra, avalia que a aprovação do projeto de reforma do Imposto de Renda pela Câmara dos Deputados na noite desta quarta-feira, 1º, foi uma "traição para com o povo brasileiro". Cintra critica também o atropelo da votação. Os parlamentares aprovaram o projeto às pressas sem que o texto substitutivo do relator, deputado Celso Sabino (PSDB-PA), com as mudanças, tivesse sido conhecido. A votação contou com o apoio dos partidos de oposição, incluindo PT e Psol.
"Essa foi uma das maiores traições que foram feitas ao contribuinte brasileiro, ao povo brasileiro. Aprovar dessa forma um imposto tão importante como esse", disse Cintra ao Estadão. "Aquele que acreditou na promessa do presidente, numa política liberal, literalmente foi traído não só na essência do que foi proposto, mas, sobretudo, na forma como estão sendo feitas: no afogadilho, no escuro, sem um diálogo amplo. Houve mesmo a sensação de que o contribuinte, pagador de imposto, está sendo traído, deixado de lado num debate que diz respeito a ele, e ele não foi chamado a participar disso", afirmou.
O projeto do governo foi enviado no final de junho. A votação se transformou numa questão de honra para o presidente da Câmara, Arthur Lira (Progressistas-AL). Após o recesso parlamentar de julho, foi aprovado requerimento de urgência (o que faz o texto furar a fila das votações e poder ser pautado a qualquer momento). "Não houve oportunidade de discussão", disse o ex-secretário, que integrou o governo Bolsonaro. "Eu nunca vi uma tamanha falta de lealdade e tamanha desfaçatez", atacou.
Para ele, não se trata de aumentar ou diminuir um determinada alíquota, mas aprovar um projeto que faz uma desconstrução muito grave do Imposto de Renda no sistema tributário do País. "O IR que estava entregando razoavelmente bem, sem grandes litígios, mas no afã de aumentar a arrecadação fazem essa falta de lealdade com o povo", criticou
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