Lei que amplia margem do empréstimo consignado foi sancionada sem vetos por Bolsonaro
Lei que amplia margem do empréstimo consignado foi sancionada sem vetos por Bolsonaro
Contábeis

aumento na margem do empréstimo consignado a aposentados e pensionistas do INSS (Instituto Nacional do Seguro Social), que acaba de entrar em vigor no país, pode não ser tão vantajoso apesar de a taxa de juros ser mais baixa que outras aplicadas no mercado. Simulações feitas pelo R7 demonstram que, considerando o teto de juros mensais de 1,8% e o prazo-limite de 84 meses, a dívida poderá custar quase o dobro (95%) no final do contrato.

A lei que amplia a margem do consignado de 35% para 40% do valor do benefício foi sancionada sem vetos pelo presidente Jair Bolsonaro e publicada nesta quarta-feira (31) no Diário Oficial da União. A medida foi tomada em função da pandemia de covid-19 e determina como prazo final para as novas contratações o dia 31 de dezembro de 2021.

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O texto aprovado também prevê a possibilidade de suspensão das parcelas do empréstimo por quatro meses, conforme avaliação de cada instituição financeira. Essa carência valerá para as antigas e novas operações de consignado.

Especialistas ouvidos pelo R7, contudo, recomendam que aposentados recorram ao consignado apenas em casos emergenciais, pois nem sempre o empréstimo pessoal vale a pena. Para isso, foram feitas algumas simulações que já consideram a nova margem de 40%. Veja a seguir:

Para quem ganha o piso (R$ 1.100)

- O aposentado que conseguir um empréstimo de R$ 23,2 mil com taxa de juros de 1,2% (a menor do mercado) vai pagar, ao final de 84 parcelas (prazo máximo) de R$ 440 (o equivalente a 40% do benefício), um total de R$ 36.960 (dívida 59% maior);

- Se o aposentado tomar o empréstimo com o teto da taxa de juros, 1,8%, poderá pegar R$ 18.900. Vai pagar as 84 parcelas de R$ 440 e terá gasto, ao final do contrato, os mesmos R$ 36.960 (mas aqui a dívida fica 95% maior).

Para quem ganha R$ 3 mil*

- Com juros a 1,2%, o aposentado pode pegar um empréstimo de R$ 63 mil e pagar em 84 parcelas de R$ 1.200. No final, terá pago R$ 100.800 (59% a mais que o valor tomado), além de IOF e outras taxas;

- Se a taxa de juros for a mais alta, 1,8%, o empréstimo máximo poderá ser de R$ 51,7 mil. O aposentado vai pagar as mesmas 84 parcelas de R$ 1.200. O total pago também serão os mesmos R$ 100.800 (além de IOF e outras taxas), mas neste caso a dívida fica 95% maior.

(*) Sobre os benefícios acima de R$ 1.903,98 incide ainda o desconto do Imposto de Renda (para quem tem menos de 65 anos)

Apenas em emergências

Para o economista Hugo Garbe, professor de economia e finanças da Universidade Presbiteriana Mackenzie, o aposentado só deve recorrer ao consignado em último caso, como em emergências médicas. "A pessoa precisa ter em mente que é uma dívida longa. Ela deve pensar se conseguirá sobreviver com uma renda 40% menor nesse período", afirma.

Ainda assim, se a opção for mesmo pelo empréstimo, o aposentado deve pesquisar as melhores taxas do mercado, em geral nos bancos públicos. "Além disso, não se deve jamais tomar uma decisão por impulso. Antes de assinar o contrato, o ideal é que a pessoa converse antes com os familiares para ter certeza de que é a decisão certa", diz Garbe.

Test-drive

A contadora e educadora financeira Cíntia Senna concorda. Ela diz que o primeiro passo é refletir sobre a finalidade do empréstimo. "Muitas vezes, a pessoa pega o consignado para pagar outro débito, e isso não vale a pena. É melhor tentar negociar a dívida original", diz.

Cíntia também sugere que o aposentado faça uma espécie de test-drive. "Se ele ganha o piso, deve tentar passar um mês vivendo com apenas R$ 660 (que é o que vai sobrar com o desconto de 40% do benefício). Como trata-se de uma dívida longa, é importante saber se conseguirá viver com o rendimento mais baixo."

Outro alerta da especialista diz respeito ao assédio das instituições bancárias e financeiras. "O consignado é dinheiro líquido e certo para os bancos, por isso tentam empurrar a todo custo. Muitas vezes, o aposentado contrata o empréstimo porque foi ludibriado por um funcionário", afirma. Para evitar esse tipo de aliciamento, Cíntia recomenda que seja solicitado o bloqueio de empréstimos no aplicativo Meu INSS ou pelo telefone 135. "Caso a pessoa mude de ideia, é só fazer o desbloqueio."

Outras categorias

A nova lei estende o limite de 40% para o crédito consignado para outras categorias, como servidores públicos federais, trabalhadores com carteira assinada (CLT), militares das Forças Armadas, policiais militares e servidores públicos estaduais e municipais (ativos e inativos).