quinta-feira, 29 de agosto de 2024

ECA: desafios da socioeducação na reinserção social

 


Claudia Carletto

O Brasil é um país de vanguarda jurídica no reconhecimento de crianças e adolescentes como sujeitos de direitos, ou seja, indivíduos que possuem direitos e liberdades, ainda que necessitem de atenção, assistência e proteção especial da família, da sociedade e do Estado.
Esse marco ocorreu no dia 13 de julho de 1990, quando foi promulgado o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), a Lei nº 8.069, regulamentando os artigos 227 e 228 da Constituição Federal, que constitucionalizaram os direitos humanos de crianças e adolescentes no nosso país.
O ECA moldou, nos últimos 34 anos, o reconhecimento dos direitos humanos e fundamentais a essa população e sua dignidade enquanto ser humano – mesmo antes de entrar em vigor a Convenção sobre os Direitos da Criança, da Organização das Nações Unidas (ONU), o tratado internacional com força coercitiva que regulamentou a Declaração dos Direitos da Criança, aprovada pela Assembleia da ONU em 20 de novembro de 1959.
A Convenção entrou em vigor internacionalmente em 2 de setembro de 1990. Durante quase toda a década de 1980, representantes de países membros da ONU discutiram a elaboração da Convenção, incluindo o Brasil.
A discussão internacional, o movimento brasileiro de modificar o paradigma social e a realização da Assembleia Nacional Constituinte culminaram na escolha democrática de reconhecer também a necessidade da proteção integral desse público, por parte da família, da sociedade e do Estado. A proteção não se extingue quando um adolescente comete um ato infracional.
O impacto dessa mudança estrutural recaiu sobre a Fundação Centro de Atendimento Socioeducativo ao Adolescente (CASA), que passou a atuar apenas na execução de medidas socioeducativas de meio fechado no Estado de São Paulo – internação e semiliberdade –, e se modificou institucionalmente, adequando sua estrutura física, de recursos humanos e material para garantir o atendimento, com acesso à alimentação, saúde, educação escolar, educação profissional básica, arte e cultura e esporte e lazer.
Desde 2006, no marco da mudança institucional, alcançamos o pico de atendimentos em 2013, com 33.798 adolescentes atendidos naquele ano.
Porém, a partir de 2014, a Fundação CASA registra queda contínua no número de atendimentos, chegando a 15.150 jovens no ano de 2023 e a 9.648 entre janeiro e o dia 11 de julho de 2024.
A redução demandou um novo esforço institucional em readequar todos os recursos públicos utilizados.
O trabalho desenvolvido com afinco pelos servidores da Fundação CASA é só uma parte no complexo sistema socioeducativo brasileiro.
O principal desafio está no retorno ao convívio social, quando o apoio da família é importante ao jovem, assim como a abertura e o suporte da sociedade são fundamentais, oferecendo oportunidades de formação educacional e profissional ou mesmo de inserção no mercado de trabalho como aprendizes, estagiários ou empregados.
Claudia Carletto é presidente da Fundação Centro de Atendimento Socioeducativo ao Adolescente (CASA)

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