EM NÚMEROS: A violência contra a mulher brasileira
NANA SOARES
07/09/2017, 11:57
Inúmeras pesquisas mostram, há anos, a vergonhosa prevalência da violência contra as mulheres no Brasil. A realidade, no entanto, muda pouco. Também não muda o tratamento destinado aos agressores, classificados como loucos e anti-sociais, quando na verdade são o contrário: homens perfeitamente inseridos em uma sociedade que não dá o menor valor às vidas das mulheres.
Para tentar dar alguma dimensão da banalização da violência contra a mulher, compilei alguns dados importantes de pesquisas recentes, especialmente referente à agressões, violência sexual, feminicídio e percepções sobre violência. Todas já foram noticiadas pela imprensa, mas estão aqui reunidas em uma tentativa de compor um cenário maior.
VIOLÊNCIA SEXUAL
– O Brasil registrou 1 estupro a cada 11 minutos em 2015. São os Dados do Anuário Brasileiro de Segurança Pública, os mais utilizados sobre o tema. Levantamentos regionais feitos por outros órgãos têm maior ou menor variação em relação a isso.
– As estimativas variam, mas em geral calcula-se que estes sejam apenas 10% do total dos casos que realmente acontecem. Ou seja, o Brasil pode ter a medieval taxa de quase meio milhãode estupros a cada ano.
– Cerca de 70% das vítimas de estupro são crianças e adolescentes. Quem mais comete o crime são homens próximos às vítimas. (Fonte: Ipea, com base em dados de 2011 do Sistema de Informações de Agravo de Notificação do Ministério da Saúde)
– Há, em média 10 estupros coletivosnotificados todos os dias no sistema de saúde do país. (Dados do Ministério da Saúde de 2016, obtidos pela Folha de S. Paulo). 30% dos municípios não fornecem estes dados ao Ministério. Ou seja, esse número ainda não representa a totalidade.
– Somente 15,7% dos acusados por estupro foram presos (Dados do estado de São Paulo obtidos pelo G1, referentes aos meses de janeiro a julho de 2017)
– O mesmo levantamento apontou que na cidade de São Paulo há 1 estupro em local público a cada 11 horas.
– No estado do Rio de Janeiro, há um caso de estupro em escola a cada cinco dias e 62% das vítimas tinham menos de 12 anos. (Dados do Instituto de Segurança Pública obtidos pelo EXTRA e referentes a Janeiro/2016 a Abril/2017. Nota-se aqui que não há distinção entre os níveis de ensino e que há meninos vítimas de violência sexual)
– No Metrô de São Paulo registra-se 4 casos de assédio sexual por semana. (Dados de 2016 obtidos pelo Estadão)
VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E FEMINICÍDIO*
– A cada 7.2 segundos uma mulher é vítima DE VIOLÊNCIA FÍSICA. (Fonte: Relógios da Violência, do Instituto Maria da Penha)
– Em 2013, 13 mulheres morreram todos os dias vítimas de feminicídio, isto é, assassinato em função de seu gênero. Cerca de 30% foram mortas por parceiro ou ex. (Fonte: Mapa da Violência 2015)
– Esse número representa um aumento de 21% em relação a década passada. Ou seja, temos indicadores de que as mortes de mulheres estão aumentando.
– O assassinato de mulheres negras aumentou (54%) enquanto o de brancas diminuiu (9,8%). (Fonte: Mapa da Violência 2015)
– Somente em 2015, a Central de Atendimento a Mulher – Ligue 180, realizou 749.024 atendimentos, ou 1 atendimento a cada 42 segundos. Desde 2005, são quase 5 milhões de atendimentos. (Dados divulgados pelo Ligue 180)
– No estado de Roraima, metade das acusações de violência doméstica prescrevem antes de alguém ser acusado. Não foi conduzida nenhuma investigação nos 8.400 boletins de ocorrência acumulados na capital Boa Vista. (Dados do levantamento realizado pela Human Rights Watch em 2017)
– 2 em cada 3 universitáriasbrasileiras disseram já ter sofrido algum tipo de violência (sexual, psicológica, moral ou física) no ambiente universitário. (Fonte: Pesquisa “Violência contra a mulher no ambiente universitário”, do Instituto Avon, de 2015).
*Há uma excelente análise sobre a dificuldade de obter esses dados feita pela Gênero e Número.
O QUE PENSAMOS SOBRE A VIOLÊNCIA?
– 94% da população acredita que uma mulher ser ‘encoxada’ ou ter o corpo tocado sem a sua autorização é uma forma de violência sexual (Dado obtido em pesquisa do Instituto Locomotiva/agosto 2017)
– Outra pesquisa do Instituto Locomotiva, dessa vez de 2016, aferiu que 2% dos homens admitem espontaneamente ter cometido violência sexual contra uma mulher, mas diante de uma lista de situações, 18% reconhecem terem sido violentos. Quase um quinto dos 100 milhões de homens brasileiros. (Fonte: Pesquisa “Percepções e comportamentos sobre violência sexual no Brasil”, de 2016)
– A quase totalidade da população (96%) acredita que é preciso ensinar os homens a respeitar as mulheres e não as mulheres a terem medo.
– 90% concordam que quem presencia ou fica sabendo de um estupro e fica calado também é culpado.(Fonte: Pesquisa “Percepções e comportamentos sobre violência sexual no Brasil”, de 2016)
– 54% conhecem uma mulher que já foi agredida pelo parceiro. Em todas as classes econômicas. (Fonte: Pesquisa “Percepção da sociedade sobre violência e assassinatos de Mulheres”, de 2013)
– Pelo mesmo levantamento, a maior parcela da população (85%) acredita que mulheres que denunciam seus parceiros correm mais riscos de sofrer assassinato.
– Vergonha e medo de ser assassinada são percebidas como as principais razões para a mulher não se separar do agressor e metade da população considera que a forma como a Justiça pune não reduz a violência contra a mulher.
Os dados são muitos, é necessário tempo para digeri-los. E depois disso, é preciso ação. Já basta de violência contra a mulher
ESTATÍSTICASViolência contra uma mulher
No mundo
Até 70% das mulheres sofrem violência ao longo da vida.
A violência física imposta por um parceiro íntimo, como espancamento, relações sexuais forçada e outras condutas abusivas, é uma forma mais comum de violência sofrida pelas mulheres no mundo.
De um total de 11 países pesquisados, o percentual de mulheres vítimas de violência sexual por um parceiro varia de 6% no Japão para 59% na Etiópia.
Na Austrálida, Canadá, Israel, África do Sul e EUA, 40 a 70% das mulheres assassinadas foram mortas por seus parceiros.
Mulheres com idade entre 15 e 44 anos têm maior risco de sofrerem estupro e violência doméstica do que de câncer ou sofrer um acidente de carro.
As mulheres agredidas por parentes têm 48% de chance de contraírem AIDS.
No Brasil
A cada 4 minutos uma mulher e vítima de agressão.
A cada uma hora e meia ocorre um feminicídio (morte de mulher por questões de gênero).
Mais de 43 mil mulheres nos assassinadas nos últimos 10 anos, boa parte pelo bem parroquial.
O Brasil é o sétimo país sem classificação de assassinato de mulheres dentre 84 países. Os números são maiores do que os de todos os países árabes e africanos
Estima-se que mais de 13 milhões e 500 mil brasileiras já sofreram algum tipo de agressão de um homem, sendo que 31% são mulheres ainda convivem com o agressor e 14% (700 mil) continuam a sofrer violências.
54% dos brasileiros conhecem uma vítima de violência doméstica, apenas 18,6% das mulheres afirmaram já ter sido vítima da violência. O medo ainda é o maior inibidor das denúncias de agressões contra as mulheres.
1 em cada 4 mulheres disse que já é sentiu controlada ou cerceada pelo parceiro: que ficava controlando aonde ela ia (15%); procura mensagens sem seu celular ou e-mail (12%); vigiava e perseguia (10%); uma impedia de sair (7%) ou já tinha rasgado / escondido seus documentos (2%).
O total de relatos de violência para a Central de Atendimento à Mulher no primeiro semestre de 2013, um agressão foi presenciada pelos filhos em 64% dos casos. Em quase 19% eles também sofreram agressões.
O Espírito Santo é o estado brasileiro com os melhores taxa de feminismo (11,24 a cada 100 mil mulheres), seguido pela Bahia (9,08) e por Alagoas (8,84). O Nordeste é uma região com as taxas de piores.
Há apenas 500 delegacias para atender mulheres agredidas em todo o Brasil.
2.000 homens são presos anualmente por agredirem suas parceiras.
À medida que as mulheres são mais agredidas; 71% apresentam um aumento de violência em seu cotidiano.
30% das mulheres acreditam que como leis do país não são capazes de proteger as mães da violência doméstica.
A violência física predomina, mas cresce o reconhecimento das agressões morais e psicológicas.
75% dos brasileiros acreditam que como agressões nunca são sempre punidas