segunda-feira, 29 de novembro de 2021

STF libera concursos públicos a estados em recuperação fiscal

 


Decisão de Barroso também autoriza despesa fora do teto de gastos local
Luís Roberto Barroso, ministro do STF Foto: Pablo Jacob / Agência O Globo
Luís Roberto Barroso, ministro do STF Foto: Pablo Jacob / Agência O Globo

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BRASÍLIA — O ministro Luis Roberto Barroso, do Supremo Tribunal Federal (STF), decidiu nesta segunda-feira que estados que fazem parte do Regime de Recuperação Fiscal (RRF) podem fazer concursos públicos para preencher cargos vagos.

A decisão de Barroso também exclui do teto de gastos dos estados do RRF as despesas executadas com recursos afetados a fundos públicos especiais (fundo que tem uma receita específica para realização de um serviço ou objetivo).

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Como se trata de uma liminar (decisão provisória), o assunto precisará ser analisado pelo plenário virtual do STF.

O RRF é um regime de socorro a estados em grave crise financeira, que alivia o pagamento da dívida desses estados junto à União. Atualmente, apenas o Rio de Janeiro está no regime oficialmente. Mas outros estados, como Minas Gerais, Goiás e Rio Grande Sul, tentam aderir.

Em troca de um alívio nas dívidas, os estados devem adotar uma série de medidas de controle das contas locais. Entre essas medidas, está a suspensão de concursos públicos e a criação de um teto para suas despesas locais.

A decisão de Barroso agora permite aos estados realizarem concursos para preencher cargos vagos e também retirar parte das despesas do teto.

Para Barroso, a proibição de concursos “gera risco à continuidade dos serviços públicos estaduais e municipais”. Ele alerta, porém, que a possibilidade de reposição de cargos vagos não significa autorização automática à admissão de pessoal pelos órgãos e entidades dos estados e municípios que aderirem ao Regime de Recuperação Fiscal.

“Por conseguinte, a realização de concurso público e o provimento de cargos públicos dependerão do preenchimento dos requisitos legais usuais: autorização da autoridade estadual ou municipal competente, avaliação das prioridades do ente político e existência de viabilidade orçamentária na admissão, tendo como norte a continuidade dos serviços públicos essenciais”, diz a decisão de Barroso.

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O ministro argumenta que a proibição de concursos também afronta a autonomia dos Estados e municípios e fere o princípio da proporcionalidade.

“Não se trata, aqui, de criação de novos cargos públicos. Cuida-se, exclusivamente, de nomear novos servidores para cargos vagos, com vistas à continuidade dos serviços públicos estaduais e municipais. Restaria muito pouco da autonomia de Estados, do Distrito Federal e Municípios se não pudessem sequer admitir pessoal para manter seus quadros estáveis quando aderissem ao Regime de Recuperação Fiscal”, disse Barroso.

A equipe econômica sempre foi contra a possibilidade de repor cargos vagos porque avalia que há milhares de postos em aberto que podem ser preenchidos de acordo com o critério do governador do estado.

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A decisão de Barroso não estabelece um marco temporal para as vagas abertas. Esse ponto sempre foi uma questão para o Tesouro Nacional.

Em relação aos fundos especiais, o ministro disse que submetê-los ao teto "parece produzir um contrassenso", pois não atinge o objetivo de contribuir ou de fomentar o equilíbrio fiscal.

"Recursos públicos com destinação específica, que poderiam ser empregados na melhoria de serviços públicos essenciais à população, ficarão paralisados", escreveu.

Barroso citou como exemplo o Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro, cujo fundo especial arca com todos os gastos correntes do órgão e possui "vultosos recursos" para investimento na melhoria do Poder Judiciário.

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“A regra do teto de gastos, nessa interpretação elástica, teria somente consequências negativas”, argumentou.

O ministro faz, porém, uma defesa da responsabilidade fiscal e diz que ela tem ideologia. “Responsabilidade fiscal não é nem de direita e nem de esquerda, não é nem monetarista, nem é estruturalista; é apenas um pressuposto das economias saudáveis. O descontrole fiscal a que chegamos sempre traz recessão, desemprego, inflação, desinvestimento e juros altos. Os mais penalizados, por óbvio, são os mais pobres”, afirma Barroso.

A irresponsabilidade fiscal, continua o ministro, é “uma das maiores causas da assombrosa desigualdade social brasileira”.

“Afinal, se o Estado vive para custear sua própria máquina e os encargos da sua dívida, não sobra dinheiro para investimento em políticas públicas como saúde, educação e assistência social, indispensáveis à redução da pobreza”, argumenta

Orçamento secreto: Câmara aprova projeto que limita emendas de relator

 


Sigilo sobre indicações em 2020 e 2021 é mantido por cúpula do Legislativo
Plenário da Câmara dos Deputados Foto: Antônio Augusto/Câmara dos Deputados/09-11-2021
Plenário da Câmara dos Deputados Foto: Antônio Augusto/Câmara dos Deputados/09-11-2021

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BRASÍLIA —  A Câmara aprovou nesta segunda-feira, por 268 votos a favor e 31 contrários e uma abstenção, em sessão do Congresso Nacional, projeto de resolução que limita a destinação de verba ao Orçamento por meio das emendas de relator (RP-9), suspensas por decisão do Supremo Tribunal Federal (STF).

Entendao que são emendas parlamentares e o orçamento secreto

O valor não poderá ultrapassar a soma de emendas de bancada e individuais no momento da formulação de parecer na Comissão de Orçamento. O texto também impõe a divulgação dos políticos e entidades favorecidos pelas emendas de relator — que compõem o chamado “orçamento secreto” — daqui para frente.

Os casos do passado, porém, continuarão em sigilo.  As emendas do orçamento secreto foram usadas sem transparência para atender a políticos da base do governo, sem um critério claro de distribuição.

O esforço faz parte das negociações entre Legislativo e Judiciário para liberar a execução dessas emendas. Agora, o texto segue para deliberação do Senado, em sessão que deve ocorrer ainda nesta noite.

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Também fez parte da mobilização parlamentar a publicação de um ato das Mesas de ambas as Casas em que a cúpula do Legislativo considerou impossível reunir a documentação para tornar públicas as indicações do passado. Argumentaram ainda que não existia norma que obrigasse essa divulgação.

Em liminar da ministra Rosa Weber, referendada pela pelo STF, havia a determinação da publicidade das indicações de parlamentares para as emendas de relator nos Orçamentos de 2020 e 2021.

Nesta segunda-feira, a Consultoria de Orçamentos, Fiscalização e Controle do Senado emitiu uma nota técnica na qual afirma que seria possível divulgar a relação dos parlamentares responsáveis pelas indicações das emendas de relator. A posição contraria o ato conjunto.

Outra questão em aberto é a determinação para o Congresso tratar a distribuição deste tipo de emenda com equidade, ou seja, de forma que não haja favorecimento de alguns parlamentares em detrimento de outros.

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Relator do projeto, o senador Marcelo Castro (MDB-PI) admitiu que não tratou do assunto no projeto.

—  Eu não trato dessa questão na resolução. A resolução não é o lugar próprio de tratar disso, o lugar próprio é no parecer preliminar (do Orçamento). Na próxima semana vamos votar o parecer preliminar na CMO (Comissão Mista de Orçamento), a comissão composta para poder fazer o orçamento (de 2022). Ela que vai estabelecer as normas de como vai fazer e como vai executar —  disse Castro.

Parlamentares criticaram a ausência de uma solução para essas questões, exigidas pelo STF. Em plenário, Marcelo Castro foi cobrado.

—  Eu conheço a sua meticulosidade em resolver as coisas, em buscar os detalhes. Mas vossa excelência (Marcelo Castro) não citou nenhuma frase no que diz respeito à equidade na distribuição das emendas de relator, não há equidade na distribuição  —  reclamou Danilo Forte (PSDB-CE).

No relatório, Castro determina que o valor das emendas de relator seja vinculada a outras emendas. “Propõe-se que esse limite máximo corresponda à soma dos valores definidos pela Constituição Federal para as emendas individuais e para as emendas de bancada estadual impositivas”, escreve o senador.

Em 2021, foram reservados em um primeiro momento R$ 30,1 bilhões para as emendas de relator. Houve, porém, mudanças na previsão. Hoje, o valor está previsto em R$ 16,8 bilhões. Já o total com as emendas individuais e de bancada, hoje, são estimadas em, respectivamente,  R$ 9,6 bilhões e R$ 7,3 bilhões.

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— É inaceitável que o relator do orçamento tenha mais poder que o presidente da República — disse Marcelo Castro.

Parlamentares de oposição, porém, argumentaram que a trava do projeto não vai alterar a ordem de grandeza das emendas de relator.

— É razoável permitir que 17 bilhões de reais sejam liberados sem qualquer critério público? O dinheiro público não pode ser destinado aos parlamentares de acordo com sua proximidade ou distância do governo. O dinheiro público tem que ter uma finalidade que atenda ao interesse público, a critérios técnicos objetivos, impessoais e isonômicos. E o que essa proposta faz é o oposto disso — discursou Alessandro Molon (PSB-RJ).

O texto também diz que o relator-geral poderá atender a “solicitações recebidas de parlamentares, de agentes públicos ou da sociedade civil” e que esses pedidos serão publicados “individualmente” e disponibilizados “em relatório” no site da Comissão Mista de Orçamento.

Na semana passada, a cúpula do Legislativo afirmou que não divulgaria os nomes dos parlamentares que já direcionaram verbas das emendas de relator a estados e municípios. A ampla publicidade, exigida pelo Judiciário, só será colocada em prática no futuro.

Hoje, as emendas de relator estão concentradas nas mãos do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), e do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG). Parlamentares relatam que muitas das demandas foram atendidas a partir de pedidos informais. Isso não quer dizer, porém, que não haja documentação que possa identificar os beneficiários do passado.

No Congresso, há o diagnóstico por parte do grupo favorável à decisão do STF que a divulgação desse material teria o potencial de desencadear uma crise, já que ficaria claro o favorecimento de alguns parlamentares em detrimento de outros.

— Sabemos muito bem quem manda nesse dinheiro e quem manda no relato. E quem faz acordo recebe. Por que estão querendo divulgar daqui para frente? Porque vai dar muito problema entre aqueles que fizeram acordo se eles souberem que um recebeu 10 e outro 100 para participar do mesmo acordo. Vai ser bonito ver isso porque isso vai colocar em evidência toda a negociata daqui. Quero ver fazer negociata daqui para frente quando isso vier a público. E espero que venha — discursou Paulo Ganime (Novo-RJ).

Com a aprovação do projeto e a publicação do ato, o Congresso espera que o Supremo reconsidere a sua posição e libere a execução das emendas bloqueadas.