sábado, 1 de junho de 2024

Falta de policiais e servidores põe em xeque prazo e eficiência de fiscalização de CACs pela PF

 


Governo considera adiar transferência da atividade a cargo do Exército para que polícia consiga recursos e pessoal para assumir a atribuição; prazo estipulado pelo presidente Lula era janeiro de 2025

28 mai2024- 09h40

BRASÍLIA - O governo federal considera adiar a transferência para a Polícia Federal (PF), prevista para janeiro, da atividade de fiscalização dos Caçadores, Atiradores e Colecionadores (CACs), hoje a cargo do Exército. A pouco mais de seis meses para que a transição seja consolidada, ainda não há deliberação sobre o reforço no quadro de servidores e de policiais que a PF solicitou para assumir a atribuição.

A polícia pediu 1.170 servidores administrativos, além de 1.002 policiais (222 delegados, 195 psicólogos e 585 agentes) e 700 terceirizados, como revelou o Estadão. Seriam necessários dois concursos públicos, um para os servidores e outro para policiais - ambos paralelos ao Concurso Nacional Unificado (CNU), o 'Enem dos Concursos', adiado em virtude da tragédia climática no Rio Grande do Sul.

PUBLICIDADE
Governo considera adiar transferência da fiscalização de CACs, hoje a cargo do Exército, até que a PF consiga recursos e pessoal para assumir a tarefa
Governo considera adiar transferência da fiscalização de CACs, hoje a cargo do Exército, até que a PF consiga recursos e pessoal para assumir a tarefa
Foto: Tiago Queiroz/Estadão / Estadão

O Exército usa cerca de 2 mil militares para atividades de fiscalização de CACs e demais produtores controlados. O efetivo total da Polícia Federal é de cerca de 14 mil pessoas.

O Ministério da Gestão e Inovação informou à reportagem que ainda "avalia o pedido de autorização do Ministério da Justiça e Segurança Pública para abertura de concurso". Em nota, a pasta destacou ainda que autorizou, em 2023, o "provimento excepcional de 201 vagas do Concurso de 2021, convocando os nomeados nos cargos de delegado (30), agente (90) e escrivão".

A contratação dos servidores administrativos e a admissão dos funcionários terceirizados são consideradas básicas para que a PF possa, ainda que em ritmo reduzido, iniciar o trabalho de fiscalização. Contudo, o prazo é considerado exíguo para realização do concurso e do treinamento dos servidores antes de janeiro.

A contratação dos terceirizados também depende de um aporte financeiro para que a PF proceda a novas licitações ou aditivos contratuais, procedimentos que demandam meses corridos. Com relação ao concurso para policiais, a avaliação interna é a de que eles só estariam disponíveis no final do ano que vem, mesmo se a autorização para o processo seletivo saísse hoje.

PUBLICIDADE

Com os entraves orçamentários e de pessoal, o cenário de adiamento da transferência da fiscalização passou a ser considerado em setores do governo. No Congresso, parlamentares que militam na área de segurança pública também avaliam que será necessário mais prazo.

A transferência foi determinada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em decreto publicado em julho de 2023. A medida foi baseada no entendimento do novo governo de que o Exército falhou ao prestar o serviço e no de que a PF seria mais eficiente. No Exército, a determinação primeiro causou incômodo por representar uma perda de atribuição e de poder. Recentemente, a avaliação é de que os militares estarão livres de um "problema

Após pressão da bancada da bala no Congresso, o Exército vai aumentar de dois para quatro o limite de armas que policiais e bombeiros militares podem comprar

 


Nova portaria permite aquisição de armas de alto calibre. (Foto: Stockphotos)

Depois de grande pressão da bancada armamentista no Congresso, o Exército vai aumentar de dois para quatro o limite de armas que policiais e bombeiros militares podem comprar. Dessas quatro, duas podem ser armas de uso restrito, o que até agora não está autorizado, e nenhuma pode ser um fuzil. A portaria não deve retroagir para quem já realizou a compra, asseguram interlocutores do governo federal.

Uma nova portaria sobre o assunto será publicada no Diário Oficial da União (DOU) nos próximos dias, menos de um mês após o Exército definir a última regulamentação. Em 20 de maio, o Exército definiu em duas armas o limite para PMs e bombeiros inativos. Quando em serviço ativo, o teto foi cortado de seis para quatro armas, sendo duas dela de uso restrito, e um fuzil.

As restrições irritaram a bancada da bala, que foi a campo para tentar derrubar a portaria inteira, mas o governo vetou a ideia. Ficou acertada, então, a revisão apenas para os inativos. O acordo foi costurado pelo ministro da Defesa, José Múcio Monteiro.

“Como tirar o direito de um policial que deixa a ativa? Só na cabeça de um desarmamentista idiota”, afirmou o deputado federal Alberto Fraga (PL-DF).

Amigo do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), foi o parlamentar quem levou a bancada da bala ao gabinete de Múcio para expor a insatisfação do grupo. “Fora que o profissional das Forças Armadas ainda pode ter até seis armas. Por que os policiais militares, que vivem em verdadeiras guerras, só podem ter quatro? Isso é discriminação, parte da premissa de que os policiais militares são inferiores às Forças Armadas”, acrescentou Fraga.

Documentos

No início do ano, antes da portaria do Exército contestada pela bancada da bala, o Exército havia autorizado a compra de até cinco armas restritas para PMs, com possibilidade de todas serem modelos de fuzis. Dias depois, o Exército suspendeu a medida em gesto ao ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski, que tomaria posse no dia em que as novas regras entrariam em vigor.

O documento especificava que representantes da corporação só poderiam ter em sua posse quatro armas, sendo duas de uso restrito e duas de uso permitido. Das armas de uso pessoal, poderiam ser adquiridas até uma arma portátil longa de alma lisa, isto é o interior do cano é liso, e uma de alma raiada, em que o interior do cano tem estrias que ampliam a precisão do tiro.