Maioria dos jovens infratores apreendidos no Rio já cometeu outra infração antes
Dado é fruto de levantamento feito pela juíza Vanessa Cavalieri, da Vara da Infância e da Juventude da Capital, divulgado nesta terça-feira pelo jornalista Ancelmo Góis
RIO - Mais da metade dos jovens que tiveram infrações registradas na cidade do Rio em 2017 e 2018 já tinha cometido algum tipo de irregularidade antes. O dado é de um levantamento feito pela juíza Vanessa Cavalieri, da Vara da Infância e da Juventude da Capital, divulgado nesta terça-feira pelo jornalista Ancelmo Góis . Ao todo, 2575 dos 4842 jovens apreendidos nos últimos 2 anos já tinham registros de infrações anteriores no sistema.
- O número é alto, mas faltam políticas públicas que ajudem a baixá-lo. A prefeitura precisa reforçar seu programa de liberdade assistida, por exemplo. Uma versão piloto da iniciativa com 480 jovens e suporte de assistentes sociais e outros profissionais registrou taxa de reincidência de apenas 4% poucos anos atrás - afirma Vanessa.
A análise da juíza reúne ainda outras informações. De acordo com o estudo, 71% dos jovens infratores com idades entre 12 e 15 anos que foram internados em 2017 e 2018 não cometeram novo ato infracional ou crime. Quando se considera a faixa que vai de 16 a 18 anos, o índice cai para 36%.
Segundo Vanessa, isso acontece porque, em geral, os garotos mais novos têm menor envolvimento com o crime no momento da internação. A situação faz com que o procedimento apresente melhores resultados com eles do que com os mais velhos, que costumam ser internados quando já estão mais comprometidos com a criminalidade.
- Da mesma forma que ficar preso representa um susto, significa também, a longo prazo, maiores dificuldades para conseguir um emprego e isso é especialmente cruel para os mais velhos - afirma a socióloga Sílvia Ramos.
De acordo com o levantamento, 68% dos jovens que cometeram irregularidades no Rio nos últimos dois anos tinham entre 16 e 18 anos e 49% eram acusados de roubo, tipo de infração mais comum. Em média, cada infrator tem 4 irmãos, número duas vezes maior que a média nacional registrada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Para Vanessa, esse detalhe mostra que os infratores são filhos de famílias que crescem sem planejamento.
Outro dado que merece destaque é o fato de que 71% dos jovens com anotações estavam fora da escola quando cometeram as infrações.
- É importante saber porque esses adolescentes evadem da escola. O jovem, antes de evadir, dá alguns sinais. É preciso investir no adolescente e sua família - resume Pedro Pereira, doutorando em serviço social pela UFRJ e coordenador do Centro de Defesa dos Direitos da Criança do Adolescente do Rio de Janeiro
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