terça-feira, 3 de setembro de 2019

Diretora de unidade da Fundação Casa é afastada por suspeita de envolvimento em agressões


Os investigadores receberam denúncias de que cinco internos foram espancados com socos e chutes nas costas em Caraguatatuba (SP). Um deles afirma que Miraci Dourado da Silva participou da ação. O episódio ocorreu em março, e a diretora não comunicou a cúpula da Fundação Casa.
Menores foram agredidos na Fundação Casa de Caraguatatuba. Foto: Reprodução/TV Vanguarda (Crédito: )
Menores foram agredidos na Fundação Casa de Caraguatatuba. Foto: Reprodução/TV Vanguarda
POR CHICO PRADO (chico.prado@cbn.com.br) 

"Foi o último adolescente que nós ouvimos na segunda-feira lá. O adolescente chega, inclusive, a dizer que a Miraci assistia às surras que eram dadas e que, em uma ou outra situação, ela chegou a chutar o adolescente que já estava no chão. Já há uma apuração em curso. Vários agentes de segurança foram ouvidos, (mas) tem um registro superficial, como se fosse uma ocorrência banal." 

O depoimento tomado há uma semana, reproduzido pelo advogado Gilson dos Santos, é de um adolescente da Fundação Casa de Caraguatatuba, no litoral de São Paulo. O advogado é presidente do Centro de Defesa dos Direitos da Criança e do Adolescente de São José dos Campos e região. 

Ele faz parte do grupo que acompanha as investigações sobre um caso de agressão a pelo menos cinco internos da unidade, denunciado por familiares dos menores e por funcionários da própria instituição.

A diretora da unidade de Caraguatatuba, Miraci Dourado da Silva, foi afastada da função na última quinta-feira por não ter comunicado a ocorrência do dia 27 de março à direção da Fundação Casa. 

Solange Massari, secretária-executiva do Conselho Estadual de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana, disse que a situação na unidade está fora de controle e que teme por algo pior.

"É um barril de pólvora. A qualquer momento Caraguá vai explodir e aí nós vamos ter um problema seríssimo lá de rebelião, nós vamos ter um problema muito grave se algo não for feito. Adolescentes (ficaram) com marcas de sapato, de botina de funcionário nas costas. Mostra o tamanho da violência."

O secretário estadual da Justiça e presidente da Fundação Casa não soube dizer se a diretora de Caraguatatuba está diretamente envolvida no caso.

Paulo Dimas Mascaretti confirmou, no entanto, que Miraci Dourado da Silva deixou de comunicar as denúncias de agressão contra internos, que só passaram a ser investigadas cinco meses depois.

"Esse é mais um episódio que nós estamos apurando, que gerou o afastamento, desligamento da condição de diretora da nossa funcionária que lá estava, justamente (por causa) da falta de comunicação correta daquilo que ocorreu no dia 27 de março."

Paulo Dimas Mascaretti evitou os detalhes, mas admitiu uma eventual "violação dos deveres."

"Por conta de problemas internos que nós identificamos, né, que representariam eventual violação dos deveres do diretor. Então, houve a substituição da diretora que estava lá respondendo pela unidade e também nós substituímos a diretora regional. Isso pra que a gente possa ter um outro olhar lá pra região. E quando a gente apura algum desvio, identifica que o clima interno da unidade não é bom, a gente faz as intervenções." 

Marli Moura é o nome da diretora regional da Fundação Casa no Vale do Paraiba e Litoral, também afastada de suas funções.

A ex-diretora da unidade de Caraguatatuba, Miraci Dourado da Silva, não foi localizada para comentar as acusações feitas contra ela. O número de servidores envolvidos nas supostas agressões aos adolescentes é incerto, mas pode passar de dez funcionários.

Na sexta-feira, uma reportagem da CBN mostrou que um interno de 16 anos perdeu o baço e parte do pâncreas, após ser espancado por funcionários da Fundação Casa de São José dos Campos, no interior paulista.

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