A alta dos jovens infratores reincidentes, em grande parte, está associada ao tráfico de drogas. Em fevereiro de 2008, essa era a razão para a volta de 211 jovens à Fundação Casa. Dez anos depois, eram 947 os adolescentes de volta à instituição devido ao tráfico, um salto de 350%.
O crescimento foi tanto que, a partir de 2013, o tráfico de drogas ultrapassou o índice de roubo qualificado (assalto praticado com mais gravidade). Os dois crimes lideram de forma isolada a tabela dos atos infracionais de reincidência, correspondendo respectivamente a 48% e 37% do total.
Traficar é "mais fácil" do que roubar
Fuchs, que é ex-vice-presidente do Conselho Nacional de Política Carcerária, pontua que “é muito mais ‘fácil’ você traficar do que roubar. "Roubar você precisa ter organização, está sujeito a violência, pode ter a reação da vítima ou ser preso em flagrante. O tráfico não, você tem escapatórias e o adolescente sabe disso’".
André*, de 18 anos, que está em sua terceira passagem pela Fundação Casa, desta vez por tráfico, corrobora a tese de Fuchs. "O roubo tem mais risco, porque você está saindo com a arma na mão e não sabe quem você vai roubar. E o tráfico tem mais segurança, porque você pode estar ali com os seus amigos e você só vai vender suas drogas, você não vai colocar arma na cara da vítima", diz o jovem, preso por roubo nas duas primeiras vezes.
Além do aumento de renda, o status entre os colegas também vem com o tráfico, lembra Malvasi. "É um mercado forte, que realmente gera oportunidade de postos de trabalho. Além de gerar renda, você tem associado a alguns status entre os jovens. Se ele pode ter mais dinheiro, ter uma bicicleta melhor, um óculos, um tênis bacana ou frequentar uma festa", afirmou o pesquisador.
Liana de Paula também analisa que "deve-se olhar mais o que está acontecendo no movimento da Justiça Juvenil". "Eles [segurança pública] prendem, prendem, prendem menores por tráfico e isso nunca produz o resultado esperado. Prende um de manhã e à tarde tem outro, são facilmente substituíveis. Você está prendendo muito e prendendo mal. É enxugar gelo".
Para o secretário de Justiça e presidente da Fundação Casa, Márcio Elias Rosa, os problemas na Lei de Drogas do país, que não tem clareza ao diferenciar quantidades para uso e para tráfico, contribuem para a reincidência dos adolescentes.
"O Brasil não tem uma boa legislação no campo das drogas, da política de drogas. E também não conseguiu definir ainda uma boa política de saúde pública e assistência social para acolher os usuários de substâncias psicoativas", diz o secretário. "[Internos por tráfico] sempre tráfico de pequena quantidade, nenhuma associação significativa com o crime organizado, é uma conduta individual. E não há, depois do período em que ele cumpre medida socioeducativa, uma política de acolhimento deste usuário, que também é traficante".
* Nome fictício
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