quinta-feira, 3 de março de 2022

Em brodowski, Homem manda ‘nudes’ pela internet e perde R$ 17,8 mil

 


Após perder o dinheiro, a vítima percebeu que poderia ter caído em um golpe e decidiu procurar a Polícia Civil para registrar os fatos

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© REUTERS/Dado Ruvic/Direitos Reservados
 Um homem de 52 anos, procurou a Polícia Civil após ser extorquido e perder mais de R$ 17 mil após mandar fotos de nudez, para uma ‘amiga’ virtual na cidade de Brodowski

Segundo informações apuradas pela reportagem do Portal X Tudo Ribeirão, a vítima do golpe contou, na manhã desta segunda-feira (21), “recebeu uma mensagem no seu WhatsApp de uma linda moça” – e os dois passaram a conversar. Durante a conversa, ambos passaram a trocar nudes (fotos íntimas).

Ainda segundo o testemunho da vítima, de repente as conversas pararam e uma outra pessoa (desconhecida por ele) entrou em contato dizendo que era “um Policial de Santa Catarina” – e que o homem seria preso por “estupro de vulnerável”, pois, ele teria mandado fotos íntimas para uma menor de idade.

O suposto policial, no entanto, teria afirmado que “tudo poderia ser esquecido, se o homem e que enviou as fotos concordasse em pagar uma certa quantia em dinheiro (na Delegacia, o homem não revelou o valor pedido). A vítima relata, no entanto, que foram feitas três transações bancárias via PIX – totalizando o valor de R$ 17,8 mil.

Após perder o dinheiro, a vítima percebeu que poderia ter caído em um golpe e decidiu procurar a Polícia Civil para registrar os fatos.

Estado de SP aplica "pena de fome" em seus presídios, com média de jejum de 15 horas por dia

 


Padrão em cartas de presos, relatos de familiares e inspeções da Defensoria revela que a fome é política de Estado

Brasil de Fato | São Paulo (SP) |
 

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Com cerca de 202 mil pessoas atrás das grades, o estado paulista concentra um quarto de toda a população carcerária do país - Brasil de Fato

"Dona Maria, aqui também não está nada fácil. A maior dificuldade é a fome. Cortaram muitos itens, como o docinho, o pãozinho, a salada e o suco. A nossa alimentação não está nos suprindo. No café um pãozinho e dois dedos de café. No almoço uma boia muito rala, dois dedos de feijão. A mesma coisa na janta, que a gente paga às 16h30 da tarde. Passamos mais de 14 horas sem nada para comer. No domingo, é uma caneca de sopa e uma bisnaguinha para cada. Muitos passam mal de fome. Eu mesmo já passei mal."

A carta é de um homem preso no Centro de Detenção Provisória (CDP) de Pinheiros, em São Paulo, e chegou ao Brasil de Fato por meio da Associação de Amigos e Familiares de Presas/os (Amparar). O relato não é, nem de longe, isolado.  

Com 201.088 pessoas aprisionadas no momento, o estado de São Paulo, apesar de corresponder a aproximadamente um quinto dos habitantes do Brasil, concentra cerca de um quarto de toda a população carcerária do país (que somava, em junho de 2021, 820.689 pessoas de acordo com dados do Ministério da Justiça). 

Nos últimos 26 anos, São Paulo aumentou o encarceramento em 400% e, com ele, também seu complexo prisional. Representando cerca de um sétimo das 1.381 prisões espalhadas pelo país, o número de presídios no estado hoje está em 179. 

"Em praticamente todas as unidades que a gente visita, a falta de alimentação ou a insuficiência dela é uma pauta das pessoas que estão presas", alega Thiago de Luna Cury, coordenador do Núcleo Especializado de Situação Carcerária da Defensoria Pública do Estado de São Paulo.

Assista também:

Jejum de 15 horas por dia

Em afronta à Resolução 3/2017 do Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária, que estabelece a obrigatoriedade do fornecimento de cinco refeições diárias, em quase todas as cadeias paulistas o acesso à comida acontece três vezes por dia.

Além disso, como narra a carta, a regra geral é a imposição de um jejum de, em média, 15 horas por dia. É o intervalo entre o jantar, servido aproximadamente às 16h30, e o café, às 7h30. 

Em junho de 2021, a Defensoria Pública de São Paulo apresentou uma Ação Civil Pública (ACP) contra o governo estadual na qual afirma que "foi instituída a 'pena de fome' aparentemente de forma deliberada pela unidade federativa mais rica desta República". 

A ação segue tramitando na justiça. No documento, dados obtidos a partir da Secretaria de Administração Penitenciária (SAP) e das inspeções dos defensores dentro das unidades apontam que, dentro de uma amostra de 130 presídios, em 80% deles o Estado fornece alimentação três vezes por dia. 


É menor que 4% a porcentagem de unidades prisionais que, com cinco refeições diárias, respeitam a normativa federal / Brasil de Fato com dados da Defensoria Pública

Em 75,3% deles, a duração do jejum compulsório varia entre 13 e 16 horas diárias. Em quatro das cadeias, o período oscila entre 16 e 20 horas sem comer todos os dias. 

"Não é possível conceber que pessoas presas não tenham garantido o mínimo necessário a uma existência digna, o que, por óbvio, inclui a oferta de alimentação em quantidade e qualidade suficiente para garantia de sua saúde. Tratamento similar não se dispensa a animais de parques e zoológicos", discorre a Ação Civil Pública. 

Como explica a nutricionista clínica Talita Kumy, quando alguém passa muitas horas sem comer, o organismo se adapta por meio de hormônios para inibir a fome. "São os hormônios anorexígenos. Mas a necessidade energética continua. Aí o organismo começa a usar aquilo que ele tem de estoque: o tecido adiposo, a gordura, a massa magra, o tecido muscular", elenca. 


Considerando as unidades que não deram informação, podem ser ainda mais numerosos os presídios que impõem largos períodos sem comer / Brasil de Fato com dados da Defensoria Pública

"A primeira refeição depois disso, nesse caso, normalmente é o pão. Ele tem um alto índice glicêmico, é como se desse um susto no pâncreas, que começa a liberar muita insulina de uma vez só", descreve Kumy, formada pela Universidade Federal de Alagoas (Ufal) e com atuação voltada à segurança alimentar como direito humano. 

Conforme expõe Talita, "esse processo causa muito desgaste no organismo. Pode gerar agressividade e indisposição e também outras consequências ao longo da vida, como desnutrição e diabete". 

:: Defensoria avisa, imagens mostram e governo de SP mantém presas em prédio com risco de desabar ::

Em nota, a SAP afirmou que "o intervalo entre a última refeição de um dia e a primeira do dia seguinte é menor que o relatado pela Defensoria". Qual seria, então, esse intervalo? Não foi informado. O Brasil de Fato fez seguidas solicitações - desde o dia 26 de janeiro - a respeito do horário das refeições no sistema prisional paulista e não teve a pergunta respondida. 

Segundo a SAP, o largo tempo entre o jantar e o café "é necessário por questões administrativas como contagem dos custodiados e troca de turno".

Prioridade orçamentária é expandir o sistema prisional

Com o mais recente presídio inaugurado no fim de 2021 em São Vicente, já são 17 cadeias a mais no complexo prisional de São Paulo só nos últimos oito anos. No que depender dos gestores, o ritmo deve continuar: mais cinco unidades estão em construção. 

A lógica é questionada pela ACP da Defensoria Pública, segundo a qual "investe-se em construir prisões sem qualquer planejamento no sentido de se haverá comida para as pessoas presas – sim, são pessoas como nós".

Comparando as Leis Orçamentárias Anuais (LOAs) do estado de São Paulo de 2021 e de 2022, a previsão de investimento em “provisão de necessidades básicas para a população carcerária”, que inclui alimentação, higiene e alojamento, aumentou 15,75%. Já o investimento em expansão de vagas e presídios saltou 345,21%. 

Em uma inspeção feita na Penitenciária 2 de Guareí em 2 de outubro de 2020, os depoimentos coletados por defensores sobre a alimentação – servida às 6h30, às 11h e às 16h30 – foram de "quantidade insuficiente", "qualidade mediana", "pouquíssima variedade" e "fruta ou salada fornecida apenas uma vez por semana".  

"Relataram também que a quantidade de leite servida no café da manhã é insuficiente e este às vezes é servido azedo. As informações colhidas ainda dão conta de que não haveria dieta específica para pessoas com diabetes ou outras doenças que necessitem de alimentação diferenciada", discorre o relatório da Defensoria Pública.

:: São Leopoldo ameaça cortar água do presídio em Sapucaia se estado retirar verbas de hospital ::

R$ 4,50 por pessoa ao dia

Com um cálculo feito a partir do valor destinado para a alimentação repassado à Penitenciária 2 de Guareí em 2019 e 2020, dividido pela média de pessoas presas e agentes penitenciários, a Defensoria chegou ao resultado de que o investimento estatal em alimentação é de R$ 4,50 diários per capta. Isso equivale a menos de R$ 1,50 para cada refeição.

Segundo a Ação Civil Pública, "fica evidente que as pessoas presas na Penitenciária de Guareí 2 são submetidas à pena de fome, por conta de ilegalidade cometida pelo estado de São Paulo, que repassa valor insuficiente à unidade prisional para a aquisição de gêneros alimentícios".

No Centro de Progressão de Pena (CPP) de Franco da Rocha a situação é similar. Com o mesmo cálculo, de acordo com a Defensoria, o repasse para a unidade prover alimentação nos anos de 2019 e 2020 foi de menos de R$4,21 diários para cada pessoa.

Ao Brasil de Fato a SAP afirmou que "os valores informados pela Defensoria Pública estão defasados e não representam o valor per capta atual". Este, no entanto, não foi informado. 

De acordo com o órgão do governo estadual - sob gestão de João Doria (PSDB) -, no CPP de Franco da Rocha e na Penitenciária 2 de Guareí "a comida é preparada pelos próprios presos em uma cozinha própria da unidade, com alimentos que são adquiridos via pregão eletrônico, de acordo com a legislação".

A SAP informa, ainda, que "são adquiridos gêneros da agricultura familiar por meio do Programa Paulista da Agricultura de Interesse Social (PPAIS), sendo a primeira Secretaria de Estado a aderir ao programa". 

A "mistura"

Oguntemi está com o filho preso há um ano e sete meses no CDP de Hortolândia. Lá, a capacidade é de 844 vagas, mas vivem 1.061 pessoas. 

"O que eu já vi e vivi lá dentro é um horror. Os presos evitam de comer a carne, por exemplo. Eu não sei o porquê, mas eles dizem que quem come carne tem muito furúnculo e que não conseguem atendimento médico", conta Oguntemi.

"Eu presenciei, eu vi, eu vi", faz questão de salientar, "um preso que tinha, pelo corpo, 16 furúnculos. Todos inflamados. Ele andava com os braços abertos e os olhos escorrendo lágrimas de dor", narra. 

Furúnculo é uma infecção bacteriana na pele e, segundo a nutricionista Talita Kumy, a recomendação nesses casos é de reduzir o teor de gordura da carne ingerida. 

"O que acontece é que a exposição ao açúcar dos ultraprocessados combinada com a baixa ingestão de frutas e verduras pode causar processos inflamatórios que baixam a imunidade e facilitam a contaminação da bactéria que causa o furúnculo", aponta. 

:: Tribunal manda apurar responsabilidade por torturas em presídio do MT ::

Na Penitenciária de Potim 2, segundo outro pedido de providências da Defensoria, o problema central é também o da chamada "mistura". 

Desta vez, foi feito um cálculo a partir de informações fornecidas pela unidade prisional, comparando, por um lado, a quantidade per capta de proteína de origem animal comprada. E, por outro, aquela que obrigatoriamente deveria ser oferecida de acordo com as normativas do próprio estado de São Paulo (Resolução SAMSP 16/1998). 

A conclusão é de que, em 2019, foi servido 69,3% da proteína animal necessária. No ano seguinte a situação piorou, passando para 67,9%. 

Feijão ralo e dois dedos de café

Além da "mistura", reclamações recorrentes atestam que o feijão é ralo e que faltam verduras, saladas, legumes e frutas. "Não tem tempero. É muita água para poder render", constata Oguntemi. 


Fotos tiradas em anos diferentes mostram a quantidade de água no feijão de unidades do CDP de Pinheiros / Defensoria Pública de SP

É o que mostram fotos feitas ao longo dos últimos três anos em inspeções da Defensoria nas quatro unidades do Centro de Detenção Provisória de Pinheiros, na capital paulista. 

Na visita mais recente feita pelos defensores ao CDP 4 de Pinheiros, em 2021, "o relato dos presos foi unânime que há uma semana era servido apenas macarrão com salsicha ou linguiça durante o almoço e o jantar", aponta o relatório.


Ao lado direito, observa-se a quantidade de repolho definido como "salada" / Defensoria Pública de SP

Depoimentos dos detentos criticam, ainda, a pequena quantidade de café e leite distribuída pela manhã e o fato de o pão ser menor que o comum. 


Café da manhã servido no CDP 4 de Pinheiros quando defensores públicos fizeram inspeção em 2021 / Defensoria Pública de SP

"Conversando com as mães aqui, na porta, a principal reclamação é a fome. E depois vem a doença, né? Sarna, picadas de insetos. Mas a fome é a principal", conta Oswaldo*, cujo irmão está detido no CDP de Pinheiros. 

Olhando para a marginal, que beira a cadeia, e apontando para um dos muros que o separam de seu parente, Oswaldo respira fundo e define: "Isso aí não fica atrás de um campo de concentração nazista". 

Escassez de frutas, legumes e verduras

De acordo com Oguntemi, a alimentação em Hortolândia é "reduzida". "São marmitex de tamanho médio, geralmente com a comida azeda. Eles passam muita fome. Muuuita fome. É muita escassez mesmo", relata.

A Resolução 3/2017, por meio da qual o Ministério da Justiça e Cidadania dispõe sobre a prestação de serviços de alimentação às pessoas privadas de liberdade e aos trabalhadores do sistema prisional, baseia-se no Guia Alimentar da População Brasileira

Por isso, determina que os cardápios dentro das prisões devem oferecer, "no mínimo, cinco porções de frutas, verduras e/ou legumes in natura por dia (400g/por dia)".

Nada parecido com isso foi observado nas inspeções da Defensoria Pública em qualquer uma das unidades prisionais do estado. 

De acordo com o órgão, no CPP de Franco da Rocha, por exemplo, nos anos de 2019 e 2020, foram adquiridas apenas 56,8% da quantidade de legumes e verduras que seria obrigatória. 


Em visita à Penitenciária 2 de Guareí, defensores observam a ausência de legumes, verduras e saladas no almoço / Defensoria Pública de SP

Casos extremos de insuficiência nutricional

Lembrando das seis pessoas presas que morreram e das 56 que foram internadas no Piauí por falta de vitamina B1, Talita Kumy explicita que a falta de minerais e vitaminas decorrentes da ausência de frutas e verduras pode levar a casos extremos de insuficiência nutricional. 

"E, em menor grau, afetam o funcionamento adequado do organismo, causando uma liberação maior de cortisol, uma relação intestinal pior", descreve a nutricionista, ao concluir que os impactos daí decorrentes à saúde e ao humor são "o oposto de ressocialização". 

Questionada, a SAP diz "que em todas as unidades da Pasta são servidas, ao menos, três refeições (café, almoço e jantar) diariamente. A alimentação é balanceada e segue um cardápio previamente estabelecido e devidamente elaborado por nutricionistas".

As famílias, o jumbo, os ultraprocessados e a fome oculta

A letra cursiva preta de outra carta de um preso do CDP de Pinheiros a que o Brasil de Fato teve acesso descreve desespero. "Peço que ligue para a mãe e pergunte se ela conseguiu tirar os documentos e se ela já enviou... Pelo amor de Deus, conto com sua ajuda". 

O detento se refere à larga lista de documentos autenticados em cartório exigidos pela SAP para que o familiar de alguém encarcerado faça uma carteirinha e possa, assim, lhe enviar um kit de mantimentos – o chamado jumbo. Com as restrições decorrentes da pandemia de covid-19, o trâmite só pode ser feito via correio. 

"Estou desesperado", discorre na carta, "já fazem sete meses que eu me encontro nessa situação. Só estou com a roupa do corpo.  Passando fome, frio e por muitas dificuldades". 

Em outra carta, um preso conta que já está encarcerado provisoriamente há um ano e que sua mãe conseguiu fazer a carteirinha apenas no sétimo mês. 

"Recebi um Sedex em que foram retidos alguns itens simples como escova dental, sabonetes, troca de roupa e um creme de pele. Expliquei que era meu primeiro Sedex e que necessitava de tais itens, mas não teve jeito", conta. 

"Ainda não tive nenhuma visita e também não tenho recebido cartas da minha família". E continua: "Não sei se estão passando por dificuldades. Gostaria muito de dar um abraço na minha mãe e conversar com ela". 

Na opinião de Oguntemi, a saúde de seu filho depende do jumbo que ela envia. "Do meu filho e de todo preso. É a família que precisa manter o filho lá com a saúde alimentar dentro do aceitável. Do minimamente aceitável para um ser humano", afirma Oguntemi.

Os alimentos permitidos no jumbo, no entanto, são quase 100% de produtos industrializados ultraprocessados. 

Para se ter uma ideia, os itens alimentícios que podem ser enviados para a Penitenciária de Pracinha são: 500g de leite em pó, 400g de bolacha sem recheio, dois bolos Pullman, 300g de chocolate, 300g de bala Halls, Freegells ou Soft, 250g de manteiga ou margarina, um pacote de pão Pullman e 500g de frios. 

A variação entre o que é permitido no jumbo é mínima entre as unidades prisionais de São Paulo. 

"O alimento ultraprocessado atua como um composto anti-nutricional", alerta Talita Kumy. "Então você come o bolo ultraprocessado, ele atua retirando nutrientes do seu corpo", diz. Essa carência não explícita de micronutrientes no corpo se chama "fome oculta". 

Alimento como arma de guerra

"Total indignidade". É assim que Oswaldo caracteriza a vida atrás das grades. Revoltado com as condições descritas em cartas por seu irmão aprisionado, ele salienta que "convenções de guerra dão tratamentos melhores aos prisioneiros do que os dados aos nossos presos aqui". 

Comparação similar é feita pela Ação Civil Pública da Defensoria ao citar a 3ª Convenção de Genebra Relativa ao Tratamento dos Prisioneiros de Guerra (1949), também ratificada pelo Brasil. 

Nela, é determinado que "a ração alimentar diária básica será suficiente, em quantidade, qualidade e variedade, para manter os prisioneiros de boa saúde e impedir uma perda de peso ou o desenvolvimento de doenças por carência de alimentação".

:: “A gente não quer só comida…” Mas tudo começa por aí ::

Sobreviventes

Railda Alves, uma das fundadoras da Amparar, ressalta que "a regra é que as pessoas voltem do sistema prisional extremamente magras e doentes". Não à toa, movimentos abolicionistas se referem a elas como sobreviventes. 

Doutor em Ciências pela Faculdade de Saúde Pública da USP, membro do Grupo de Pesquisa Democracia, Saúde e Ambiente (DEMSA/UFU) e integrante do grupo Alimentação e Poder, André Luzzi avalia que, na gestão do sistema prisional, "a alimentação é vista como um insumo, uma mercadoria, um serviço contratado, e não como um direito".

Além de transformar a realidade do que acontece do lado de dentro das grades, Luzzi defende que ações a esse respeito sejam pensadas também para os libertos. "Como será possível construir espaços de reparação para essas violações do direito humano à alimentação?", questiona.

"Aí você tem a má alimentação, doenças que vêm devido à falta de nutrição, não tem socorro. Então o que acontece? Dentro dos presídios do Brasil, a exemplo do estado de São Paulo, é tortura física e psicológica. É a desumanização da pessoa", resume Oguntemi. 

Em sua visão, se alguém espera que uma pessoa "cometa um crime, vá para o sistema carcerário e venha melhor para a sociedade, isso não vai acontecer. Não vai". 

"Se ele não sabia o que é tortura, o que é crueldade humana, ele vai aprender lá dentro. Vai saber o que é ficar com fome, o que é ficar com sede por dias", cita. 

Na Ação Civil Pública, a imposição da "pena de fome" no sistema prisional paulista é caracterizada como "uso do alimento como arma de guerra". O que leva a crer, nas palavras da Defensoria Pública, na "presença de uma guerra civil / estado de exceção em permanência na política adotada pelo estado de São Paulo". 

* O nome foi alterado para preservar a fonte.

 

Edição: Rodrigo Durão Coelho

quarta-feira, 2 de março de 2022

Comunicado oficial da Fundação CASA aos servidores

 



Classif. documental 006.01.10.001

Fundação Centro de Atendimento Socioeducativo ao Adolescente

DRH - DIVISÃO DE RECURSOS HUMANOS

Comunicado

Número de Referência: 013/2022

Interessado: Divisão de Recursos Humanos

Assunto: Esclarece sobre os dados apresentados na CTPS Digital

A DIRETORA DA DIVISÃO DE RECURSOS HUMANOS – DRH da Fundação Centro de 

Atendimento Socioeducativo ao Adolescente – Fundação CASA/SP, no uso de suas atribuições;

Considerando o Decreto nº 8373/2014 que instituiu o Sistema de Escrituração Digital das

Obrigações Fiscais, Previdenciárias e Trabalhistas (eSocial).

Considerando que, por meio desse sistema, os empregadores passarão a comunicar ao Governo, de

forma unificada, as informações relativas aos trabalhadores, como vínculos, contribuições

previdenciárias, folha de pagamento, comunicações de acidente de trabalho, aviso prévio,

escriturações fiscais e informações sobre o FGTS;

Considerando que, em fevereiro de 2022 a Fundação CASA iniciou a comunicação das

informações cadastrais de todos os servidores, conforme cronograma estabelecido pelo Governo

Federal;

Considerando que, as informações do eSocial compõem a base de dados da Carteira de Trabalho

Digital- CTPS Digital;

Considerando que a CTPS Digital está sendo gradualmente atualizada com as informações

prestadas pela Fundação CASA; e

Considerando as dúvidas que estão sendo encaminhadas à Divisão de Recursos Humanos quanto à

nomenclatura da ocupação apresentada no documento.

ESCLARECE:

1 – Sobre a CTPS na versão física





2

1.1 – Todos os trabalhadores que possuem a CTPS na versão física deverão guardá-la para fins de

comprovação de tempo de trabalho anterior.

1.2 – Os históricos serão atualizados a partir do início das transmissões ao eSocial, assim,

anotações anteriores, a exemplo de período de férias, não serão incluídas na CTPS Digital.

1.3 – A DRH informará em Comunicado específico detalhes sobre a atualização da CTPS na

versão física.

2 – Sobre o cargo e a ocupação

2.1 – Na versão atual do aplicativo da CTPS Digital, não há informação quanto ao cargo do

empregado nas empresas, mas sim a ocupação sob a perspectiva do Código Brasileiro de

Ocupações-CBO, na forma instituída pela Portaria do Ministério do Trabalho nº 397/2002.

2.2 – As nomenclaturas e descrições do CBO contemplam as ocupações e famílias ocupacionais

que englobem todos os setores da atividade econômica e segmentos do mercado de trabalho, e não

somente canalizados para algum setor específico.

2.3 – Diante das dúvidas que naturalmente surgem quanto ao cargo em comparação com o CBO, o

Governo Federal publicou esclarecimentos sobre o tema, dos quais apresentamos alguns destaques:

I) O Aplicativo da CTPS Digital apresenta informações da Classificação Brasileira de Ocupações –

CBO (código e o nome da ocupação).

II) A nomenclatura utilizada na CBO está relacionada às ocupações identificadas no mercado de

trabalho brasileiro e não aos cargos ou funções existentes na sua empresa, portanto, a titulação

utilizada na empresa não é, necessariamente, a mesma utilizada na CBO.

III) Já está sendo planejada uma nova versão do aplicativo com melhorias, e uma delas será a

inclusão da informação do campo “CARGO” que é cadastrado pela empresa no eSocial.

2.4 – Por fim, esclarecemos que os cargos ocupados pelos servidores da Fundação CASA estão

sendo informados ao eSocial, conforme nomenclaturas utilizadas no Contrato de Trabalho.

São Paulo, 02 de março de 2022.

SILVIA ELAINE MALAGUTTI LEANDRO 

DIRETOR DE DIVISÃO I 

DRH - DIVISÃO DE RECURSOS HUMANOS

FUNDCASASPMEM202201807A

Assinado com senha por SILVIA ELAINE MALAGUTTI LEANDRO - 02/03/2022 às 17:18:47.

Documento Nº: 35796219-6591 - consulta à autenticidade em

https://www.documentos.spsempapel.sp.gov.br/sigaex/public/app/autenticar?n=35796219-6591


Fundação casa, Audiência pública na Alesp discute os problemas enfrentados nos centros

 


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Trabalhadores da Fundação Casa sofrem com o deslocamento imposto pelo governo - Foto: Marcos Santos/USP

A situação dos internos e as condições de trabalho dos funcionários da Fundação Casa foram temas de audiência pública realizada na Assembleia Legislativa de São Paulo.

Lideranças sociais, entidades de direitos humanos, especialistas e representantes de associações ligadas à defesa dos adolescentes estiveram presentes no evento. Já o Secretário de Justiça e presidente da Fundação Casa, Fernando José da Costa, foi convidado, mas não compareceu.

A reunião foi convocada pela Comissão de Defesa dos Direitos Humanos, presidida pelo deputado estadual Emídio de Souza, do PT, que iniciou apresentando o panorama atual enfrentado pelos adolescentes e servidores, como a diminuição do número de internos e o enxugamento da estrutura da fundação.

"Nos últimos anos nós assistimos uma queda drástica do número de adolescentes recolhidos na Fundação Casa. Segundo números oficiais reportados pela imprensa, o número de adolescentes internados e atendidos caiu pela metade entre 2013 e 2021. Portanto, no período de oito anos. A quantidade de jovens infratores saiu 8,7 mil (2013), com pico de 10.500 em 2014, para cerca de 4.500 no final de 2021", destaca o parlamentar.

Ainda segundo Emídio de Souza, "essa tendência tem feito com que o Governo Estadual feche parte das unidades Fundação Casa".Cinco unidades da Fundação Casa tiveram suas atividades encerradas no último mês, elevando para 30 o número dos centros desativados no Estado.

A redução do número de adolescentes recolhidos na Fundação Casa foi comemorada pelo defensor público do Núcleo da Infância e Adolescência da Defensoria Pública de São Paulo, Daniel Secco. Durante a audiência, ele afirmou que a diminuição do encarceramento representa um avanço civilizatório no país, já que a privação de liberdade atinge, principalmente, a juventude negra e periférica do país.

Outro avanço citado pelo defensor público foi o fim das chamadas revistas vexatórias dos internos da Fundação Casa, prática vetada por uma ordem de serviço assinada pela instituição no último mês.

"A população jovem, principalmente a negra e periférica é a que mais sofre com a violência no nosso país. A violência em geral e a violência de estado. Isso é um fato, isso é um dado, isso é um número. E dentro dessa violência de estado se inclui evidentemente o encarceramento. [...] e nós não podemos esquecer isso. Por mais que servidores e servidoras da Fundação Casa se desdobre para fazer um bom trabalho, um bom atendimento", alerta Secco.

A situação dos trabalhadores e trabalhadoras da Fundação Casa foi levantada durante a audiência pública.

Segundo a presidenta do sindicato da categoria, Cláudia Maria, desde o início da pandemia, os funcionários estão lidando com a falta de equipamentos de proteção individual, o que ameaça a segurança sanitária durante o serviço.

Números apresentados pela representante dos trabalhadores apontam que, desde 2020, cerca de 40 morreram devido à covid-19 e mais de 1.800 foram contaminados pelo vírus.

Cláudia também comentou sobre a tentativa da gestão de atacar os direitos dos trabalhadores, como por meio de uma portaria assinada pelo presidente da fundação casa, que autoriza a transferência compulsória de funcionários para unidades localizadas até 400 quilômetros de distância de suas casas.

"A gestão lançou portaria normativa que transfere compulsoriamente o servidor que reside em São Paulo para o interior. Isso sem as devidas condições financeiras para o servidor se manter", relata Cláudia.

Ao final da audiência, o deputado Emídio de Souza disse que um relatório sobre a reunião será encaminhado ao presidente da fundação casa, ao governo do estado, ao ministério público e à presidência da Assembleia Legislativa de São Paulo, visando cobrar pela solução dos problemas apontados. O parlamentar disse ainda que o presidente da instituição será convocado a prestar depoimento sobre o atual cenário à Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa.

Confira esta e as principais notícias desta terça (01/03), no áudio acima.

O Jornal Brasil Atual Edição da Tarde é uma produção conjunta das rádios Brasil de Fato e Brasil Atual. O programa vai ao ar de segunda a sexta das 17h às 18h30, na frequência da Rádio Brasil Atual na Grande São Paulo (98.9 MHz) e pela Rádio Brasil de Fato (online). Também é possível ouvir pelos aplicativos das emissoras: Brasil de Fato e Rádio Brasil Atual

Edição: Rede Brasil Atual