terça-feira, 15 de março de 2022

Polícia investiga escola infantil por maus-tratos de alunos em SP; vídeo mostra crianças chorando e presas com 'camisa de força' no banheiro

 

Por Deslange Paiva e Kleber Tomaz, g1 SP — São Paulo

 


Vídeos mostram crianças amarradas em banheiro de escola infantil na Zona Leste de SP
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Vídeos mostram crianças amarradas em banheiro de escola infantil na Zona Leste de SP

Polícia Civil investiga uma escola infantil particular da Zona Leste de São Paulo por suspeita de maus-tratos de alunos após vídeos, que circulam nas redes sociais, mostrarem pelo menos quatro crianças chorando amarradas, com os braços presos por panos, como se estivessem imobilizadas por 'camisas de força' (veja acima).

Nos vídeos é possível ver que as crianças estão dentro de um banheiro, sentadas em cadeirinhas de bebês, no chão, embaixo de uma pia e próximas à privada. Uma mãe disse ao g1 que identificou seu filho em dois vídeos.

g1 apurou que as imagens foram gravadas dentro da Escola de Educação Infantil Colmeia Mágica, na Vila Formosa, que é alvo de um inquérito policial aberto no Central Especializada de Repressão a Crimes e Ocorrências Diversas (Cerco) da 8ª Delegacia Seccional. Além do crime de maus-tratos, a delegacia investiga a unidade escolar por suspeita de periclitação da vida e da saúde, que seria colocar a vida das crianças em risco, e submissão de crianças a vexame ou constrangimento.

A denúncia chegou há pelo menos duas semanas ao Cerco-8 por meio dos vídeos que circulam na internet. A polícia ainda tenta identificar quem fez as filmagens. Até o momento ninguém foi responsabilizado pelos crimes.

A Colmeia Mágica atende crianças com menos de 1 ano de vida até 6 anos de idade, que são do berçário ao Jardim 2. Além desse caso, a escola já havia sido investigada há cerca de dois anos pela polícia por suspeita de maus-tratos contra um aluno. E em 2010, uma aluna chegou morta ao hospital após ter passado mal dentro da unidade escolar.

Com essas informações, a investigação pediu um mandado de busca e apreensão na unidade escolar por haver indícios de que os crimes seriam recorrentes. Na semana passada a Justiça autorizou que policiais fossem recolher lençóis que poderiam ter sido usados para prender as crianças. O celular da diretora da Colmeia Mágica também foi apreendido para análise. Peritos confirmaram ainda que os vídeos que circulam na web e mostram as crianças amarradas foram gravados dentro da escolinha.

Escola Colmeia Mágica foi pichada após vídeo mostrar crianças amarradas. Para investigação filmagem foi feita dentro da unidade escolar  — Foto: Reprodução/Redes sociais

Escola Colmeia Mágica foi pichada após vídeo mostrar crianças amarradas. Para investigação filmagem foi feita dentro da unidade escolar — Foto: Reprodução/Redes sociais

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g1 não conseguiu localizar a dona da escola para comentar o assunto até a última atualização desta reportagem. Nesta segunda-feira (14), os portões da Colmeia Mágica estavam cobertos com tinta escura. Antes haviam sido pichados com mensagens como "crime", "neonasistas [sic]", "desumano", "mals-tratos [sic]", "Justiça", "lixo", "demônio", "Deus ta vendo [sic]".

A mulher, alguns professores e funcionários da Colmeia Mágica já prestaram depoimentos na polícia. Pais de alunos também foram chamados pelos agentes para prestarem esclarecimentos na delegacia. Eles acusaram a diretora como responsável pelos maus-tratos.

A reportagem conversou com algumas mães que ficaram perplexas ao verem os vídeos que mostram as crianças com os braços imobilizados por panos, como se estivessem enroladas. Elas retiraram seus filhos da Colmeia Mágica após as denúncias. A escola teria suspendido as aulas em seguida.

Trauma

Bebês são filmados chorando e amarrados com espécie de 'camisa de força' em escola infantil, segundo a polícia — Foto: Reprodução/Redes sociais

Bebês são filmados chorando e amarrados com espécie de 'camisa de força' em escola infantil, segundo a polícia — Foto: Reprodução/Redes sociais

A mãe que identificou o filho de quase 2 anos nos vídeos que circulam na internet prestou depoimento à polícia.

"Identifiquei meu filho em dois vídeos. O primeiro, ele estava em um banheiro com mais quatro crianças amarradas, e no segundo, estava chorando com mais três bebês em uma sala no escuro", disse ao g1.

Segundo ela, seu filho ficou com sequelas em razão do trauma que sofreu. "Vem apresentando um nervosismo intenso, dificuldade para dormir, ele chora quando vamos colocar ele na cadeirinha do carro, sabe. Nós achávamos que era de desenvolvimento dele, mas hoje com todas essas informações sabemos que é devido à forma que ele era tratado. Ele estudava lá desde os 11 meses."

Castigo

Outra mãe, de uma menina de 1 ano e 4 meses, contou que "algumas professoras informaram que as crianças passavam o dia todo de castigo na sala dela [da diretora]" e que "as crianças que estavam fazendo desfralde ficavam trancadas no banheiro por horas".

A bebê dela ficava no berçário. "Minha filha ficava sem comer. As crianças que choravam muito eram amarradas no bebê conforto com um lençol, como se fosse uma 'camisa de força' e deixava eles trancados dentro do banheiro."

Água gelada no rosto

Crianças aparecem chorando em vídeo. Para a investigação gravação foi feita em escola infantil — Foto: Reprodução/Redes sociais

Crianças aparecem chorando em vídeo. Para a investigação gravação foi feita em escola infantil — Foto: Reprodução/Redes sociais

Outra mãe contou que o filho de 2 anos voltava chorando para casa depois de ficar na escola. "As professoras falaram que não sabiam o que acontecia lá dentro, mas ouviam os gritos dele chorando muito e ela [diretora] gritando mandando ele calar a boca."

Ela disse que ainda ouviu de uma professora que "a diretora jogou um copo de água gelada na cara dele [do seu filho] e mandou ele acordar para a vida."

Outros casos

Além da suspeita de maus-tratos deste ano contra a Colmeia Mágica, a escola já esteve envolvida em pelo menos mais dois casos envolvendo crianças que foram parar na polícia.

Fontes do g1 informaram que em meados de 2020 os pais de um menino fizeram um boletim de ocorrência no 41º DP, Vila Rica, para acusar a escola de maus-tratos contra seu filho.

Outro registro policial foi feito bem antes, em 2010, quando a aluna de aproximadamente 4 meses morreu ao chegar ao Hospital São Luiz após passar mal na Colmeia Mágica. O caso foi registrado como 'morte suspeita' no 30º DP, Tatuapé. Segundo outras mães ouvidas pela reportagem, esse inquérito policial foi arquivado.

Até a última atualização desta reportagem a Secretaria da Segurança Pública (SSP) não havia respondido qual foi a causa da morte da criança e qual foi a conclusão da investigação.

Por meio de nota, a pasta da Segurança comunicou apenas que a "Polícia Civil informa que os fatos citados são alvo de investigação pela instituição. Diligências e oitivas estão em andamento. Mais detalhes serão preservados para garantir a autonomia do trabalho policial."

Tinta escura cobriu pichações sobre portões da Colmeia Mágica  — Foto: Kleber Tomaz/g1

Tinta escura cobriu pichações sobre portões da Colmeia Mágica — Foto: Kleber Tomaz/g1

Especialista

O advogado Ariel de Castro Alves, presidente do Grupo Tortura Nunca Mais e membro do Instituto Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente, também assistiu às imagens gravadas na escola e comentou o caso.

“A polícia civil precisa instaurar inquérito para apurar a ocorrência do crime de maus tratos, previsto no Código Penal, e de submeter crianças a vexame e constrangimento, previsto no ECA, Estatuto da Criança e do Adolescente”, disse Ariel ao g1.

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    15 de mar de 2022 às 06:10

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    segunda-feira, 14 de março de 2022

    Servidores da Fundação CASA estão em Estado de GREVE

     Assembleia decide por estado de greve e manifestação em 21 de março

    Na noite de segunda-feira (14) a categoria socioeducativa, reunida em assembleia, deflagrou, com 91% de aprovação, o estado de greve a partir de hoje. Em busca de valorização e reajuste de 36% nos salários dos trabalhadores socioeducativos. Os socioeducadores presentes na assembleia também aprovaram, por 78%, a realização de uma grande manifestação em 21 de março, que será realizada na frente da sede da Fundação Casa.

    E também decidiu por 72% pelo caráter de assembleia permanente, caso seja necessário, conforme cheguem propostas oficiais da Fundação CASA, a categoria decida a melhor tática de luta pela valorização, saúde e segurança dos servidores.

    Lei da mordaça esteve presente no Sitsesp hoje em assembléia realizada virtualmente

     Fala Helena Machado, uma das lideranças da categoria em prol de benefícios para os servidores...



    Helena Machado, falando
    Hoje 14 de março de 2022, estava na assembleia da Campanha Salarial da minha categoria Fundação CASA, sindicato majoritário #SITSESP, pra começar o chat de bate papo estava cerceado, em uma posição total de mordaça aos trabalhadores (as), me inscrevi para fazer uma proposta e fui cercada do meu direito, uma Vergonha!
    A Presidente Claudia se porta como patroa e o pior, age como uma golpista!
    A categoria Fundação CASA, SEM VOZ!
    #Golpistas
    #ForaClaudia
    #SITSESP


    SERVIDORES dizem que assembléia dos servidores da Fundação CASA, não terá proposta



    Os servidores que participaram da reunião com o SITSESP, disseram que a assembléia que será realizada hoje, dia 14 de Março de 2022, até o momento não teve proposta, e que essa assembléia será somente pra informações e ajustes.

    Mesmo com a maioria da categoria sendo contra a assembléia virtual, porque sabemos que essas assembléias não tem transparência 100%, o SITSESP irá realizar a assembléia, mesmo sem o consentimento da maioria dos servidores, porém os trabalhadores que foram na sede do Sitsesp hoje, deixaram bem claro que a próxima assembléia será presencial, e deram a proposta que quem quiser participar virtual que participem, e que o anseio da maioria é assembléia presencial.

    Agora é aguardar a assembléia de hoje, pra ver se até o horário marcado vem alguma proposta por parte da instituição, e esperamos que essa gestão sindical não coloquem em pauta a escala de trabalho, porque a assembléia é para resolver nosso dissídio coletivo e não escala de trabalho.

    Contamos com a colaboração de todos que fizeram a inscrição, para que participem e dê sugestões para que possamos garantir benefícios para toda categoria.
     













    Vídeo da reunião entre servidores e sitsesp, realizadas hoje dia 14 de março de 2022


     Reunião hoje realizada entre os servidores e sitsesp 


    Homem receberá R$ 60 mil após ficar 6 meses preso por engano e perder o nascimento do filho em SP

     

    Por Mariane Rossi, g1 Santos

     


    Homem inocentado após ser acusado de roubar R$ 50 e ficar preso seis meses ganha indenização por danos morais — Foto: Arquivo Pessoal

    Homem inocentado após ser acusado de roubar R$ 50 e ficar preso seis meses ganha indenização por danos morais — Foto: Arquivo Pessoal

    Nelson Neves Souza Junior foi confundido com uma pessoa e ficou preso injustamente por seis meses em Praia Grande, no litoral de São Paulo. Ele provou que estava trabalhando na hora do crime e conseguiu sair da cadeia. Agora, ele ganhou uma indenização na Justiça e deve receber R$ 60 mil pelos danos morais causados pelo Estado.

    O crime ocorreu em junho de 2014. Segundo apurado pelo g1, dois homens roubaram R$ 1.400 de uma pessoa que foi abordada e intimidada na área de caixas eletrônicos em uma agência bancária no bairro Guilhermina. Além do dinheiro, a dupla teria levado o cartão da pessoa.

    A vítima identificou um dos suspeitos em um álbum fotográfico na delegacia. "Mas os dados atribuídos ao homem na foto eram, na verdade, do Nelson. Os dois têm fisionomias distintas: traços do rosto, cor da pele e até mesmo cabelos diferentes", explicou o advogado Erico Lafranchi, que defendeu o marceneiro no caso.

    O inquérito foi finalizado sem a indicação do comparsa e apresentado ao Ministério Público, indicando Nelson como um dos autores do crime. Ele foi denunciado, e a Justiça decidiu pela prisão preventiva. Nelson foi preso em casa às vésperas do Natal em 2017, e levado ao Centro de Detenção Provisória (CDP) de Praia Grande.

    "Eu acreditava que tudo não passava de um mal-entendido. Não era possível. Eu falei para minha mulher que voltava logo, pois acreditava que iria esclarecer tudo na delegacia, mas eu demorei quase seis meses para voltar. Quando eu fui algemado, eu não acreditei. Perdi o nascimento do meu filho mais novo em janeiro", contou o marceneiro ao g1.

    O advogado de Nelson conseguiu provar à Justiça que um erro havia sido cometido. "O depoimento da vítima mudou da polícia para o juiz. Primeiro, ela afirmou que tinha sido roubada em mais de R$ 1 mil, mas depois afirmou que R$ 50 tinham sido levados. E depois afirmou que o cartão de crédito não foi levado", explicou.

    Liberdade

    contradição nos depoimentos da vítima, a falta de provas e a comprovação de que Nelson cumpria expediente em um terminal portuário em Santos no momento do crime absolveu o marceneiro da acusação do suposto roubo em março de 2018.

    "Não há prova segura de autoria de roubo por parte do réu", escreveu o juiz Eduardo Ruivo Nicolau, da 2ª Vara Criminal do Foro de Praia Grande. O Ministério Público de São Paulo concordou e indicou, sem ressalvas, pela inocência do marceneiro. O processo que o acusava consta como extinto pelo Tribunal de Justiça de São Paulo.

    Marceneiro passeia de bicicleta com a família após ser solto em Praia Grande, SP — Foto: Arquivo Pessoal

    Marceneiro passeia de bicicleta com a família após ser solto em Praia Grande, SP — Foto: Arquivo Pessoal

    Consequências

    Mas o período na prisão trouxe consequências à vida do marceneiro. Na época, a mulher dele estava grávida, e o filho dele nasceu enquanto ele estava na cadeia.

    “Foi difícil. Faltava um mês e pouco para ele nascer. Nós estávamos com planos, fazendo a nossa casa. Eu não sabia o que estava acontecendo, fiquei quase oito dias sem saber o que tinha acontecido”.

    Nelson conseguiu um emprego temporário por meio do tio que sempre o ajudou. “Fiquei fazendo bico, trabalhando como avulso”, conta. Atualmente, ele trabalha em uma empresa na área de floricultura e paisagismo, mas nunca mais conseguiu um emprego com registro na carteira de trabalho.

    Ele conta que ninguém quer contratar um ex-presidiário. “A sociedade não acredita muito que você é inocente, mesmo o juiz batendo o martelo, deixando você em liberdade, a sociedade não acredita”, disse ele.

    Danos morais

    Por conta de todas as consequências que a prisão lhe trouxe, o advogado de Nelson entrou com uma ação por danos morais contra o Estado. O resultado saiu em fevereiro, quatro anos após a absolvição dele. A juíza Thais Caroline Brecht Esteves julgou procedente a ação e determinou que o Estado pague uma indenização à Nelson no valor de R$ 60 mil.

    "Há que se levar em conta a dúplice função reparatória e pedagógica dos danos morais, de modo que sejam suficientes para reparar os prejuízos suportados e, por outro lado, desestimulem a reiteração de práticas semelhantes por parte do ofensor", disse a juíza, na sentença.

    “Eu sinto um grande alívio. Não é a questão do dinheiro, mas que isso vai acabar. Eu posso dizer que sou totalmente inocente. Para mim, ter que depor, falar depois de muito tempo o que aconteceu. Eu me sinto preso ao meu passado. E, agora, saindo essa decisão, ganhar R$ 60 mil... (...) Minha mente já sente um grande alívio”, finaliza.