Fonte; sbt
Suspensão de visitas pode ter incrementado envio da droga K4 que é aplicada em qualquer tipo de papel
Nos primeiros três meses de 2021 foram registradas 266 ocorrências envolvendo o entorpecente sintético K4, ante 34 apreensões no mesmo período de 2019 | Divulgação/Secretaria de Administração Penitenciária
As apreensões da maconha sintética, popularmente conhecida como K4, nos presídios paulistas cresceram 684%. A alta se deu em meio à pandemia quando as visitas presenciais aos detentos foram proibidas para evitar a transmissão do coronavírus.
Dados da Secretaria de Administraçao Penitenciária - SAP, obtidos com exclusividade pelo SBT, mostram que nos primeiros três meses de 2021 foram registradas 266 ocorrências envolvendo o entorpecente sintético K4 ante 34 apreensões no mesmo período de 2019, antes da pandemia. Mesmo na comparação de 2021 com os primeiros três meses de 2020, no inicio da crise sanitária, o aumento também foi exponencial: 186% (93 ocorrências).
O diretor técnico da Penitenciaria II de Franco da Rocha, Samuel Pugliere Pasuld, explicou que o crescimento na apreensão se deu em razão da falsa percepção por parte das visitas de que a droga sintética é mais difícil de ser encontrada em comparação com os demais entorpecentes, porque ela é aplicada em qualquer tipo de papel que é inserido em embalagens, em cartas, roupas, entre outras formas. "Voce vê que foi algo construído com a droga dentro porque é impossível de não ter sinal nenhum de violação. São embalagens pequenas e por isso é grande a gama de oportunidades de esconderem essa droga hoje em dia", comenta o diretor.
A droga K4 foi encontrada nas remessas enviadas por correspondências e os meios utilizados, em regra, são o interior de bolachas e de chocolates. Na forma presencial a forma mais comum de encontrar o ilícito é escondido nas vestes dos visitantes. "As caixas de correspondências, após passarem por período de quarentena na unidade prisional, são revistadas via equipamento Raio-x e de forma manual. Todo material encaminhado via correio aos custodiados passa por vistoria manual e eletrônica," afirma Pasuld.
De acordo com autoridades do Núcleo de Entorpecentes do Instituto de Criminalística da Polícia Civil de São Paulo, "a maconha sintética K4 é uma droga extremamente perigosa porque pode causar uma overdose com morte numa única dose". O alerta é do diretor do Núcleo de Entorpecentes, o perito criminal Júlio Ponce. "São drogas produzidas em laboratórios clandestinos, sem nenhuma fiscalização e o usuário não sabe o que está consumindo." Ele explica que o K4 é um pó branco que é dissolvido em alguma solução e aplicado sobre plantas que nao são a maconha ou sobre cartões, como cartolina, e entregues como um selo, "na forma de um quadradinho, que tem ali um principio ativo que pode causar esse efeito". O usuário pica o papel e o insere em cigarros que serão fumados para a liberação e inalação do entorpecente.
Envios ilícitos
A Secretaria da Administração Penitenciária (SAP) diz não tolerar a entrada de ilícitos em suas unidades prisionais. "Mesmo antes da pandemia, agentes penitenciários já faziam uma revista minuciosa nas correspondências visando coibir a entrada de ilícitos nas unidades prisionais", ressalta o diretor.
Ele afirma que em todos os Centros de Detenção Provisória, Penitenciárias e Centros de Progressão Penitenciária do estado contam com escâner corporal, que agora não estão sendo usados por conta da suspensão de visitas presenciais. Além disso, as unidades também estão equipadas com aparelhos de raio-x de menor e maior porte, além de detectores de metais de alta sensibilidade. "São esses equipamentos que ajudam a coibir a entrada de ilícitos, atrelados a uma vigilância constante dos agentes de segurança."
O envio de susbtâncias ilícitas a detentos no sistema prisional é punido com suspensão de quem remeteu a correspondência do rol de visitas. Além disso, é feito o registro da ocorrência no Distrito Policial local. "Na unidade prisional é aberto procedimento preliminar para apurar a responsabilidade do custodiado e, quando em regime semiaberto, é solicitado ao juízo de execução competente a sustação do regime semiaberto", informa o diretor da SAP.
Projeto Inspeqt
Lançado ano passado, o projeto Inspeqt reúne pesquisadores de universidades (Unicamp e USP) e de órgãos policiais (Polícia Civil de SP e Sergipe e Polícia Federal) para o estudo das chamadas Novas Substâncias Psicoativas (NSP), drogas sintéticas produzidas em laboratório com efeitos semelhantes aos de outras drogas, mas ainda sem a identificação de quais são essas substâncias e mecanismos de controle.
A substância K4 é uma das principais drogas analisadas no projeto Inspeqt que conta com a participação de policiais civis do Núcleo de Entorpecentes do Instituto de Criminalística, cujo o objetivo é identificar e estudar novas substâncias psicoativas comercializadas e consumidas no país.
O perito criminal Júlio Ponce afirma que o que torna essas drogas novas é o fato de muitas não terem suas moléculas ainda descritas quimicamente, o que as exclui da legislação e dificulta seu combate. O desafio para a química forense é a identificação da substância, já que o perito criminal precisa caracterizá-la quimicamente para informar à autoridade policial que existe algo novo que precisa ser inserido na lei.
Veja reportagem do SBT Brasil: