
ASERGHC (*)
A terceirização costuma ser apresentada como solução rápida para problemas antigos. A promessa é sempre a mesma: contratar uma empresa “resolve”. Essa narrativa tem sido usada pela direção do GHC como justificativa recorrente para mudanças estruturais, mas quem vive o dia a dia do Grupo Hospitalar Conceição sabe que essa conta não fecha. Na prática, a terceirização tem significado precarização do trabalho, perda de qualidade nos serviços e desperdício de recursos públicos.
Não se trata de uma falha pontual de gestão, mas de uma orientação política conhecida: o receituário neoliberal aplicado à saúde pública. Um modelo que aposta na terceirização, na precarização do trabalho e no enfraquecimento da organização coletiva como forma de “modernização”, mesmo quando isso compromete o serviço e frustra expectativas de trabalhadores e usuários do SUS.
Hoje, áreas essenciais do GHC sentem esse processo de formas diferentes, mas conectadas. Na Manutenção, a terceirização já é realidade há anos. Existem contratos permanentes para serviços de refrigeração, manutenção de elevadores, obras e reformas. Nos últimos meses, esse processo avançou ainda mais, com um aditivo contratual que autoriza a empresa responsável por obras e reformas a realizar praticamente qualquer serviço de manutenção na estrutura do hospital, inclusive elétrica. Isso representa uma ampliação significativa da terceirização sobre um setor estratégico para o funcionamento hospitalar.
A manutenção do GHC conta com profissionais qualificados e comprometidos, que prestam um serviço reconhecido pela própria instituição. Diante disso, é legítimo questionar: por que terceirizar um setor que entrega resultados com eficiência e qualidade? A resposta não está na capacidade técnica dos trabalhadores, mas em uma opção de gestão.
Na Nutrição, o cenário é outro, mas não menos preocupante. Há um sucateamento evidente das áreas de produção em todo o GHC. Estrutura precária, equipamentos antigos e falta de investimento criam um cenário que levanta uma preocupação legítima entre os trabalhadores: a de que esse abandono não seja sem querer, mas parte de uma estratégia para justificar futuras terceirizações, repetindo um roteiro já conhecido em outros setores.
O mais grave é que isso não acontece por falta de alternativa. Para vários setores, existem concursos realizados, com trabalhadores aprovados aguardando nomeação, enquanto a gestão opta por ampliar contratos terceirizados. É uma escolha política: terceirizar em vez de chamar quem passou em concurso público. Essa opção, inclusive, costuma ser amparada por uma narrativa alarmista sobre um suposto passivo trabalhista bilionário, atribuído de forma genérica aos trabalhadores, quando muitas dessas ações decorrem de gestões ruins, desconhecimento da legislação e decisões administrativas equivocadas.
Essa lógica precisa ser questionada. Terceirizar não sai mais barato, tampouco garante eficiência. Pelo contrário: impede planejamento de longo prazo e enfraquece o próprio funcionamento do hospital. No médio e longo prazo, a terceirização tende a gerar custos ainda maiores, seja por retrabalho, contratos frágeis, menor controle sobre normas técnicas ou pela fragmentação das equipes.
A terceirização cria um ciclo vicioso. Os serviços não se consolidam, trabalhadores adoecem e o hospital vive apagando incêndios. Além disso, a terceirização da manutenção compromete o controle sobre o cumprimento de normas, aumenta riscos à segurança de pacientes e trabalhadores e fragiliza um serviço essencial ao cuidado hospitalar. Enquanto isso, seguem concursos sem chamadas e contratos precários sendo ampliados.
Defender a desterceirização é defender um SUS forte, com trabalhadores valorizados e serviços atendendo bem a população. Para isso, precisamos que áreas fundamentais, como a Manutenção, tenham trabalhadores realmente valorizados, com vínculo, estabilidade e condições adequadas para desempenhar seu trabalho. Isso passa, necessariamente, pela reposição das vagas abertas com a saída de profissionais via PDV e pelo fortalecimento da gestão pública direta.
O GHC é patrimônio público. Funciona porque trabalhadores e trabalhadoras sustentam o atendimento todos os dias, mesmo diante de dificuldades. Apostar novamente na terceirização é insistir em um modelo que já mostrou seus fracassos. Serviços essenciais, como a manutenção hospitalar, devem permanecer sob gestão direta e pública para garantir qualidade e segurança ao atendimento do SUS.
(*) Associação dos Servidores do Grupo Hospitalar Conceição
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