terça-feira, 5 de julho de 2022

Reprovada por já ter usado drogas, PM que matou a irmã só ingressou na corporação após entrar na Justiça

 

Reprovada por já ter usado drogas, PM que matou a irmã só ingressou na corporação após entrar na JustiçaA policial Rhaillayne Oliveira de Mello fazia parte do 7ºBPM Reprodução


Documento interno da corporação indica que Rhaillayne informou que 'já fez uso de substância tóxica por três vezes em festas rave', situações nas quais teria ingerido 'maconha, LSD, ecstasy e MD'

Por Luã Marinatto — Rio de Janeiro

 


Presa em flagrante no último sábado pela morte da irmã, a soldado Rhaillayne Oliveira de Mello só conseguiu ingressar na Polícia Militar por força de decisões judiciais. Após prestar concurso em 2014, a aspirante a PM acabou reprovada na etapa de Exame Social e Documental, também chamada de "pesquisa social", quando aspectos da vida pregressa do candidato são avaliados. Um documento de 2018 do Centro de Recrutamento e Seleção de Praças obtido pelo GLOBO indica que a própria Rhaillayne informou que "já fez uso de substância tóxica por três vezes em festas rave", situações nas quais teria ingerido "maconha, LSD, ecstasy e MD". Na ocasião, os responsáveis pela análise também citaram outros motivos para que a candidata não fosse aceita, como desavenças públicas que ela teve com o pai "pelo fato de o mesmo não concordar com as coisas erradas que fazia" e o "relacionamento de amizade" com um homem suspeito de crimes, pai do filho de Rhaillayne.

Após ser impedida de integrar as fileiras da corporação, Rhaillayne entrou com uma ação na Justiça contra a decisão. "Em relação à alegação de uso de substâncias entorpecentes, a autora agiu de forma totalmente transparente e honesta ao responder a pergunta realizada pelo pesquisador, momento em que afirmou ter feito uso de substâncias entorpecentes POR APENAS TRÊS VEZES NO ANO DE 2013", pondera a petição apresentada pelos advogados da candidata. "Tal posicionamento de expor o ocorrido anteriormente demostra o seu caráter, o sentimento de agir com a verdade e retidão com o que preceitua, acreditando-se que não estaria devendo nada à Justiça ou a qualquer outro órgão", prossegue a defesa.

PM acusada de matar a própria irmã: veja imagens do caso

A policial militar Rhaillayne Oliveira de Mello, do 7º BPM, acusada de homicídio — Foto: ReproduçãoRhaillayne fez vários disparos contra a irmã, Rhayna Mello, 23 anos, que morreu na hora — Foto: Reprodução
6 fotos
Irmã da PM, Rhayna tinha 23 anos, e deixa um filho de 3 — Foto: Reprodução
Rhaillayne Oliveira de Mello fez vários disparos com arma de fogo contra a irmã durante discussão

Para rebater as menções aos desentendimentos com o pai — que, segundo o texto, teriam acontecido "principalmente quando se diz respeito ao concurso em questão, eis que este não aceita a opção dela em seguir a carreira militar" —, Rhaillayne incluiu na ação imagens em que aparece abraçada com ele. "Ainda que existam diferenças e desavenças entre ambos, a convivência é harmônica e amorosa, pois existe respeito entre pai e filha, conforme se comprova das fotos anexas", pontuam os advogados ao argumentar. Já sobre a convivência com o ex-companheiro, a candidata frisou que os dois mantiveram um namoro por três anos, mas que "a relação era precária e inconstante, sem planejamentos futuros, e ambos residiam em endereços diversos". A petição alega ainda que os dois só mantêm contato por conta do filho e que o ex "só veio a se envolver com ilícitos após o término do relacionamento de ambos, no ano de 2013".

Em 25 de setembro de 2018, por intermédio da Procuradoria-Geral do Estado, a Polícia Militar contra-atacou. "Ao se inscrever no referido certame, a autora tomou ciência de todas as exigências constantes no edital, inclusive da etapa do Exame Social, e concordou com as mesmas, não cabendo neste momento insurgir-se contra regra com a qual havia anuído previamente", diz o documento apresentado pelo órgão. "Deve-se destacar, ainda, que em momento algum o autor nega as condutas que lhe foram imputadas, mas apenas afirma que a conduta praticada pela administração do certame violou a razoabilidade", continua o texto. "Se há dúvida acerca do comportamento, dos valores, da ética de determinado candidato, não se pode permitir que ele receba farda, arma, distintivo e poder", acrescenta a PGE em nome da PM. Rhaillayne, porém, obteve sucessivas vitórias na Justiça, em diferentes instâncias, até que a corporação acabou obrigada a aceitá-la.

Irmã da PM, Rhayna tinha 23 anos, e deixa um filho de 3 — Foto: Reprodução
Irmã da PM, Rhayna tinha 23 anos, e deixa um filho de 3 — Foto: Reprodução

Esse, entretanto, não foi o único embate jurídico entre as duas partes. Readmitida no processo seletivo, Rhaillayne também terminou reprovada nos testes físicos, mas voltou a se insurgir contra o revés. Desta vez, ela alegou que o próprio curso de formação ocasionou problemas de saúde que afetaram o desempenho na prova. A nova ação tramitou até o segundo semestre do ano passado, quando acabou arquivada por desistência da própria autora, que assumia, então, o posto de soldado na corporação. Procurada, a Polícia Militar não comentou os imbróglios envolvendo a praça.

Atualmente, Rhaillayne estava lotada no 7º BPM (São Gonçalo), cidade na Região Metropolitana do Rio onde mora e na qual aconteceu o crime. A investigação da Polícia Civil apontou que a policial abriu fogo contra a própria irmã, a comerciante Rhayna Oliveira de Mello, depois que as duas tiveram uma discussão em um posto de gasolina no bairro Camarão. Após o homicídio, Rhaillayne foi presa em flagrante pelo marido, o também PM Leonardo de Paiva Barbosa.

Ao prestar depoimento na Delegacia de Homicídios de Niterói, São Gonçalo e Itaboraí (DHNSGI), responsável pelas investigações, Leonardo contou que a esposa vinha se mostrando nervosa e "claramente sem paciência". Ele disse aos agentes que Rhaillayne havia saído na noite de sexta-feira, dia 1º, para uma festa de família. De madrugada, horas antes do crime, ela voltou em casa, supostamente para pegar a pistola que usou para matar a irmã.

Quarenta e oito minutos depois, o soldado afirmou ter recebido um telefonema da mãe de Rhaillayne dizendo que a PM, muito nervosa, havia discutido com ela e com outra irmã. Leonardo se levantou para procurar a arma da esposa, uma Glock calibre ponto 40 que pertence à PM e estava acautelada com Rhaillayne, mas não a encontrou.

Às 4h30 de sábado, cerca de três horas e meia antes do crime, Leonardo disse ter saído à procura da mulher, circulando por bares perto da casa do casal. O policial foi informado por Rhayna que a irmã estava num bar. Lá, o soldado encontrou a esposa bebendo sozinha, mas aparentemente calma. Rhaillayne, segundo Leonardo, não quis voltar para casa. O PM disse ter notado que a policial estava armada.

Nesta segunda-feira, a PM confirmou ter apreendido a carteira funcional de Rhaillayne. Com o documento retido pela Corregedoria da corporação, o porte de arma da policial fica temporariamente suspenso até pelo menos a conclusão da investigação ou até uma decisão contrária da Justiça. O crime aconteceu após uma discussão entre as duas mulheres em um posto de gasolina no bairro Camarão, em São Gonçalo, na Região Metropolitana do Rio.


Fundação CASA e Prefeitura de Taubaté assinam acordo para programa de Pós-medidas

 


Agora são 23 municípios do Estado que terão política pública para egressos da internação, semiliberdade e internação provisória

(Foto: Divulgação/Fundação Casa/SP)

A Fundação CASA e a Prefeitura de Taubaté assinaram na sexta-feira (1º) um acordo de cooperação para implementar o programa de Pós-medidas na cidade.

Agora, são 23 municípios em todo o Estado de São Paulo que formalizaram a implementação da política pública destinada a adolescentes e jovens egressos da internação, semiliberdade e internação provisória.

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O chefe de Gabinete da Fundação CASA, Yuri Horalek e Domingues, e a secretária Municipal de Desenvolvimento e Inclusão Social, Márcia Ulliani, assinaram o documento durante solenidade na seção da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB-SP).

Uma das metas do Programa de Pós-medidas é se tornar uma ponte com o mercado de trabalho a fim de evitar a reincidência em atos infracionais.

O evento também se destinou a apresentar as boas práticas que o CASA Taubaté desenvolve com os adolescentes da internação. Para exemplificar, um grupo de oito jovens atendidos apresentou uma coreografia de dança de rua denominada “Saci”, em homenagem ao escritor Monteiro Lobato. A dança de rua é uma das oficinas culturais realizadas no CASA Taubaté.

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Para discutir o trabalho realizado na execução da medida socioeducativa em meio fechado no município, ainda participaram da mesa o promotor de Justiça da Infância e Juventude, Manoel Monteiro, o defensor público Fabrício Pereira Quintanilha e a diretora da Divisão Regional Vale do Paraíba (DRVP), Marcela Rehder. A DRVP é responsável pela supervisão dos centros socioeducativos do Vale do Paraíba e do Alto Tietê.

“O programa de Pós-medidas é uma união entre Prefeitura, Ministério Público, Poder Judiciário e Defensoria, como parte do sistema socioeducativo, para que esses adolescentes tenham novas oportunidades após cumprirem sua medida socioeducativa”, explica do secretário da Justiça e Cidadania e presidente da Fundação CASA, Fernando José da Costa.

Iniciativa inédita em âmbito nacional, o programa Pós-Medidas foi instituído em 2021 pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ). A política pública utiliza ações de suporte aos adolescentes e jovens nas áreas de assistência social, educação, saúde, capacitação e empregabilidade.

As tentativas de inserção no mercado de trabalho ocorrerão durante os primeiros seis meses de acompanhamento, após o adolescente cumprir a medida socioeducativa ou passar pelo programa de atendimento na Fundação CASA.

O prazo de seis meses foi estabelecido com base em levantamento da Fundação CASA sobre a reincidência dos jovens atendidos na Instituição.

O estudo constatou que, entre os adolescentes que retornaram ao sistema socioeducativo por cometimento de novo ato infracional, metade praticou o novo ato nos primeiros seis meses após o cumprimento da medida socioeducativa.

segunda-feira, 4 de julho de 2022

Jovem é internado na Fundação Casa por matar ex-namorada

 

Momento em que Juliana foi assassinada em Pinda; responsável por disparo é julgado e destinado a Fundação Casa (Foto: Reprodução)

Da redação
Pindamonhangaba

Com 17 anos na época do crime, um jovem de 18 anos foi internado pela Justiça na Fundação Casa no último fim de semana pelo assassinato da ex-namorada, cometido no fim de maio em Pindamonhangaba. Em depoimento, o infrator revelou que matou a vítima por não aceitar o fim do relacionamento.

Proferida na última sexta-feira (1), a decisão judicial estabeleceu que o jovem poderá ficar até três anos internado na instituição por ato infracional análogo ao feminicídio. O sentenciado confessou à Justiça ser o assassino de Juliana Fernandes Cândido, que tinha 19 anos, executada a tiros em 20 de maio na saída do Colégio Tableau, no bairro Maria Áurea, ao lado do carro do pai, que a aguardava.

Apesar de ter 18 anos no momento, o ex-namorado foi julgado como menor de idade, pois cometeu o crime cinco dias antes de completar a maioridade

domingo, 3 de julho de 2022

A MORTE DO SISTEMA SÓCIO EDUCATIVO DE SÃO PAULO E DOS SEUS AGENTES




     O Sistema Socioeducativo do Estado de São caminha em sentido contrário em relação aos outros Estados como por exemplo Minas Gerais, Mato Grosso, Distrito Federal, Tocantins, Rio de Janeiro, Goiás, entre outros, onde seus Agentes tem treinamentos especializados, são uniformizados, tem funcionais padronizadas, entre outras coisas.

     Alguns fazem até Fiscalização de Trânsito juntos com a Polícia Penal e outros órgãos de segurança, além do salário que está em outro nível. 

     Tem viaturas com seus devidos brasões e nomenclaturas reconhecida, fazem escoltas de internos, deixando assim a Policia Civil e Militar disponíveis para servir a população.

     Eles tem Grupos de Intervenções Especializados e aqui onde fomos pioneiros nesta estratégia, tivemos a extinção dos Grupos. 

Em contrapartida, o Estado que mais arrecada recursos financeiros, tem a remuneração vergonhosa.

     Temos que valorizar o Agente de SP e a hora é agora.

     Seria interessante entender junto aos candidatos a Governador de SP, Deputados Federais e Estaduais por SP, quais são as propostas de cada um, relacionadas ao Sistema Socioeducativo de SP. 

     Independentemente de você ser de direita ou esquerda, seu envolvimento neste aspecto é fundamental, pois trata-se do futuro da nossa categoria. 

     Representamos uma quantidade expressiva de votos e isto nos dá forças para negociarmos. 

     Você servidor, é o responsável por pensar na sua categoria assim como fazem todas as outras categorias que se unem para alcançar objetivos.

     Nós temos que pensar em nossas famílias e nos benefícios que merecemos ter, pois os candidatos só pensam no interesse deles e nos números maquiados para mostrarem à Sociedade conquistas que eles nunca tiveram. 

     Então que seu voto seja direcionado para aquele candidato que favorecer a categoria do Socioeducativo do Estado de SP, para aqueles que nos enxergam como Segurança Pública e não como professores. Para esta função já existe a Pedagogia.

     O Nosso papel é outro e muito mais abrangente e o texto abaixo, autor desconhecido, dá uma ideia da amplitude da nossa função:


Um desabafo: SER Agente de segurança Socioeducativo...É LOUCO!!!!

SER Agente de segurança .... É louco! ... exercemos uma função de alto risco. Ninguém entende por que somos multiprofissionais, fazemos de tudo um pouco, seja na parte da segurança, da negociação da resolução de conflitos, seja na psicologia, na saúde, na educação e na disciplina. Talvez, por ver tanta coisa errada que só a gente vê no dia a dia, nos torne assim. Ninguém entende por que deixamos de andar em barzinho praças clubes porque nunca ficamos de costas pra rua... Ninguém entende quando saímos das unidades quando estamos no carro olhando pros retrovisores e qualquer movimento brusco que venha a nossa frente. Se alguém nos assaltar e nos conhece como agente de segurança socioeducativo, nossa, já era companheiros, xeque-mate.... Mais um agente de segurança morto! Ninguém entende o porquê no final do ano, feriados e dias festivos, estão todos na praia curtindo, e nós estamos trabalhando. Acordamos cedo companheiros .... Só quem convive com os internos sabe bem o quando exercemos uma função de alto risco, tipo cão de guerra. Enquanto uns vão pro bar depois da faculdade, nós só queremos voltar pra casa e ter a certeza de reencontrar nossos pais, filhos, mulher... Afinal, nesse caminho de meia hora até em casa, tudo pode acontecer, e a chegada não ocorrer como deveria... E assim com uma triste notícia. Ganhamos mal! Não temos estrutura, não usamos equipamentos individual, não podemos usar arma de fogo dentro do serviço, não temos apoio do governo, raramente temos aumento, não ganhamos um salário digno com o grau de risco de vida que enfrentamos dentro das unidades, 5% que é nosso por direito anualmente não foi nos repassados, somos esquecidos. Arriscamos a vida todo plantão dentro dessas unidades toda vez que entramos de serviço. Faça sol, chuva, frio, calor, lá estamos nós... Olhar vidrado aos internos. É louco meu senhores, em fração de segundos. Entramos em blocos, pra liberar os internos de seus dormitórios pro lazer no pátio do bloco sem qualquer segurança, porque não usamos qualquer tipo de equipamentos de segurança individual. Nem a polícia militar entra, só os agentes. Ninguém entra! Há quem diga que somos loucos, mas cada um com sua loucura. Treinamento, tivemos pra qualquer eventualidade que venha acontecer dentro dos blocos pra conter rebeliões constante, conflitos e motins na unidade, mas estamos sempre prontos para qualquer situação, a final estamos trabalhando no barril de pólvora que a qualquer momento pode explodir, sem condições de trabalho, a morte é nossa companheira diária, não sabemos quando ela sairá do nosso lado. Exercemos uma função de alto risco, não reclamamos das ordens... pressão de todo lado.

Isso é ser agente de segurança socioeducativo em SP.

Fazemos o mesmo que o policial penal, sem reconhecimento.


     Dada a importância, por exemplo, Minas Gerais, reconheceu em sua Constituição Estadual o Sistema Socioeducativo como Segurança Pública e seus agentes estão no mesmo patamar que os agentes da Policia Civil, Policia Militar, Corpo de Bombeiros e Policial Penal.

     Já em São Paulo, a função está negligenciada, pouco valorizada, sub aproveitada e desrespeitada, pois os Agentes correm risco de vida, sendo diariamente agredidos, ameaçados, mortos nas ruas e dentro das unidades socioeducativas.

     A Fundação é celetista, mas deveria ser estatutária. 

     Não temos o porte de arma funcional e para tirar o federal, temos que pagar um valor que nosso salário não comporta.

     Não podemos nem trabalhar com o brasão do Estado, entre outras incoerências. 

     Foi tirado o direito de sermos chamados de Agente de Segurança Socioeducativo, sendo que fazemos o mesmo trabalho do policial penal e nossos internos muitas vezes são chefes de quadrilha e soldados do crime organizado como já foi mostrado em várias reportagens. 

     Muitos são responsáveis por tribunais do crime, só pelo fato de serem menores e sabe-se que cumprirão medidas socioeducativas em tempo não superior a três anos.

     São indivíduos de grande periculosidade e esta característica acentua-se em casos de rebeliões, tumultos ou motins, quando se tornam agressivos e violentos - homicidas para ser mais claro.

     Em SP, por exemplo, a grande maioria dos chefes da maior facção criminosa passaram pela (Febem) atual Fundação Casa. 

     Como consequência, a auto estima do funcionário sempre está baixa e a desmotivação e o adoecimento fazem parte de nossa rotina.


“Os servidores, Agentes de Apoio Socioeducativo (vulgo SEGURANÇAS) da Fundação CASA, não podem trabalhar pro TSE nas eleições, porque segundo a INICIATIVA da antiga gestão, acolhida pelo novo Secretário de Justiça (que redigiu um novo comunicado), bem como pelo Tribunal Regional Eleitoral (como se vê na foto), os referidos profissionais exercem FUNÇÕES SIMILARES A DE POLICIAIS, com exceção, é claro, na hora de com o brasão do Estado nas Unidades, na hora de receber adicional de PERICULOSIDADE, na hora de ter direito ao porte de armas, na hora de morrer numa rebelião ou nas ruas, perseguidos pelos egressos e criminosos sem recuperação... Nestas horas eles não são policiais, são Socioeducadores ligados à JUSTIÇA e Cidadania, pela infância e juventude. Vocês deveriam estar orgulhosos, caros funcionários, porque vocês são policiais do SERVIÇO SECRETO do P2, sem farda, sem brasão, sem arma, sem folga da eleição, sem periculosidade e sem representação DIGNA na política, até SEGUNDA ORDEM! Neste caso, a SOCIEDADE também paga, sem saber, o preço de ESCOLHER ser representada por alguém que não se importa como os que já passaram pelo governo de SP. 

(Autor desconhecido) 


     Elaborei e apliquei para um Trabalho de Conclusão de Curso, tanto meu, quando de minha esposa, uma pesquisa que trouxe a realidade do Agente de Segurança Socioeducativo em São Paulo:

• 53,9% já foram afastados por transtornos de saúde mental;

• 62,1% já foram afastados por agressões físicas;

• 75,7% tiveram prejuízos em sua vida pessoal ou social devido ao trabalho no SSE;

• 70,3% tem sofrimento psíquico;

• 88,1% tem medo de morrer durante o seu expediente de trabalho no SSE;

• 88,4% tem medo de morrer fora de seu expediente.

     O Agente de Segurança Socioeducativo, por falta de estrutura, apoio e interesse por parte da Fundação (96,9% sentem-se desvalorizados pelo Sistema Socioeducativo), hoje encontra-se em um cenário pessoal bastante desfavorável:

• 25,9% possuem pensamentos suicidas;

• 80,1% sofrem de stress;

• 27,8% possuem fobias;

• 59,6% tem angústia;

• 14,8% sofrem de impotência sexual;

• 39,7% sentem medo;

• 69,7% sentem nervosismo;

• 61,5% sentem cansaço excessivo;

• 64,5% sofrem de insônia;

• 74,4% sentem irritabilidade;

• 53,3% sentem tristeza;

• 59,6% sentem insegurança;

• 38,8% tem medo de morrer no trabalho;

• 68,1% sofrem de ansiedade;

• 54,9% sentem tensão;

• 47,9% tem vontade de isolarem-se;

• 47,6% tem conflitos entre seus valores morais e o ambiente onde está inserido;

• 49,2% apatia;

• 46,4% não sentem vontade de socializar com pessoas.

     Esta pesquisa comprova o nítido adoecimento e sofrimento dos ASSE que vivem estado de vigilância constante com risco iminente de morte ou tortura.

     São Paulo tem pouco interesse na melhora deste cenário. 

     Vivemos num sistema de aprisionando e mortificação (prisionalização) e apesar de termos contato com o mundo externo, estamos presos - sem pena.

     Sem contar, o risco real de ser morto, dentro ou fora da unidade. 

     Vou citar alguns exemplos de Agentes que faleceram e foram esquecidos pelas mídia, mas nunca por nós:

• Nosso colega Arnaldo, que foi covardemente espancado em uma unidade aqui em são Paulo;

• Nosso colega José Simões, que desapareceu 13/04/18 no Bairro do Paraisópolis, onde foi relatado que 7 menores de idade o reconheceram e foi levado pelos mesmos e até hoje sem notícias;

• O senhor Francisco Calixto, de 51 anos, que foi empalado no dia do seu aniversário, em um motim na cidade de Marília, onde 5 internos enfiaram um cabo de vassoura em sua garganta. 

     Tem inúmeros casos de colegas assassinados saindo de festas, de igrejas, a caminho de casa.


O SISTEMA SOCIO EDUCATIVO ESTÁ DE LUTO

No dia 21 de março, o Agente Sócio Educativo Arnaldo Campos Garcia, de 63 anos, foi brutalmente atacado por menores infratores em uma das Unidades da Fundação Casa e na data de hoje, veio a falecer.

O espaço dado na mídia para este caso foi pouco. Nada mudou na Fundação e nem na rotina dos menores envolvidos. 

Amanhã será um dia como qualquer outro para todos, menos para a Família de nosso colega, que o perdeu de maneira tão violenta.

Se Arnaldo, mesmo que fosse para se defender, tivesse agredido um dos menores envolvidos, possivelmente esta hora teria sido crucificado pela mídia, cancelado pela população, afastado de suas funções e jamais conseguiria retornar a sua vida normal, pois não lhe seria dado uma segunda chance. 

O ambiente reformado recentemente com câmeras, protocolos e diretrizes, privilegia o menor infrator, mas favorece o sofrimento mental e adoecimento psíquico dos Agentes de Educação Socioeducativos, que diariamente, são ofendidos, agredidos, ameaçados.

Isto não é somente uma opinião. É um fato!

Há tempos a Gestão preocupa-se apenas com seus próprios empregos, com seus cargos “comissionados” e por manter o “status-quo”.

Outros Agentes já foram machucado, empalados, agredidos, mortos, desapareceram e a Fundação continuou omissa.

Como morto não fala, ainda existe a possibilidade de “jogarem a culpa” no Sr. Arnaldo, que não poderá se defender, nunca mais.

Fica aqui a tristeza e o luto pelo Sr. Arnaldo e por nossa realidade, que continuará a mesma, tanto por falta de prioridade do Governador, quanto da Própria Fundação Casa, que interessa-se apenas por assuntos que lhe deem espaço na mídia, desde que seja para inflar o ego. 


     Há pouco dias atrás, em 14/06/22 o Sistema socioeducativo foi aprovado pela Comissão de Segurança Pública e Combate ao Crime Organizado para voltar ao Sistema Único de Segurança Pública (SUSP). 

     Nada mais justo, pois o sistema Socioeducativo tem uma Grande importância na segurança pública dos Estados, já que o Crime Organizado tem como soldados os “menores de Idade”.

     Sempre somos esquecidos, como se nossas vidas, salários e família não valessem nada. 

    Em notícia, publicada pela Agencia Estado de 07.02.2022, é dada a informação de que o número de internos caiu pela metade no Sistema Socioeducativo e não vejo isso como verdade, pois as unidades foram fechadas por conta da pandemia e a maioria dos Internos foram liberados nas delegacias, por solicitações de familiares alegando problemas de saúde, entre outros.


Sistema socioeducativo de SP, que encontra-se defasado e jogados as traças. Todos sabem que o governo Doria, diminuiu a quantidade de internos e por algum acordou ou reflexo da pandemia, não está aplicando as medidas cabíveis, mesmo em casos de homicídios, onde os infratores saem da delegacia direto para suas casas. 

Os agentes de Segurança Socioeducativo não tem respaldo e são agredidos em tumultos e rebeliões que são abafadas pela mídia. 

São ameaçados nas ruas e risco de morte é muito grande e real. 

Os chefes, gerentes e soldados da maior facção da América Latina, passaram pela Febem/Fundação Casa e lá se especializaram. 

Acho muito desumano um pai de família trabalhar com criminosos de 12 a 21 anos, em sua grande maioria estruturados no crime, ainda que com pouca idade, Gerentes das bocas de tráfico, comandam quadrilha de assaltantes, participam de julgamentos do crime organizado, cometem homicídios a mando do crime, fora os latrocinas, homicidas, estupradores, etc. 

E os funcionários sem respaldo algum de outros Órgãos e do Estado. 

Outros Estados já entenderam a importância desta função, que se iguala a Polícia Penal, diferenciando-se apenas pela idades dos detidos, e por esta razão proporcionaram melhores condições de trabalho, salário, treinamento e autonomia 

No momento, com todas estas omissões e negligências, os Agentes estão apenas e tão somente aos cuidados de Deus.


     Para concluir, caso não mudemos essa situação, o Sistema Socioeducativo de SP está perto de seu fim. 

     Inclusive nem novos concursos foram abertos. 

     Então, independente da sua orientação política, foque na sua categoria porque o Sistema Socioeducativo de SP tem uma história honrosa e valorosa e já passamos por muitos desafios.

     Não deixe o Sistema Socioeducativo morrer. 


HAMILTON SALES DANTAS (MAYTHAI)


Graduado em Gestão Ambiental.


Pós Graduações em Pericia e Auditoria Ambiental; Engenharia Ambiental com Habilitação em Docência; Segurança Pública e Cidadania; Inteligência Policial e Analises de perfis Criminais e Comportamentais. 


Especializações em Gestão do Sistema Prisional e Segurança Pública; Direito da Criança e do Adolescentes; Direitos Humanos e Segurança Pública; Gestão Pública.  


Capacitações em Introdução ao Direito Criminal e Segurança Pública; SINASE Lei 12.594/12; Introdução à Sexologia Forense; Proteção de Autoridades; Segurança do Trabalho.

"Fundação Casa ou a morte": especialista critica política para jovens em situação de rua em SP

 


Integrante do Fórum dos Direitos da Criança e do Adolescente afirma que falta vontade política para garantia de direitos

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |
 
O cenário pandêmico e o aumento da fome e do desemprego tornaram a situação ainda mais grave e mais visível, mas o problema não é de hoje - Jorge Araújo / Fotos Públicas

Crianças e adolescentes que vivem em situação de rua na cidade de São Paulo, por conta da ausência de políticas públicas efetivas, estão jogadas à própria sorte. O cenário pandêmico e o aumento da fome e do desemprego tornaram a situação ainda mais grave e mais visível, mas o problema não é de hoje. Essa é a avaliação da gerente de projetos da Fundação Projeto Travessia, Tânia Maria Lima Silva, integrante do Fórum Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente.

Para ela, estes jovens têm, em geral, somente duas alternativas: a internação na Fundação Casa ou a morte. A Fundação é responsável por executar medidas socioeducativas de privação de liberdade (internação) e semiliberdade para adolescentes no estado de São Paulo.

Segundo Tânia, meninos e meninas que se encontram em situação de rua, assim como suas famílias, não conseguem ter acesso às políticas públicas e aos direitos que deveriam ser garantidos, como saúde, assistência, educação e habitação. Isso ocorre, na opinião dela, também por conta da burocracia que rege estes processos. 

Nos últimos anos o número de pessoas que vivem em situação de rua aumentou consideravelmente em todas as regiões do Brasil. Só em São Paulo, segundo informações divulgadas pela prefeitura no início deste ano, o número havia crescido 31% desde 2019, totalizando mais de 31 mil pessoas. Mas entidades e pessoas que trabalham junto a essa população, como o Padre Julio Lancellotti, afirmam que a contagem está defasada e o número é bem maior.

São poucas as pesquisas que se debruçam sobre esta parcela da população. E menos ainda se sabe sobre as crianças e os adolescentes que vivem em situação de rua pelo país. E sem dados detalhados fica difícil pensar para quem as políticas devem ser destinadas. 

Em maio de 2020 foi lançado o relatório final do projeto Conhecer para Cuidar, organizado pela Associação Beneficente O Pequeno Nazareno e pelo Centro Internacional de Estudos e Pesquisas sobre a Infância da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (Ciespi/PUC-Rio). 

Segundo dados divulgados na pesquisa, que ouviu cerca de 600 jovens a partir dos 7 anos de idade, 88% das meninas e meninos nessa situação já sofreram algum tipo de violência no ambiente das ruas e metade destes apontaram os agentes de segurança pública como os principais autores da violência. Cerca de 85% dos jovens entrevistados se autodeclararam pretos e pardos. 

Por definição do Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente (Conanda) a criança e o adolescente em situação de rua é todo “sujeito em desenvolvimento com direitos violados, que utilizam logradouros públicos como espaço de moradia ou sobrevivência, de forma permanente e/ou intermitente, em situação de vulnerabilidade e/ou risco pessoal e social pelo rompimento ou fragilidade do cuidado e dos vínculos familiares e comunitários”. 

Em entrevista ao Brasil de Fato, Tânia Maria Lima Silva enfatiza que é necessário criar políticas públicas que estejam de portas abertas para acolher e cuidar dos jovens em situação de rua. Ela defende que é necessário, ainda, ter vontade política para fazer valer os direitos das populações marginalizadas. 

“Eu acho que a gente precisa que os governantes tomem consciência e realmente se dediquem a ter políticas públicas para toda e qualquer população. E aí estamos falando especificamente de crianças e adolescentes em situação de rua e na rua.”. 

Neste sentido, está sendo debatido na Câmara de Vereadores de São Paulo o Projeto de Lei 253/2021, que visa garantir a efetivação dos direitos fundamentais das crianças e dos adolescentes em situação de rua no município de São Paulo, tendo uma perspectiva de proteção integral desses jovens em consonância com o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA)

A iniciativa, que partiu da Pastoral do Menor, possui apoio de diversas entidades, dentre elas o Conselho Municipal dos Direitos da Criança e Adolescente. 

Segundo o ECA, que completará 32 anos no próximo dia 13 de julho, “a efetivação dos direitos referentes à vida e à convivência familiar e comunitária” de crianças e jovens deve ser “dever da família, da comunidade, da sociedade em geral e do poder público”. 

Confira a entrevista na íntegra:

Brasil de Fato: Qual é o cenário que estamos vivendo hoje em relação aos jovens em situação de rua? A que, além do cenário pandêmico que vivemos, a gente pode atribuir esse agravamento dessa situação?

Tânia Maria Lima Silva: Eu trabalho com educação social na rua, dentro de uma organização chamada Fundação Projeto Travessia, que lida diretamente há 27 anos com essa demanda: crianças e adolescentes em situação de rua aqui na região central de São Paulo. 

O que a gente percebe é que, infelizmente, a pandemia deu visibilidade a uma temática que já existia. Antes da pandemia a gente tinha crianças e adolescentes, meninos e meninas que estavam em situação de rua, que estavam passando por todas as necessidades que a gente hoje tem visto neste cenário de São Paulo. E quando você percebe isso dá um desespero. Porque quando a gente fala sobre a questão do direito, da defesa, da promoção de crianças e adolescentes, a gente olha para crianças e adolescentes em um ambiente fechado. Em situação de rua você não consegue vislumbrar as necessidades que essas meninas e esses meninos precisam. Então, para trabalhar com essa demanda precisa de um arcabouço de estratégias para fazer com que o jovem se vincule, que acredite no profissional que tá ali na ponta dizendo pra ele que é possível. 

A gente trabalha numa perspectiva de trabalhar desejos e sonhos que essas meninas e esses meninos não têm. Eles só têm duas saídas: a Fundação Casa ou a morte. A política de atendimento que a gente tem hoje na cidade de São Paulo, infelizmente, é a questão do ato infracional ou senão a morte, o genocídio dessas crianças e desses adolescentes. E isso é muito cruel. 

E quando a gente fala sobre a pandemia, ela veio num rebote que a gente tá lidando, não que a gente não lidava com isso antes, mas a fome veio muito gritante, porque hoje nós estamos tendo casos de famílias com crianças em situação de rua. Porque perderam seus empregos, porque perderam o seu norte dentro da sua família, não tem casa. Então o que a gente percebe é que nós, enquanto trabalhadores, vamos ter que ter muita resistência e muita resiliência para poder enfrentar. O cenário aqui na região central está muito difícil. A gente não sabe se estamos no Brasil colonial ou se estamos lendo o livro Capitães de Areia, de tão tenso e intenso que está a Praça da Sé. 

A Secretaria de Assistência está fazendo um Censo sobre crianças e adolescentes em situação de rua e na rua na cidade de São Paulo. O vereador Eduardo Suplicy trouxe a informação que foram diagnosticadas pelo Censo 664 crianças e adolescentes em situação de rua e na rua na cidade de São Paulo. Eu posso dizer pra você que, infelizmente, essa não é uma exclusividade da região central. 

Os nossos centros periféricos também estão acometidos de fome, violência, negligências, tanto do poder público quanto do Estado, enfim, acometidas por um arcabouço de violação de direitos. Os meninos e meninas acabam tendo um parâmetro onde tem renda, onde gira o capital. Que, na maioria das vezes, não é regra, mas o trabalho infantil acomete como uma porta de entrada para que estes meninos e meninas permaneçam em sitruação de rua.

Às vezes a gente fica muito com holofotes para a região central porque é onde o capital gira, mas é também na Avenida Paulista, Vila Mariana, Ana Rosa, Pinheiros, Jardins, Rua Augusta. Então a gente tem estes centros onde as pessoas acabam tendo seu happy hour, onde tem o capitalismo selvagem com lojas, restaurantes, e os meninos acabam vindo neste fluxo de trabalho infantil e, infelizmente alguns acabam ficando e permanecendo em situação de rua. 

E isso a gente tá falando em um cenário da cidade de São Paulo, mas é muito visível que essa realidade se intensificou em todos os estados, em todas as regiões do país. 

No Brasil. E eu diria até mundo também. Porque a situação das famílias que a gente atende, que a gente lida no dia a dia, quando a gente vai falar sobre qualquer inserção para o direito, a gente percebe que essas famílias, na maioria das vezes, elas não são e não estão inseridas dentro desse sistema dito por "garantia de direito". Então muitas vezes a gente tem que ensinar essas famílias o direito e a via de acesso que ela tem que fazer para ter esse direito, como diz o Estatuto da Criança e do Adolescente, como diz a Constituição Federal para que ela realmente faça jus a este direito que ela tem. 

Então muitas vezes a gente precisa acompanhar essas famílias até um CRAS [Centro de Referência de Assistência Social], a um CREAS [Centro de Referência Especializado de Assistência Social], a um posto de saúde. E a gente não pode esquecer que essas famílias também – e os meninos e meninas – eles também não têm essa porta de entrada de chegar e ser atendidos. A gente sabe que existe uma burocracia imposta.

Existe uma tendência, que a gente não olha para o sujeito que está na nossa frente quando a gente fala sobre garantia de direitos. Então a gente entra numa rotina, numa lógica, de burocratizar os serviços. E muitas vezes essas famílias são violentadas severamente, infelizmente, pelas instituições que dizem que ali estão para fazer a sua defesa, ou a sua promoção ou a sua garantia de direitos. É bem complexo mesmo. 

No último dia 22 de junho, o PL 253/21 de autoria de seis vereadores da cidade de São Paulo, dentre eles a vereadora Juliana Cardoso (PT-SP), foi objeto de audiência pública na Câmara Municipal de Vereadores. O Projeto tem como objetivo garantir a efetivação dos direitos fundamentais das crianças e dos adolescentes em situação de rua no município de São Paulo, tendo uma perspectiva de proteção integral desses jovens em consonância com o ECA. Então com base nisso queria te perguntar sobre essas políticas públicas de proteção a essa juventude que tá na margem de todos os âmbitos sociais, seja moradia, trabalho, estudo, cultura, saúde. O que a gente tem hoje que possa minimamente garantir os direitos desses jovens brasileiros?

Eu vou ser um pouco radical e vou dizer pra você que a gente não tem nada. E aí quando eu digo que não temos nada não é no sentido de não ter a política. A gente tem essa política, mas não adentra essa demanda que a gente atende. Então a gente tem a saúde, a gente tem a assistência, a gente tem a educação, a gente tem a habitação, a gente tem todas as políticas postas, porém, elas não chegam para estes meninos, para estas meninas e nem para as suas famílias, infelizmente. 

O Projeto de Lei 253/21 trata de ter um olhar específico para essa demanda. Você tem que olhar para essa demanda. A política tem que estar aberta para que esses meninos e meninas adentrem dentro de uma questão relacionada à sua saúde, relacionada à assistência social, que dê subsídio à essa família no território onde este menino mora. Que a gente faça um trabalho que consiga entender a complexidade que é você se vincular, você ganhar confiança, você trabalhar este adolescente, você trabalhar a família. Você é mediadora dentro de um processo que não será em dois, três dias ou em um mês que este menino vai estar retornando para a sua família.

A gente tem que ter a responsabilidade de entender a complexidade que é. A gente não pode pegar esse menino e simplesmente levar para casa. Porque a gente não sabe qual o ciclo de violação de direito que ele está sofrendo na sua casa. A gente não sabe qual o risco que esse menino e essa menina tá sofrendo dentro da sua casa. Então esse Projeto de Lei vem dizer que precisamos ter três serviços que deem abertura para que esses meninos comecem a conhecer e ter acesso aos direitos sem ser burocráticos. Que ele consiga ter a sua medida socioeducativa cumprida. 

O menino que tá em situação de rua e na rua ele tem o timing dele. Então na hora que ele vem para solicitar alguma ajuda a gente tem que estar pronto para fazer essa ajuda. A gente não pode deixar que aliciadores e exploradores façam disso o papel da sua política. A gente tem que dizer "Estado, é sua função, é sua responsabilidade. Você tem que dar conta".

Eu acredito muito que o PL vem numa perspectiva de a gente expandir esse projeto para toda a cidade de São Paulo, independente da gente ter ou não crianças e adolescentes em situação de rua. Tem que ter serviço porta aberta para estes meninos entrarem em toda a cidade de São Paulo. Porque a gente tá falando de meninos e meninas que têm muitas carências e anseios, e eles não vão falar da sua vida em um primeiro momento.

A gente tem que parar de ser burocrata. Não adianta eu ir pra rua com uma prancheta para perguntar nome, idade e se quer algum encaminhamento. Eu tenho que ser lúdico, eu tenho que ser criativo, eu tenho que ser dinâmico na minha abordagem, eu tenho que ser assertivo. Porque eu preciso que esse menino e essa menina confiem, pra a gente criar laços, vínculos, para que a gente possa trabalhar juntos. 

Quando o menino e a menina percebem que o trabalhador tem essa diferença, eles vêm. E aí é maravilhoso porque você vê aqueles meninos sorrindo, com esperança, com desejos, com sonhos maravilhosos. Porém, eles não conseguem acreditar que é possível para eles e na primeira recaída, na primeira frustração que eles têm, eles acabam sendo cooptados pelo tráfico, pelos adultos que são aliciadores e que estão usando deles como um meio para fazer pequenos furtos, para entrar em outras questões relacionadas ao tráfico.

Enfim, então acho que é nisso que a gente fala quando a gente defende o PL. Ele tem uma complexidade e a gente pensou muito nessa elaboração técnica no papel. Mas na prática é isso: porta aberta para esses meninos e meninas que estão em situação de rua e na rua. Seja na abordagem, seja nos centros de convivências, seja no acolhimento. Não necessariamente ele vai passar pelos três, mas se ele passar por um, vai ser função dos trabalhadores vincular este menino e a gente poder trabalhar junto com ele, a sua família, o seu território, articular a rede, pensar estratégias, pensar mil e uma coisas que a gente sabe que é possível. 

A gente não pode ficar muito nessa lógica que criança e adolescente em situação de rua e na rua o meio é colocar numa Kombi e levar embora. Não é essa a lógica da política. 

O que seria preciso ser feito para que a gente possa enfrentar essa situação e avançar no sentido de construir outras possibilidades para esses jovens? Possibilidades de vida digna, de oportunidades, de sair dessa situação de rua e ter a chance de exercer seus plenos direitos enquanto cidadãos brasileiros que têm os direitos garantidos no ECA e na Constituição? 

Vontade política. Responderia para você assim, curto e grosso: vontade política. Que a gente pare de fazer uma grande propaganda no meio político. A gente precisa que os governantes tomem consciência e realmente se dediquem a ter políticas públicas para toda e qualquer população. E aí especificamente estamos falando de crianças e adolescentes em situação de rua e na rua. Que a gente não fique muito nessa construção de pensar, de pensar, de boicotar, de pensar.

A instituição em que eu trabalho está há 27 anos, mas eu falo como histórico meu enquanto profissional: há nove anos a gente espera e deseja que seja feita uma política digna. Não é um "puxadinho" que a gente tá falando, estamos falando de política digna. Condições desses meninos se sentirem acolhidos dentro de um ambiente maravilhoso. Onde eles tenham a dignidade de sentar em uma mesa e comer. Que não seja um marmitex. E aí eu não tô falando do marmitex como comida, mas enquanto condição de colocar comida no seu prato. Que eles consigam vislumbrar que isso é possível. 

Porque quando a gente fala desses meninos e dessas meninas, vocês têm que entender que a gente tá falando de uma ressocialização de um ciclo vicioso, no qual ele já se encontra, que é muito difícil de você romper. E é com muito trabalho. E não é um trabalho de dois, três quatro, cinco, seis meses. É um trabalho contínuo. E a gente deve bater sempre na pedrinha. Ficar batendo, batendo até que uma hora ela vai trincar. E a gente tem que alcançar isso e trincar. Porque eles estão muito armados, no sentido da sua armadura de vida, de angústias, de violação, de medos, de surras, de porrada, de rejeição.

E é natural quando a gente vê os meninos em situação de rua, principalmente as pessoas que não entendem a complexidade, que acham que é todo mundo bandido. Mas não são. São meninos e meninas como são as minhas filhas, como são as suas filhas, seus filhos, seus netos, seus sobrinhos. São crianças, são adolescentes e precisam vivenciar essa fase. Infelizmente eles não estão vivendo.

E quem somos nós, enquanto sociedade, que temos a nossa condição de estar nas nossas casas, nos nossos cobertores, tomando as nossas sopas, os nossos vinhos, para dizer que eles são culpados de não ter isso?

A reflexão que eu deixo aqui é essa: sociedade em geral, olhem para as crianças e adolescentes em situação de rua como se fossem os filhos de vocês. Imaginem a situação dos seus filhos na situação que eles vivem. Pensem.

Edição: Felipe Mendes