Prazo das operações saiu de cerca de 69 meses (pouco menos de seis anos) em julho de 2016 e chegou a 85 meses (pouco mais de sete anos) em julho deste ano
SÃO PAULO – Quer pagar quando? Ao longo dos últimos cinco anos, os prazos do crédito consignado aumentaram praticamente mês após mês. Na média, considerando as operações feitas tanto para servidores públicos quanto para trabalhadores do setor privado e aposentados do INSS, o prazo médio das novas operações saiu de cerca de 69 meses (pouco menos de seis anos) em julho de 2016 e chegou a 85 meses (pouco mais de sete anos) em julho deste ano.
Em algumas modalidades específicas, o número de parcelas é ainda maior. Nos empréstimos para servidores públicos, por exemplo, o prazo médio atualmente é de mais de 92 meses – em junho, chegou ultrapassar 95 meses (quase oito anos), número mais elevado na série histórica compilada pelo Banco Central.
Os prazos são menores para os trabalhadores do setor privado, mas também nessa categoria eles aumentaram: passaram de 41 meses em julho de 2016 para 54 em julho de 2021. Ao contrário dos servidores públicos (que têm estabilidade no emprego) e dos aposentados do INSS (que fazem jus a benefício vitalício), quem trabalha em empresas privadas corre mais risco de ficar sem emprego e renda – por isso, os limites oferecidos pelos bancos costumam ser menores.
Segundo Luiz Rabi, economista da Serasa Experian, expandir os prazos é uma das formas que as instituições financeiras encontram para competir no segmento, que é bastante disputado, pois o risco de inadimplência – dado que as parcelas são cobradas diretamente no contracheque – é baixo. “Tem havido maior concorrência entre os bancos. O consignado já é a segunda maior carteira de crédito para pessoas físicas, mas continua expandindo, com cada vez mais opções para os consumidores”, explica.
O saldo dos empréstimos com desconto na folha de pagamento (ou no benefício da previdência social) cresceu quase 20% nos últimos 12 meses.
Atualmente, entre as modalidades de crédito ao consumo disponíveis para as pessoas físicas, o consignado tem os juros mais baixos, embora alguns bancos possam oferecer taxas ainda menores nas operações de antecipação de saque-aniversário do FGTS. Na média, a taxa de juros do consignado era de 1,45% ao mês em julho deste ano – e não era tão mais alta do que isso há cinco anos, quando ficava em 2,17%.
Em comparação, os empréstimos pessoais não consignados – que tinham taxa média de 7,27% ao mês em julho de 2017 – tiveram os juros mensais reduzidos para 5% ao mês.
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Com pouca margem para mexer nos juros do crédito consignado, esticar os prazos é a maneira encontrada para oferecer condições mais vantajosas. “Ao elevar os prazos, as instituições financeiras conseguem reduzir o tamanho das prestações, diminuindo o comprometimento da renda de quem pega o empréstimo”, diz Rabi.
Neste ano, o governo federal aumentou de 35% para 40% o comprometimento máximo da renda de aposentados e pensionistas do INSS com crédito consignado. A alteração está prevista para durar até 31 de dezembro, já que os empréstimos com desconto no benefício se revelaram uma importante fonte de recursos diante das pressões estabelecidas pela pandemia.
Isso é bom ou é ruim?
Prazos maiores em tipos de crédito populares, como o consignado, são uma boa ou má notícia? De modo gera, segundo Rabi, a avaliação é positiva. “Quanto maior o prazo, melhor para quem toma o crédito, pois isso gera uma prestação que cabe no orçamento”, afirma. E a consequência disso é direta: “Quando o comprometimento da renda é menor, o risco de inadimplência cai também. A não ser que a pessoa, além do consignado, tome também outros empréstimos”, diz o economista.
Na visão de Rabi, o ideal é não consumir mais do que 20% da renda com o pagamento de prestações, fora as do crédito imobiliário. Daí para cima, eventuais dificuldades para honrar os compromissos costumam ser mais comuns.
Para alguns especialistas em finanças pessoais, prazos muito alongados – ainda que positivos por diluir o tamanho das prestações – são ruins porque estendem demais o pagamento da dívida e podem gerar um efeito “bola de de neve”. “É importante lembrar que nem sempre o salário sobe. As prestações de um consignado longo podem acabar pesando no bolso ao longo de muitos anos”, diz Myrian Lund, planejadora financeira.
Myrian lembra que créditos longos, como é o caso dos financiamentos imobiliários, costumam ser amortizados pelo sistema SAC, em que o valor total das prestações diminui com o passar dos anos. Nos consignados longos, no entanto, não é assim: as prestações são de valor igual.
“Lido com endividados. Tradicionalmente, eles conseguem pagar prestações elevadas por seis meses, talvez um ano. Depois disso, o compromisso demanda um esforço muito elevado, o que tem impactos em outras esferas da vida”, explica Myrian. Não raro, o endividado acaba tomando novos empréstimos, além do consignado, numa tentativa – nem sempre bem-sucedida – de dar conta da dívida original.
Outro detalhe, lembra Myrian, é que o fato de o consignado ser, em geral, a linha com os juros mais baixos oferecida pelos bancos torna mais difícil a negociação na própria instituição. Para obter taxas mais baixas, a saída é a portabilidade. Uma reportagem do InfoMoney mostrou que 98% das operações de portabilidade de crédito – ou seja, de transferência de uma dívida de uma instituição para outra – envolvem consignados.
Myrian alerta que a tomada de crédito voltado para consumo com prazos longos deve ser feita com consciência. “Tomar um empréstimo pode ser positivo, desde que seja uma decisão embasada e pelo menor prazo possível”, afirma. Ela indica que os interessados projetem sua renda e suas despesas pelo menos nos próximos 12 meses para avaliar se as prestações caberão no orçamento. “Basear-se apenas na situação atual é irreal, porque as despesas de uma família costumam variar ao longo de um ano”, diz.
A planejadora também recomenda ter atenção à abordagem comercial das instituições financeiras. “Muitas pessoas tomam crédito consignado na sequência das ofertas que recebem, do nada”, diz. O limite do consignado, lembra a especialista, é calculado a partir da renda bruta dos tomadores de crédito, e não no que sobra após os descontos de impostos, por exemplo. “Sobra pouco para viver