terça-feira, 4 de maio de 2021

Lei de ajuda a setor de eventos é sancionada

 

Por Pedro Henrique Gomes, G1 — Brasília

 


Bolsonaro anuncia sanção com vetos de lei que prevê ajuda ao setor de eventos na pandemia
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Bolsonaro anuncia sanção com vetos de lei que prevê ajuda ao setor de eventos na pandemia

O presidente Jair Bolsonaro anunciou nesta segunda-feira (3), sem dar detalhes, a sanção com vetos da lei que prevê ajuda ao setor de eventos durante a pandemia.

Em um pronunciamento à imprensa no Palácio do Planalto, Bolsonaro disse que os vetos visam evitar a "judicialização" da lei. Ao lado do presidente, o ministro da Economia, Paulo Guedes, afirmou que os trechos vetados evitam "imperfeições jurídicas" que "acabem atrapalhando".

A lei foi aprovada pelo Congresso Nacional no mês passado. O texto enviado para sanção estabelece ações emergenciais para o setor de eventos a fim de de reduzir as perdas causadas pela pandemia por meio da criação do Programa Emergencial de Retomada do Setor de Eventos (Perse).

"Aproveitar o máximo possível do projeto para atender as categorias, mas alguns vetos se farão necessários para evitar até uma judicialização, o que nós não queremos. Queremos a solução", disse Bolsonaro.

Entre outros pontos, o texto aprovado pelo Congresso prevê:

  • possibilidade de renegociação de dívidas, tributárias ou não;
  • descontos de até 70%;
  • prazo de até 145 meses para quitação.

Brasil fechou 1,3 milhão de empregos em turismo e eventos
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Brasil fechou 1,3 milhão de empregos em turismo e eventos

Redução de alíquotas a zero

A redação aprovada pelo Congresso reduzia a zero, por 60 meses, as alíquotas de PIS-Pasep e Cofins incidentes sobre as receitas decorrentes das atividades de eventos e da Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL) sobre o resultado das empresas.

Segundo o secretário especial de Produtividade, Emprego e Competitividade do Ministério da Economia, Carlos da Costa, no entanto, o trecho foi vetado.

De acordo com ele, não existia "uma estimativa que coubesse dentro das compensações tributárias que precisariam ser feitas" com a redução dos impostos.

"O volume de compensações tributárias que deveria ser feito caso tudo fosse sancionado teria um aumento de imposto sobre outros setores, que é algo que o presidente sempre falou que é contra", afirmou Carlos da Costa.

Outro veto, conforme o secretário, diz respeito ao item da lei que tratava sobre empréstimos do Fundo Garantidor de Investimentos (FGI). Segundo Carlos da Costa, a medida ia de encontro a "alguns dispositivos legais".

Empresas que devem ser atendidas pela nova lei

Os benefícios criados pela lei valem para:

  • empresas de congressos, feiras, eventos esportivos, sociais, promocionais ou culturais, feiras de negócios, shows, festas, festivais, simpósios ou espetáculos em geral, casas de eventos, casas noturnas, casas de espetáculos;
  • firmas da área de hotelaria em geral;
  • administradores de salas de cinema;
  • prestadores de serviços turísticos.

Será prorrogada até o dia 31 de dezembro de 2021, apenas para estes setores, a lei que dispensa reembolso por cancelamento de eventos durante a pandemia da Covid-19.

segunda-feira, 3 de maio de 2021

Câmara aprova urgência para projeto que abre caminho para privatização dos Correios

 


Pela proposta, a União deverá manter o chamado "serviço postal universal”, que inclui encomendas simples, cartas e telegramas

20/04/2021 - 19:45   •   Atualizado em 20/04/2021 - 22:45

Pablo Valadares/Câmara dos Deputados
Discussão e votação de propostas. Presidente da Câmara, Arthur Lira (PP - AL)
Sessão do Plenário da Câmara dos Deputados

A Câmara dos Deputados aprovou nesta terça-feira (20), por 280 votos a 165, o regime de urgência para o Projeto de Lei 591/21, que autoriza a exploração dos serviços postais pela iniciativa privada, inclusive os prestados hoje em regime de monopólio pela Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos (ECT), estatal 100% pública.

O regime de urgência permite acelerar a análise do texto, mas ainda não foi definida a data de votação do mérito do projeto.

Pela proposta, de autoria do Poder Executivo, a União manterá para si os serviços mais básicos, como encomendas simples, cartas e telegramas (o chamado “serviço postal universal”).

A proposta é considerada, por muitos parlamentares, a privatização dos Correios, embora não trate sobre a venda da estatal. O projeto é alvo de forte oposição de partidos contrários ao governo Bolsonaro e também teve voto contrário do MDB.

Vários partidos optaram por liberar o voto dos deputados diante da controvérsia. O deputado Edio Lopes (PL-RR), por exemplo, afirmou que o PL foi favorável à urgência mas não tem acordo sobre o tema do projeto.

Relator da proposta, o deputado Gil Cutrim (Republicanos-MA) disse que vai conversar com todos os atores envolvidos e estabelecer amplo diálogo para construir um texto novo. Ele disse que é preciso modernizar a administração pública no contexto de aumento de gastos públicos.

Pablo Valadares/Câmara dos Deputados
Discussão e votação de propostas. Dep. Gil Cutrim(REPUBLICANOS - MA)
Deputado Gil Cutrim é o relator do projeto

“A dívida pública do País cresceu em larga escala durante a pandemia, por isso racionalizar os gastos públicos e modernizar a administração pública devem ser prioridade”, afirmou Cutrim. Ele disse que é preciso criar “instituições fortes sem interferências políticas”.

Falando em nome do governo, o deputado Capitão Alberto Neto (Republicanos-AM) destacou que foi eleito um governo com agenda liberal, o que inclui privatizações. “O governo tem uma pauta liberal, e os setores têm de ser privatizados e regulados pelo governo”, disse. Neto destacou ainda que os Correios só registraram lucro em 2020 “porque acabou a roubalheira”.

O lucro de R$ 1,5 bilhão registrado em 2020 foi um dos argumentos contra a privatização da estatal. O deputado Henrique Fontana (PT-RS) disse que a proposta vai na contramão do crescimento do País. “Em vez de o País ganhar dinheiro, modernizar as atividades dos Correios, em vez de nos espelharmos em mais de 80% dos países que têm serviços nacionais de correio, aqui a prioridade é vender o patrimônio público na bacia das almas”, criticou.

O líder da Minoria, deputado Marcelo Freixo (Psol-RJ), destacou que a importância dos Correios aumentou sobremaneira na pandemia. “O que a gente vê é a tentativa de retirar uma empresa pública da concorrência no mercado. Querem acabar com uma empresa eficiente e com equilíbrio”, acusou.

Saiba mais sobre a tramitação de projetos de lei

Reportagem – Eduardo Piovesan e Carol Siqueira
Edição – Pierre Triboli

Fonte: Agência Câmara de Notícias

Expulso da PM de SP, cabo vira advogado e ganha próprio processo de reintegração

 












ROGÉRIO PAGNAN
·6 minuto de leitura

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) - Das primeiras suspeitas que o levariam a ser expulso da Polícia Militar, sob acusação de peculato, até a decisão final que o inocentou, foram quase dez anos. Nesse intervalo, Thiago Oliveira Lacerda, 41, formou-se em direito, enfrentou a "desonra" para conseguir sua habilitação como advogado e, atuando em causa própria, conseguiu ganhar na Justiça o direito de ser reintegrado à corporação.

Desde o final do mês passado, quando sua reintegração foi publicada no Diário Oficial do Estado, o PM é um dos assuntos mais comentados entre os policiais paulistas por conta dessa trajetória única, da difícil vitória obtida no Tribunal de Justiça Militar (TJM) e pela quantia que deverá receber de direitos atrasados --cerca de R$ 500 mil.

"Minha absolvição explodiu no Estado todo. Tem muita gente me ligando, porque essa decisão ressuscita o ânimo de muitas pessoas que estão em situação parecida", disse Lacerda ao jornal Folha de S.Paulo.

A ocorrência que causou quase uma década de sofrimento ocorreu na noite de 2 setembro de novembro de 2011. Um morador da Freguesia do Ó, na zona norte de São Paulo, acionou a PM para "averiguação de atitude suspeita". Um desconhecido havia pulado um muro e largado objetos na calçada.

Uma equipe foi encaminhada e Lacerda, como superior hierárquico (cabo) e mais experiente, decidiu apoiar os colegas na ocorrência porque havia estado no mesmo local pouco mais cedo, por suspeita parecida, mas infundada. O apoio de colegas em ocorrências é algo comum no policiamento ostensivo.

No local, não havia mais nenhum suspeito, apenas objetos sem valor jogados na calçada. Conforme Lacerda lembra, havia um guia de macumba, santinhos em papel e bijuterias, como anéis "que vêm em chiclete". Também havia duas garrafas abertas, parcialmente consumidas, uma delas de bebida alcoólica, possivelmente utilizada nos rituais religiosos da esquina-encruzilhada.

"O solicitante disse: 'eu só quero que tire isso da porta a minha casa, policial. Não quero ocorrência, não quero ir ao DP, não quero fazer nada'", conta Lacerda.

Os policiais decidiram consultar o sargento comandante. Ao ver o material, a decisão foi a mais simples. "Só tem tranqueira, não tem vítima; pode jogar fora. Se levar para a delegacia, o delegado não vai apreender, não tem nada. Pode jogar fora", disse o sargento, conforme confirmaria depois.

Para Lacerda, fazendo todos os registros sobre aquela decisão, a publicidade necessária, o futuro demonstrou ter sido uma decisão errada. "Esse foi o grande erro. Porque a grande dúvida da PM passou a ser de que nós pegamos esse material para a gente. Furtado, entre as aspas, aquelas coisas. Mas todos avaliaram que não havia nada."

Essas suspeitas surgiram na manhã seguinte, quando uma vizinha do local onde os objetos foram localizados procurou a unidade da PM da região para ver se, entre o material encontrado, havia joias dela. A mulher alegava que sua casa havia sido furtada naquela noite e algumas joias foram levadas pelos criminosos, embora não tivesse queixa registrada nem registro dos bens alegados.

Ainda que sem provas de que os policiais ficaram com objetos de valor, ou que mulher falasse a verdade, a PM pediu a expulsão dos quatro policiais envolvidos na ocorrência. Dois deles pediram demissão antes da conclusão do processo. "Só a palavra dela valeu. A nossa não valeu nada. Só a da mulher, por ser advogada, valeu 100%", disse Lacerda.

No meio da investigação, desgostoso com a corporação, Lacerda pensou em pedir baixa. "Preenchi toda a documentação, mas, na última hora, pensei: pô, já que vou advogar mesmo, vou brigar. Se eu pedir baixa, não tenho mais chance. Se deixar me expulsar, tenho como provar lá na frente que eu não fiz nada'. Foi nessa mentalidade que fui levando."

Lacerda concluiu a faculdade de direito na Uninove em agosto de 2014, três meses antes de ser expulso. Foi aprovado no exame da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) de primeira, mas a expulsão da PM atrapalhou essa liberação. "O processo que iria durar 15 dias durou três anos. Eu dei entrada na OAB em fevereiro de 2015, e somente em dezembro de 2017 me deram o registro, que peguei em maio de 2018. Olha só o tamanho do prejuízo que a PM me arrumou", disse.

O motivo, conta ele, foi a carteira de reservista devolvida pela PM.

"Quando eles te expulsam, eles te dão uma maldita carteira de desonra de reservista, que ninguém conhece. E a pessoa da OAB que pegou meus documentos nunca tinha visto aquele documento, um certificado de despensa com desonra. A OAB abriu, então, um processo para ver se eu era digno de ser advogado. Aí, acabou minha vida de vez", afirmou.

O processo que Lacerda iria enfrentar no TJM previa uma pena, em caso de condenação, de 3 a 15 anos de prisão. E o processo dele caiu com o juiz Ronaldo João Roth, da 1ª Auditoria Militar, magistrado recordista em condenações de policiais corruptos. "Eu poderia pega 15 anos de cadeia. Imagina?", disse Lacerda.

O magistrado, porém, ao analisar todas as provas¸ as versões apresentadas pela defesa e pela acusação, decidiu pela absolvição dos réus. Não pela falta de provas, como queria a Promotoria, mas por inexistência de crime. "Ademais, a conduta dos acusados em se desfazer dos bens abandonados e sem valor, não os apresentando na Delegacia de Polícia, foi em razão da determinação do CGP, sargento PM Marco Antônio, segundo a versão dos réus e respaldada pelo depoimento do motorista da viatura daquele, o Sd PM Celso Rodrigo Fernandes. Então, não houve o peculato", diz a sentença.

Em novembro de 2019, depois de ter seu pedido de reintegração negado pela PM, o advogado Thiago Lacerda ingressou com pedido no Tribunal de Justiça Militar. Venceu em primeira e segunda instâncias. Em fevereiro de 2021, sustentou oralmente por que deveria voltar à PM.

"Vivi minha vida com dignidade, de lá para cá tenho exercido a advocacia, tenho ajuda de muitos policiais militares, no âmbito administrativo, criminal e até na esfera comum. Não perdi minha idoneidade. Não fui preso, não respondi processo, não fiquei indignado e comecei a fazer tatuagem. Não", afirmou ao magistrado, conforme gravação. "Estou tão apto hoje para ser policial militar quanto estava em 2010, 2011, 2012, 2013, 2014."

Foi vitória foi unânime.

Mas, agora, Lacerda está com dúvidas. "Preciso voltar para receber os atrasos e fazer essa contagem de tempo, mas não estou com vontade nenhuma de voltar. Ser policial, como eu fui, acho, não dá mais. Eu adorava a PM", disse.

Procurada, a Polícia Militar informou que, segundo o decreto federal nº 20.910, de 6 de janeiro de 1932, "qualquer direito ou ação contra a Fazenda federal, estadual ou municipal, seja qual for a sua natureza, prescreve em cinco anos contados da data do ato ou fato do qual se originarem".

A OAB informou que, tendo em vista os documentos apresentados por Lacerda, o pedido foi encaminhado para análise e apreciação do Tribunal de Ética e Disciplina da entidade, como determina o estatuto.

"A finalização de análise e julgamento de processos administrativos internos varia conforme a complexidade do caso", finaliza nota.