Após conseguir o aval dos deputados estaduais para privatizar a Sabesp em seu primeiro ano de mandato, Tarcísio de Freitas vai manter a agenda de privatizações como uma de suas prioridades para 2024.
O que aconteceu
Governo vê resistência com o tema diminuir. Interlocutores de Tarcísio (Republicanos) avaliam que as greves serviram de palanque para que ele defendesse o programa e citam a queda na adesão na última paralisação em comparação com as anteriores — o que ocorreu após o governador ameaçar punir grevistas de forma individual. Metroviários e ferroviários argumentam que reivindicação é clara e não descartam paralisações em 2024.
Nas duas greves que enfrentou, Tarcísio elogiou linhas privatizadas. Ele ressaltou que em dias de paralisação elas funcionam sem causar transtornos à população, o que reforça a importância do processo. As linhas 8 e 9, sob responsabilidade da ViaMobilidade, no entanto, acumulam falhas.
Ideia é conceder três linhas da CPTM à iniciativa privada no ano que vem. Ao fazer um balanço do primeiro ano de sua gestão, Tarcísio confirmou que as linhas 11, 12 e 13 irão a leilão. Já os estudos para mudanças no Metrô estão em processo menos avançado.
Governador argumenta que estados "vão quebrar" se não houver corte de gastos. Tarcísio defende que o dinheiro obtido com concessões e privatizações permitirá que a gestão invista mais em infraestrutura, saúde e segurança. Segundo ele, só a folha de pagamento do Metrô custa R$ 2,2 bilhões por ano aos cofres públicos.
Venda da Sabesp só em 2024
A aprovação da privatização da Sabesp era considerada prioridade máxima. Com valor estimado de R$ 50 bilhões, a companhia é tida como "a joia da coroa". Tarcísio dizia a aliados que não gostaria de deixar a discussão sobre a proposta avançar para 2024, quando ocorrerão eleições municipais, para que o debate não seja contaminado pela campanha eleitoral.
A concretização da venda, porém, ainda é vista como operação espinhosa. A viabilidade depende dos vereadores de São Paulo porque a cidade é a maior fonte de receita da empresa. Embora o negócio seja dado como certo publicamente pelo governador, aliados admitem em reservado que há um longo caminho a ser percorrido — o presidente da Câmara Municipal, Milton Leite (União), já sinalizou que pode travar o projeto. A privatização também é alvo de questionamentos na Justiça.
Temos que cortar. Tem as questões ideológicas, muita gente critica o estado quando a gente fala em concessões da CPTM, do Metrô, a PPP da Fundação Casa, mas tem uma razão de fundo sobre isso (...) A gente está deixando de fazer investimento em infraestrutura, em saúde, em segurança pública. Tarcísio de Freitas, em 11 de dezembro, durante participação no Fórum XP
São Paulo está traumatizada pelas privatizações. A articulação dos sindicatos e movimentos sociais para lutar contra isso vai continuar. Novo plebiscito, manifestações de rua e greves estão no radar dos prováveis acontecimentos de 2024. Camila Lisboa, presidente do Sindicato dos Metroviários
O que está previsto na agenda de privatizações
Emae (Empresa Metropolitana de Águas e Energia) vai ser a primeira do ano. A expectativa é que a operação seja concluída em fevereiro.
Leilão do trem intercidades está marcado para 29 de fevereiro. O projeto prevê ligar as cidades de São Paulo e Campinas. Entrega e início de funcionamento estão previstos para 2031.
Concessão de rodovias e das loterias do estado devem ocorrer ao longo do ano. A expectativa é a mesma para parcerias público-privadas para construção de escolas e habitações.
Segurança e relação com deputados são pontos de atenção
Governador está insatisfeito com os resultados na segurança e listou ações que pretende tomar. Há um projeto para colocar policiais militares da reserva para assumir funções administrativas e liberar os da ativa para sair às ruas. Tarcísio também mencionou a instalação de bases de polícia no centro da cidade, região onde fica a "cracolândia", que concentra ocorrências de roubo e furto, e diálogo com o Congresso para mudar a legislação da reincidência criminal.
Tarcísio precisa do apoio dos deputados estaduais para viabilizar suas propostas. Apesar de ter conseguido aprovar projetos importantes na Casa e negar problemas no relacionamento com o Legislativo, o governador teve dificuldades na Assembleia ao longo do ano — em alguns casos sofreu derrotas por falta de quórum, fruto da desmobilização da base.
Parlamentares "bolsonaristas raiz" pregam independência do governo e causam dor de cabeça no Palácio dos Bandeirantes. Políticos próximos ao ex-presidente Jair Bolsonaro reclamam de não ter espaço na gestão Tarcísio e do distanciamento do governador das chamadas pautas ideológicas.
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