Troca de dívidas e cortes no orçamento estão entre as principais orientações de especialistas em Ribeirão Preto, SP. 'Saúde financeira precisa ser entendida como uma questão de saúde pública', diz assessor.
Por Isabella Mengelle*, g1 Ribeirão Preto e Franca
Segundo a Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), em novembro de deste ano, o número de famílias endividadas no Brasil atingiu a marca de 78,9% do total de lares no país. O dado consta da Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor feita pela entidade.
Ainda de acordo com a CNC, o número de pessoas que estavam com contas de consumo ou dívidas atrasadas chegou a 30,3% no mês de novembro.
Com a virada do ano, muita gente promete cumprir metas em relação à saúde, ao bem-estar e ao bolso. Nesta matéria, o g1 conversou com especialistas e reuniu dicas para ajudar quem pretende sair do vermelho no banco em 2023.
LEIA TAMBÉM:
Para o assessor de investimentos Gustavo Zebian, o primeiro passo é entender que evitar dívidas não é apenas uma questão de dinheiro e controle de orçamento, mas de saúde.
"Saúde financeira precisa ser entendida como uma questão de saúde pública. As dívidas causam ansiedade, estresse, podem acabar com relacionamentos. Se você tem dívida dentro de casa, vai ser um ambiente estressante. Entender isso é fundamental", diz.
Abaixo, você confere o passo a passo de como recuperar as finanças e começar a guardar dinheiro.
1. Descubra para onde vai o seu dinheiro
Para o assessor de investimentos Felipe Borba, o primeiro passo é descobrir qual é o orçamento familiar e para onde o dinheiro vai. Para isso, ele indica o uso de planilhas de controle e a técnica de anotar tudo que sai e tudo que entra no mês.
"Fazer orçamento doméstico é essencial para ter em mente quanto você recebe por mês e quanto você tem de despesas fixas, que não podem ser evitadas, como aluguel, água e luz. A partir disso, você consegue mensurar no orçamento quanto sobra para emergências e despesas variáveis, como alimentação, lazer, cartão de crédito, etc."
Ainda de acordo com Borba, uma vez com os dados anotados, é importante confrontá-los com o recebimento líquido de salário, que deve ser o valor usado para fechar o orçamento.
"É muito comum que as pessoas confundam o salário bruto com o líquido, que é o valor que sobra depois de descontos como imposto de renda, INSS e outros. Por isso, o orçamento deve ser feito sempre em cima do salário líquido do holerite."
Gustavo Zebian explica que o ideal é que todas as despesas, fixas e variáveis, correspondam a no máximo 90% da renda mensal. "Se você recebe R$ 3 mil por mês, por exemplo, você precisa ter no mínimo 10% de folga. As despesas fixas e variáveis devem ser no máximo de 90% do orçamento."
2. Troque dívidas caras por dívidas baratas
Para quem já está começando 2023 endividado, os especialistas recomendam uma estratégia conhecida como 'troca de dívidas', que consiste em renegociar os débitos e tentar quitar grandes valores através de empréstimos.
Segundo Borba, é comum que as principais dívidas das pessoas sejam o cartão de crédito e o cheque especial, porque são dívidas muito fáceis de serem adquiridas.
"O dinheiro faltou, usei o limite do cheque especial. Não consegui pagar a fatura do cartão à vista e entrei no rotativo ou paguei parcial. Essas dívidas são as mais caras, porque os juros em cima delas são altíssimos."
Para resolver o problema, o assessor recomenda "somar o valor de todas as dívidas pendentes e fazer um empréstimo ou crédito pessoal, oferecidos pelos bancos, que possuem taxas de juros bem mais baixas do que o cartão e o cheque especial".
Assim, ao invés de dever R$ 5 mil de dívidas com juros altos, é possível parcelar o valor total do empréstimo em mais tempo, com juros menores, e controlar o valor das parcelas de forma que elas caibam no orçamento familiar.
Já Zebian alerta para o fato de que apesar de não ser interessante no longo prazo, a prática pode ajudar o devedor a se reorganizar e começar a criar sobras no orçamento.
"No longo prazo isso não é sadio, mas no curto prazo, que é o interessante, é importante fazer a parcela da dívida cair o bastante para caber dentro do orçamento e manter os pagamentos em dia. Não pode atrasar."
Para quem conseguiu começar o novo ano sem dívidas, o ideal é reorganizar o salário para conseguir começar a guardar pelo menos 10% do salário logo no primeiro mês.
3. Enxugue os gastos
Com o orçamento detalhado em mãos, é mais fácil descobrir quais gastos podem ser cortados ou, pelo menos, quais despesas podem diminuir no mês.
"O primeiro passo para enxugar o orçamento é cortar tudo que é supérfluo. Cozinhar em casa ao invés de comer fora, dividir o transporte até o trabalho com um colega, tudo que puder enxugar até ter uma sobra no orçamento", explica Gustavo Zebian.
Se ainda assim os gastos estiverem maiores do que o orçamento, o assessor recomenda medidas mais efetivas para aumentar a renda, como fazer hora extra ou, em casos mais graves, se desfazer de bens pouco usados ou de manutenção cara.
"Pode ser preciso tomar medidas mais drásticas para aumentar a renda, como fazer hora extra, vender um bem, vender itens da casa que não são tão usados, coisas assim, para levantar mais recursos. Mas isso só depois de esgotar todas as outras possibilidades."
4. Converta porcentagens
Converter preços em porcentagens é uma das medidas mais importantes para controlar o orçamento e recuperar a saúde financeira em 2023, de acordo com Gustavo Zebian.
"É importante ter consciência de que a inflação oficial não é a do nosso bolso. Por exemplo, o seu almoço que custava R$ 20 subiu para R$ 22. Não são só R$ 2, é um aumento de 10%. Você teve isso de aumento na sua renda? Não. De dois em dois, tudo vai ter ficado 10% mais caro e você continua com a mesma renda, então busque alternativas para se manter dentro do orçamento que você tem."
5. Tenha disciplina e se atente ao cenário nacional
As projeções econômicas para 2023 são, para Zebian, bastante desafiadoras. A taxa de juros, que deve girar em torno de 13%, vai impactar parcelas de financiamentos e empréstimos. Por isso, o ideal é se manter sempre dentro do orçamento.
"A disciplina é o principal fator, e isso requer planilhas. Na planilha semanal, por exemplo, você pode anotar gastos como alimentação, transporte, lazer, identificar para onde vai a maior parte do seu dinheiro e ir fazendo as adaptações necessárias."
O assessor também indica atenção com as contas no início do ano, que é marcado por gastos como IPVA, IPTU e material escolar. Segundo ele, uma aplicação conservadora, sem riscos e que qualquer pessoa hoje tem acesso, principalmente em bancos digitais, rende cerca de 1% ao mês.
"Sempre que for fazer um pagamento à vista, eu tenho que ter no mínimo 1% ao mês de desconto. Por exemplo, o IPTU pode ser parcelado em 12 vezes. Se eu pago à vista e tenho 12% de desconto, compensa pagar à vista. Menos que isso, compensa parcelar. Esse é o número para ter em mente no próximo ano. Pelo menos 1% de desconto em cada parcela."
*sob supervisão de Thaisa Figueiredo
Nenhum comentário:
Postar um comentário