sábado, 6 de junho de 2020

“Tá na hora de se armar literalmente”. PCDF apura ameaça de ataque em ato

Em grupo fechado no WhatsApp, alunos da UnB combinam estratégia: um deles deixou clara a intenção de chamar reforço de torcidas organizadas

Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF) apura o planejamento de ataques violentos, supostamente organizados por alunos do curso de filosofia da Universidade de Brasília (UnB), durante as manifestações previstas para o final de semana, na Esplanada dos Ministérios. Conversas travadas entre estudantes em um grupo fechado no WahtsApp deixa claro o objetivo de usarem armas durante o ato marcado para domingo (07/06) próximo ao Congresso Nacional.

Na conversa, uma mulher afirma que a ação é perigosa, mas é necessário agir com agressividade. “Não dá pra ficar assustado mano. tá na hora de armar literalmente. Só quebrar vidraça não é suficiente não”, diz a suposta estudante de filosofia. Ela prossegue enviando mensagens, desta vez ressaltando sentir medo de confronto. “Mas não vou mentir estou MT assustada (sic). Não quero morrer, desaparecer, ser torturada. Estou com MT cagaço na moralzinha”, comentou.

Outro integrante deixa claro que pretende dar maior poder de fogo ao grupo fazendo contato com uma torcida organizada de um time de futebol. Um membro responde, garantindo ter contato com outra organizada e que os grupos poderiam unir forças durante a manifestação. “Vamos unir os dois gigantes”, resume.

Confira trechos da conversa: 

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PCDF apura planejamento de ataques violentos durante as manifestações do próximo domingo

 

Em outra mensagem, outro participante diz ter entrado em contato com o “CV”, mas não explica o significado da sigla. “Pra passar os armamento (sic)”. Outros integrantes do grupo ironizam a sigla, afirmando ser a tradução para “Cristo Vive, Curriculum Vitae ou Crentes Vencedores”. No jargão policial, CV também designa a facção criminosa Comando Vermelho.

Comunidade ampla e diversa

Metrópoles entrou em contato com a UnB para que a universidade se posicionasse sobre o planejamento dos alunos. Segundo a instituição, não há como a universidade se responsabilizar por atos cometidos ou opiniões emitidas por membros da ampla e diversa comunidade acadêmica.

“Textos de estudantes publicados em qualquer esfera pública não refletem, necessariamente, a opinião da Administração Superior da UnB. De toda e qualquer forma, repudiamos gestos de intolerância ou ameaças que desrespeitem os direitos humanos, a liberdade de pensamento e a diversidade”, aponta a nota.

Atos em 10 capitais brasileiras

Entidades e lideranças sociais que fazem oposição ao governo do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) convocaram atos em pelo menos 10 capitais brasileiras para este fim de semana. Em Brasília, os protestos se concentrarão na Esplanada dos Ministérios. No sábado, há manifestação marcada para as imediações do Museu Nacional. No domingo, em frente ao Congresso Nacional.

A maior parte dos protestos se designa como “antifascista” e traz reivindicações como o fim do racismo e da violência institucional contra a população negra, além de críticas à postura do governo federal no enfrentamento à pandemia do novo coronavírus.

Em contrapartida, apoiadores de Bolsonaro também marcaram protestos em defesa do governo, em áreas perto das definidas pelos grupos contrários. Temendo confrontos, o presidente pediu aos apoiadores que não vão às ruas no domingo: um servidor da Polícia Federal, que tem participado de atos pró-Bolsonaro, chegou a ameaçar atropelar participantes da manifestação antifascista em Brasília.

A agenda de protestos do fim de semana e o acirramento dos ânimos levou o Governo do Distrito Federal a cogitar a convocação da Força Nacional para a segurança durante os atos na capital: assunto discutido no encontro de Bolsonaro com o secretário de Segurança do DF, Anderson Torres. Mas a ideia foi descartada nesta sexta-feira, após análise do governador Ibaneis Rocha (MDB).

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O Outro lado

Em nota, o Centro Acadêmico de Filosofia da UnB, entidade que representa os estudantes de filosofia, se manifestou sobre os prints vazados do grupo de WhatsApp.  Segundo os estudantes, nao existe qualquer intenção dos universitários em ter controle sobre o que é postado e pensado pelas pessoas do grupo de filosofia nas conversas por meio do aplicativo.  “Defendemos a liberdade de expressão de maneira irrestrita e iremos nos posicionar em defesa de cada estudante que foi exposto nos prints e sofreu ameaças por isso”, diz a nota.

Os representantes do centro acadêmico ainda ressaltaram que o vazamento teria servido apenas como desculpa para ataques coordenados aos estudantes. “Não é a primeira vez que somos estigmatizados de maneira pejorativa, tampouco é a primeira vez que somos alvos de ataques. O Centro Acadêmico de Filosofia vem a público reiterar que não nos intimidaremos com os ataques, essas ações só reforçam a nossa luta e nosso posicionamento contra o fascismo. Mais uma vez e quantas vezes for necessário: Fascistas não passarão”, afirma a nota

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