quinta-feira, 9 de fevereiro de 2023

Golpe do Pix tem nova modalidade com uso de informações sigilosas



Clientes têm usado as redes so-

ciais para denunciar uma nova 

forma de golpe via Pix. Usan-

do informações resguardadas 

pelo sigilo bancário, como mo-

vimentações da conta corren-

te, os bandidos fingem ser fun-

cionários das instituições fi-

nanceiras, conquistam a con-

fiança da vítima e tentam apli-

car o golpe, pedindo transfe-

rências e depósitos.

A jornalista Marcella Cento-

fanti, de 44 anos, foi alvo dos 

criminosos na terça-feira. Ela 

recebeu uma ligação telefôni-

ca de um suposto funcionário 

do Banco Itaú informando 

que sua conta havia sido inva-

dida por criminosos e, por me-

dida de segurança, bloqueada.

Marcella acreditou que o 

contato era verdadeiro por 

causa das informações cita-

das. “Ele citou o que saiu e o 

que entrou na minha conta 

nos últimos dias, inclusive 

transações via Pix, com no-

mes e valores, além de débitos 

automáticos precisos até nos 

centavos”, conta a moradora 

de Ilhabela, litoral paulista.

Com a orientação do bandi-

do, Marcella criou uma nova 

senha pelo aplicativo do ban-

co. O atendimento foi articula-

do e atencioso, sem que o in-

terlocutor pedisse os dados 

pessoais. Pelo contrário, orien-

tou que ela não clicasse em ne-

nhum link nem compartilhas-

se sua senha. Até a música de 

espera era a mesma usada pelo 

banco. Desconfiada, ela acio-

nou a gerente de sua agência e 

seu namorado.

O golpe entrou na fase final 

quando o criminoso informou 

que a conta de Marcella havia 

sido acessada por dois apare-

lhos iPhone, de Santo André, 

no ABC paulista, com três de-

pósitos entre R$ 9 mil e R$ 10 

mil cada. Ele citou os nomes e 

os bancos dos endereçados. Já 

desesperada, Marcela negou 

as operações. O criminoso pe-

diu que ela refizesse as transfe-

rências, com os mesmos valo-

res, para as mesmas contas. Se-

gundo ele, o banco reconhece-

ria a duplicidade e cancelaria a 

operação. Marcella teve certe-

za que era um golpe.

Depois que ela desligou, 

houve nova tentativa de frau-

de. Uma mulher, usando o no-

me e sobrenome da gerente de 

sua agência, disse que estava 

ligando a pedido do departa-

mento de segurança do banco. 

“Ainda estou abalada. A gente 

perde a confiança. Consulto 

minha conta a todo momento 

para conferir se está tudo 

bem. Vou pessoalmente na 

agência e pretendo registrar 

um boletim de ocorrência.”

Marcella diz que recebeu 

uma mensagem em que o Itaú 

afirma que “em regra, informa-

ções sobre a conta bancária ou 

outras operações são resguar-

dadas pelo sigilo bancário e 

apenas podem ser prestadas 

ao respectivo titular (ou ao seu 

representante legal/procurador 

com poderes específicos ou tercei-

ro mediante autorização expres-

sa)”. Em outro trecho, a insti-

tuição informa que “acionou 

os órgãos competentes para 

análise e avaliação”.

APLICATIVO. Gladis Maria de 

Barcellos Almeida, professora 

de Linguística e Língua Portu-

guesa da Universidade Fede-

ral de São Carlos (UFSCar), vi-

veu situação semelhante com 

o Banco do Brasil no mês pas-

sado. Ela conta que, durante o 

golpe, os criminosos pediram 

que ela instalasse um aplicati-

vo que supostamente corrigi-

ria as tentativas de fraude em 

sua conta. O aplicativo era, na 

verdade, o acesso remoto ao 

seu celular. “Felizmente, eu 

percebi que aquilo estava erra-

do e desliguei o celular. Esca-

pei por pouco”, conta.

A advogada Vanessa Souza, 

de 45 anos, por sua vez, não 

conseguiu se safar a tempo. 

Diante de um contato exata-

mente com o mesmo modus 

operandi – atendimento cor-

tês com a descrição dos últi-

mos movimentos do extrato 

bancário –, a correntista do 

Itaú fez duas operações de 

Transferência Eletrônica Dis-

ponível (TED) que totaliza-

ram R$ 20 mil.

O episódio ocorreu em agos-

to do ano passado, mas ela ain-

da aguarda o ressarcimento 

bancário. “Ele (o criminoso)

leu meu extrato. Eu senti hu-

milhada, pois fui passada para 

trás”, diz.

OUTROS CASOS. O relato de 

Marcella viralizou nas redes 

sociais. Até a tarde de ontem 

foram mais de 1,8 mil comentá-

rios e 26 mil curtidas, muitos 

deles de pessoas que viveram 

situações parecidas.

“Aconteceu igual comigo, 

pelo Santander. Ele me ligou, 

tinha acesso a tudo da minha 

conta, sabia até o valor do meu 

salário. O telefone era o mes-

mo da agência da minha cida-

de. No fim, ele tentou me dar 

um golpe de R$ 215 mil. Minha 

sorte era que eu tinha R$ 100 

na conta”, relatou o designer 

gráfico Ivan Soratto.

Desde que o Pix, solução de 

pagamento instantâneo do 

Banco Central, foi implemen-

tado em novembro de 2020, 

ele passou a facilitar uma série 

de transferências bancárias 

no País. Por outro lado, a nova 

ferramenta provocou o au-

mento das ações criminosas.

A maioria “esmagadora” 

das invasões a contas bancá-

rias são por meio de phishing, 

técnica de engenharia que con-

siste no envio de armadilhas – 

normalmente mensagens 

com links maliciosos – aos al-

vos. Isso é o que diz o delega-

do Luiz Alberto Guerra, titu-

lar da 2.ª Delegacia de Investi-

gações Gerais (DIG) do Depar-

tamento Estadual de Investi-

gações Criminais (Deic) da Po-

lícia Civil.

O phishing, segundo ele, 

normalmente é uma estraté-

gia adotada antes de as quadri-

lhas entrarem em contato 

com as vítimas em potencial 

para tentar executar o golpe. 

“Pode ser um link enviado por 

e-mail ou mesmo um SMS, 

que vai redirecionar a pessoa 

para uma página falsa do ban-

co onde são captados de agên-

cia, conta e senha pelos crimi-

nosos”, afirma o delegado.

Outras formas de se obter 

os dados das vítimas são por 

meio de ligações telefônicas – 

em que criminosos normal-

mente se passam por funcio-

nários de banco e solicitam se-

nhas. l


Golpe do Pix tem nova modalidade 

com uso de informações sigilosas

Bancos investem em TI e alertam para fraudes 


“Ele citou o que saiu e o 

que entrou na minha 

conta nos últimos dias, 

inclusive transações via 

Pix, com nomes e 

valores, além de débitos 

automáticos precisos 

até nos centavos”

Marcella Centofanti

jornalista

Clientes denunciam 

que criminosos fazem 

abordagens utilizando 

dados protegidos,

como movimentações 

do extrato bancário

Crime

A Federação Brasileira de Ban-

cos (Febraban) afirma que os 

bancos “investem constante-

mente e de maneira massiva 

em campanhas e ações de cons-

cientização em seus canais de 

comunicação com os clientes 

para orientar a população a se 

prevenir de fraudes. Além de 

campanhas, os bancos inves-

tem cerca de R$ 3 bilhões por 

ano em sistemas de tecnologia 

da informação para seguran-

ça”. O Itaú Unibanco afirma 

que “reforça as orientações pa-

ra que os clientes se atentem a 

tentativas de golpes envolven-

do abordagens de falsas cen-

trais de segurança ou falsos 

funcionários da instituição”. 

Neste sentido, “esclarece que 

ligações recebidas pelos clien-

tes solicitando qualquer docu-

mento, senhas, dados cadas-

trais e financeiros, estornos ou 

transferências não são práti-

cas da instituição”. Já o Banco 

do Brasil informa que os ban-

cos podem ligar para o cliente, 

“mas nunca o orientarão a rea-

lizar qualquer procedimento” 

nem pedem digitação de se-

nhas. E o Banco Central ressal-

ta que operações do Pix são ras-

treáveis, o que permite identifi-

car contas recebedoras. l

QUINTA-FEIRA, 9 DE FEVEREIRO DE 2023 METRÓPOLE A15 O ESTADO DE S. PAULO

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