‘Que essa monstra vá a júri popular’, diz mãe sobre comprovação de envenenamento da filha; madrasta é suspeita
Na terça-feira (6), Jane Cabral chorou e se disse aliviada ao saber que o crime cometido contra Fernanda Cabral está sendo comprovado e não ficará impune. Outro laudo mostrou que Cintia Mariano tentou envenenar Bruno Cabral, outro filho de Jane.
Por Eliane Santos, g1 Rio
Jane Cabral com a filha Fernanda, que morreu em março: "Crime está sendo comprovado" — Foto: Reprodução/Redes Sociais
"Graças a Deus”. Foi com essa expressão e muito choro que Jane Cabral reagiu ao saber que análises feitas após a exumação do corpo da filha, Fernanda Cabral, de 22 anos, mostraram que a jovem foi mesmo vítima de envenenamento por parte da madrasta Cíntia Mariano.
“É uma sensação de alívio muito grande. Tinha muito medo que não se fizesse justiça, que essa monstra conseguisse escapar. Sei que ela ficaria presa pelo que fez com o Bruno, mas quero justiça pela Fernanda também. Sei que nada vai trazer minha filha de volta, mas quero que essa monstra vá a júri popular”, disse bastante emocionada.
Ao saber que parte da comprovação do envenenamento de Fernanda veio a partir de cruzamento de informações obtidas no prontuário médico da estudante, Jane lembrou do atendimento da filha e contou que os médicos descartaram essa hipótese.
“No segundo dia de internação da Fernanda, eu perguntei a um médico se não poderia ser envenenamento, mas ele disse que não, que isso tinha sido descartado no exame toxicológico feito nela. Mas depois me disseram que esse exame nem é feito no Albert Schweitzer. Mentiram para mim ou tiveram uma conduta negligente, displicente”, diz Jane, que aguarda agora a conclusão do inquérito que está na 33ª DP (Realengo) e a transformação do mesmo em denúncia pelo Ministério Público.
O g1 questionou a Secretária Municipal de Saúde sobre a conduta adotada no tratamento da estudante Fernanda Cabral, que respondeu que a jovem recebeu todos os cuidados para salvar sua vida.
“Fernanda recebeu todos os cuidados na tentativa de salvar sua vida, sendo internada em UTI, porém não resistiu. Não houve, na entrada ou durante o período de internação, qualquer relato da família que pudesse levar à hipótese de causa externa suspeita ou violenta. O óbito foi notificado no sistema do Ministério da Saúde, como protocolo para as circunstâncias até então conhecidas”, informou a SMS, sem, no entanto, confirmar se a unidade faz ou não exame toxicológico e se o mesmo foi realizado em Fernanda.
“A investigação sobre os fatos, assim como os exames específicos que cabem à investigação e a determinação para que um corpo seja enviado ao IML são de competência da polícia”, disse.
“Muita coisa passa na cabeça nesse momento. Mas só quero que essa monstra vá a júri popular, que pegue pena máxima. Minha filha era só amor e alegria, não merecia uma coisa dessas”, diz.
Fernanda Cabral — Foto: Reprodução/Redes sociais
Laudo aponta chumbinho
Uma das análises feitas após a exumação do corpo da estudante Fernanda Cabral, de 22 anos, indicou que ela foi mesmo vítima de envenenamento. A mulher suspeita de ter cometido o crime é a madrasta dela, Cíntia Mariano.
A análise, feita pelo Instituto Médico Legal (IML) do Rio de Janeiro, já está na mão do delegado Flávio Rodrigues, titular da 33ª DP (Realengo). A delegacia conduz a investigação pela morte de Fernanda e por homicídio tentado contra o irmão dela.
"Recebi o laudo, sim, mas só vou falar sobre isso no final da semana. Ele não deu positivo, nem negativo, mas aponta para o envenenamento", disse o delegado ao g1.
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De acordo com uma fonte ouvida pelo g1, o laudo da exumação contém duas análises: uma toxicológica, feita pelo laboratório da UFRJ, e outra com o cruzamento de dados obtidos no hospital que atendeu Fernanda.
O laudo laboratorial foi inconclusivo, o que já era esperado, visto que a estudante ficou internada por 13 dias, mas as análises dos dados médicos feitas pelo IML indicam que houve, sim, o envenenamento.
O prontuário médico de Fernanda Cabral no hospital Albert Schweitzer já apontava que ela tinha sido vítima de intoxicação exógena produzida por algum inibidor da enzima acetilcolinesterase, fundamental para a propagação do impulso nervoso.
Esse tipo de inibição é produzida por carbamatos (popularmente conhecido como chumbinho) e pesticidas, e levam a chamada síndrome colinérgica com alterações do estado mental, fraqueza muscular e atividade secretória excessiva. Sintomas manifestados por Fernanda e Bruno quando deram entrada no hospital.
Laudo de irmão também apontou envenenamento
Cíntia Mariano: solícita e oferecendo feijão fresquinho — Foto: Reprodução
Essa é a segunda confirmação contra Cintia Mariano esta semana. Um laudo complementar do IML também identificou uma intoxicação por compostos carbofurano e terbufós no material gástrico de Bruno Carvalho Cabral, de 16 anos, que passou mal após comer feijão preparado pela madrasta.
Uma primeira parte do documento já havia detectado a presença de carbamatos, presente no veneno popularmente conhecido como chumbinho no dia 10 de junho.
O laudo serviu de base para a Justiça prorrogar a prisão temporária de Cintia Mariano por mais 30 dias.
O documento diz ainda que "caso a vítima não tivesse sido submetida a tratamento imediato, como ocorreu, provavelmente teria evoluído para o óbito”.
Bruno Cabral: exames após suposto envenenamento e intubação — Foto: Reprodução/Rede social
O caso
As suspeitas sobre a morte de Fernanda Cabral - cuja morte foi atestada como sendo por causas naturais - , só surgiram quando o irmão dela, Bruno, de 16 anos, começou a passar mal depois de um almoço na casa da madrasta, no dia 15 de maio.
No local, ele reclamou de ter recebido um feijão amargo e com algumas pedrinhas azuis. Em casa, com mãe, e já se sentindo mal, reclamou e falou sobre o alimento.
Madrasta (à esquerda) é suspeita de envenenar a enteada (à direita) — Foto: Arquivo Pessoal
No hospital, Bruno foi submetido a uma lavagem estomacal e a um exame de sangue que detectou níveis altos de chumbo em seu sangue.
Com a suspeita de que os filhos foram envenenados, Jane Carvalho Cabral, mãe dos jovens, registrou queixa na 33ª DP, em Realengo, que iniciou buscas na casa da madrasta.
"Ele já veio de lá com uma ansiedade, bem preocupado e achando que tinha acontecido algo estranho porque quando reclamou do feijão amargo de pedrinhas azuis, ela arrancou o prato da mão dele, colocando mais feijão e entregando pra ele depois. Quando ele veio pra cá, veio perguntando como fazia pra vomitar. Mais ou menos uns 40 minutos depois, começou todo o desespero que foi o que a Fernanda sentiu. Na mesma hora eu imaginei que o gosto amargo desse feijão poderia ser o suposto veneno", contou a mãe dos jovens.
Madrasta tentou se matar
Com a denúncia do caso, investigadores foram até a casa de Cíntia e recolheram o feijão para análise, mas antes do resultado do exame, na quinta-feira (19), a madrasta tentou se matar.
Ela foi levada para o hospital, se recuperou e, na sexta-feira(20), foi levada para a 33ª DP para prestar depoimento, quando teve sua prisão decretada.
Cíntia Mariano está presa no Complexo Penitenciário de Gericinó, em Bangu, na Zona Oeste.
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5 de jul de 2022 às 14:11