quarta-feira, 18 de janeiro de 2023

11 anos da lei do Sinase

 

O ideal, na realidade, é que esses adolescentes não ingressem no sistema socioeducativo

João Veríssimo Fernandes
Publicado em 18/01/2023 às 22:03Atualizado em 18/01/2023 às 22:17
João Veríssimo Fernandes é presidente da Fundação CASA e ex-juiz de Direito

João Veríssimo Fernandes é presidente da Fundação CASA e ex-juiz de Direito

A Lei 12.594/2012 criou há 11 anos o Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo (Sinase), um marco jurídico que regulamentou, de forma complementar ao Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), a execução das medidas socioeducativas para os adolescentes que cometeram ato infracional. O regramento foi promulgado em 18 de janeiro de 2012.

O primeiro passo importante da lei foi ressaltar ser o atendimento socioeducativo um sistema, formado pelos elaboradores da política pública em todos os níveis – União, Estados, municípios e Distrito Federal –, o Poder Judiciário, o Ministério Público e a Defensoria Pública, cada qual com suas atribuições e responsabilidades.

A lei, contudo, teve um embrião, a Resolução nº 119/2006 do Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente (Conanda), documento este que, em São Paulo, foi o norteador da mudança institucional da Fundação CASA, junto à Constituição Federal e ao ECA, passando a se basear no respeito aos direitos humanos das pessoas com idade entre 12 anos e 21 anos incompletos que cometeram ato infracional.

Esses anos de vigência da lei impactaram, direta ou indiretamente, o perfil dos adolescentes atendidos. Na época da promulgação do Sinase, a Fundação CASA estava com 31.813 adolescentes anualmente atendidos, chegando ao pico de 33.798 em 2013.

Hoje é possível observar algumas mudanças. É inegável a queda no atendimento desde o pico: o ano de 2022 registrou 15.188 adolescentes atendidos, ou seja, 55% a menos do que em 2013.

A redução também levou a Fundação CASA a suspender o funcionamento de 31 centros socioeducativos no Estado entre 2019 e o ano passado. Atualmente, são 116 centros socioeducativos ativos em 46 cidades. Apesar da redução, São Paulo ainda tem o maior sistema de execução do país.

Pardos e pretos continuam sendo a maioria, com 71,75%, um aumento de mais de quatro pontos percentuais, enquanto o número de brancos reduziu para 27,75%. Isso pode ser um sinal tanto da mudança da consciência sobre a autodeclaração da cor como também um reflexo do racismo estrutural do nosso país.

O tráfico de drogas ainda continua recrutando a nossa juventude, sendo responsável por 40,98% do atos infracionais, seguido do roubo qualificado, com 36,06%. Porém, entre os anos de 2013 e 2016 o roubo qualificado, que é um ato cometido mediante violência e grave ameaça, superou o tráfico de drogas.

Talvez a maior modificação tenha ocorrido no perfil educacional. Em 2022, 42,13% dos adolescentes atendidos estavam cursando o Ensino Médio, um aumento de 27 pontos percentuais em relação a 2012, o que retrata que, pelo perfil da idade do atendimento, eles estavam, em geral, na idade-série correta. Tanto que o número de jovens no Ciclo I do Ensino Fundamental caiu para 3,25% em 2022, uma queda de 12 pontos percentuais. O total de adolescentes no Ciclo II do Ensino Fundamental caiu para 49,56%.

O ideal, na realidade, é que esses adolescentes não ingressem no sistema socioeducativo nem que venhamos a discutir os novos impactos da lei do Sinase. Um dos caminhos é a garantia da proteção integral, como prevê o mandamento constitucional, com prioridade absoluta e compromisso da família, da sociedade e do Estado.

João Veríssimo Fernandes, Presidente da Fundação CASA e ex-juiz de Direito

Resumo da reunião Fundação CASA x SITSESP


 


SITSESP INFORMA | REUNIÃO COM NOVO PRESIDENTE DA FUNDAÇÃO CASA DA INÍCIO AS APRESENTAÇÕES FORMAIS


Aconteceu hoje pela manhã uma reunião com a executiva da Fundação CASA contanto com a presença do presidente Juiz João Veríssimo Fernandes (fato que não acontecia há mais de quatro anos) e com a direção sindical Gestão Reconstrução e Luta SITSESP presidida pela presidente Claudia.


De início o presidente Juiz João indagou que a reunião era para conhecer melhor o sindicato e seus diretores, mas a gestão sindical pontuou fatos que vem acontecendo no ambiente de trabalho.


Foi pontuado o adoecimento do corpo funcional da Fundação CASA em seus locais de trabalho; a segurança dos trabalhadores; o baixo efetivo, principalmente nos plantões noturnos; o assédio moral cometidos por gestores; avaliações atrasadas; defasagem nos salários; transferências compulsórias; fechamentos de Centros; plano de saúde, entre outros.


O novo presidente recebeu da direção sindical as pontuações e se comprometeu a fazer o melhor para a categoria.

Entre suas falas o presidente disse que na gestão dele não haverá diferença, todos os servidores terão tratamento igualitário, desde o menor cargo até a alta cúpula e já começou a fazer isto com a suspenção do scanner para todos os servidores e terceirizados.


Disse, também, que não medirá esforços para atender as necessidades dos trabalhadores, pois ele entende que o trabalhador exercendo sua função com saúde e satisfeito com seus ganhos contribuirá muito mais para o sistema socioeducativo.

Ainda falou que já está em contato com a operadora de saúde e fará o melhor para o trabalhador.


Finalizando, o presidente deixou claro que assédio moral ou sexual não terá vez em sua gestão, orientou que o trabalhador denuncie qualquer forma de assédio sofrido, conforme diz a lei.


Pediu para que, assim que ficarem decididas as pautas na assembleia, estas sejam logo encaminhadas para ele analisar com brevidade.


A direção presente deixou um vídeo mostrando seu ponto de vista para a categoria.


O SITSESP É DE TODOS, PARA TODOS, TRABALHANDO COM TODOS - SEJA UM FILIADO SITSESP E PARTICIPE DA LUTA


Servidores da Fundação CASA, venham o máximo de trabalhadores possível para participarem da assembléia presencial


 ASSEMBLEIA PRESENCIAL que acontecerá no próximo sábado, 21 de janeiro de 2023, com a primeira chamada às 09h e segunda chamada às 09h30, nas dependências do SINTRACON – Sindicato da Construção Civil de São Paulo.

Endereço Rua Conde de Sarzetas, n° 286 no Centro em São Paulo. Próximo ao metrô da Sé e atrás do Fórum João Mendes.
A pauta será a discussão e aprovação das pautas de reivindicação salarial e autorização para o sindicato começar a negociação coletiva.

Mais uma vez essa gestão síndical está fazendo de tudo e mais um pouco para que vá o mínimo de servidores possível pra assembléia presencial, então categoria, agora é a nossa vez de mostrarmos força e união, e fazer jus a nossa luta, venham participar desse importante movimento em prol a nossa batalha por benefícios.

Mais uma vez essa imprensa sindical está tentando ludibriar a categoria, colocou no site que a divulgação no diário oficial foi dia 18 de janeiro, quando na verdade foi dia 16 de janeiro e somente hoje essa gestão veio comunicar os trabalhadores, muito em cima da hora, em apenas 3 dias sabemos que será demasiadamente dificultoso mobilizar o máximo de servidores possível, mas mesmo assim não baixaremos a guarda e faremos de tudo pra que tenhamos uma excelente campanha salarial, mesmo com essa gestão patronal, vamos batalhar e muito, muito mesmo, em prol de benefícios pra categoria.

Porque juntos somos mais fortes, unidos seremos imbatíveis!!!


Chefe da Fundação Casa contrapõe Tarcísio sobre maioridade penal: “Não adianta”

 


Novo presidente da Fundação Casa, João Veríssimo afirma ser contra a redução da maioridade penal, que foi defendida por Tarcísio na campanha

São Paulo – Nomeado como novo presidente da Fundação Casa, o ex-juiz João Veríssimo afirma ser “totalmente contra” a redução da maioridade penal, pauta abraçada pelo bolsonarismo e que foi defendido pelo governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) durante a campanha eleitoral no ano passado.

Antiga Febem, a Fundação Casa é uma instituição do governo de São Paulo responsável pelas aplicar medidas socioeducativos para jovens infratores, de 12 a 21 anos de idade.

Em entrevista ao Metrópoles, Verísismo afirma que o obejtivo de sua gestão é fazer com que os jovens e adolescentes não entrem de vez na criminalidade e também defende a não internação de menores abaixo 15 anos que cometem algum tipo de crime de baixa perículosidade.

“Abaixar a menoridade penal não vai adiantar nada. Tem que resolver de baixo para cima, tem que fazer com que esse menino não entre no crime. A sociedade acha que jovem infrator é tudo bandido. Não é”, diz Veríssimo.

A visão do novo presidente da Fundação Casa contrasta com a opinião emitida pelo governador Tarcísio de Freitas  ainda na campanha eleitoral.

Durante debate com o então adversário na disputa pelo Palácio dos Bandeirantes, Fernando Haddad (PT), o ex-ministro de Bolsonaro afirmou que, caso eleito, usaria do prestígio do cargo de governador de São Paulo para liderar uma discussão nacional em defesa da redução da maioridade penal, pauta defendida pelo bolsonarismo.

“Já que você (Haddad) não respondeu, eu vou dizer: nós vamos trabalhar para reduzir, no Congresso Nacional, usando a liderança que o Estado de São Paulo tem, a maioridade penal. E vamos trabalhar também para que a proposta que já foi aprovada na Câmara, que trata das ‘saidinhas’, seja também aprovada”, disse Tarcísio no debate realizado pela Band, no dia 10 de outubro de 2022.

Apesar disso, a redução da maioridade penal não estava presente no plano de governo de Tarcísio e não faz parte das atribuições de um governador.

João Veríssimo afirma que não há “patrulhamento ideológico” dentro do governo Tarcísio e diz não acreditar que encontrará empecilhos para tocar pautas menos punitivistas na Fundação Casa.

“Acho que ele (Tarcísio) já até repensou (sobre a redução da maioridade). Eu não vi em nenhum momento o governador falar que ele só quer punir. O Tarcísio tem uma visão humanista, ele trabalhou fora do país em questões humanitárias, não tem nenhuma orientação no sentido de que isso seja aplicado aqui, de forma alguma. Tenho absoluta certeza que a orientação é para educar para não voltar para o ato infracional”, diz.

Veja outros trechos da entrevista:

Modelo alternativo

“Quero tentar conversar com os promotores da Infância e da Juventude e também com os juízes e dizer que a internação é a última opção. Hoje temos 16 adolescente com 12 anos (entre quase 4.600 internos na Fundação Casa). Que periculosidade eles oferecem para a sociedade? Precisa mesmo ser internado? O juiz precisa entender que a Fundação Casa é o último caso”.

“Falta hoje um sistema para acolher menores primários abaixo de 15 anos que não oeferem perigo à sociedade, um sistema aberto, intermediário, que dê condições para não enveredar para o crime. Tem que ter um acompanhamento psicológico, mas solto, não preso”.

Qualificação profissional

“O que é fundamental e´dar qualificação profissional dentro da Fundação. Hoje o estado oferece escola, mas ainda não temos dentro das unidades oficinas de trabalho. É uma coisa que a gente precisa fazer. Da mesma forma que o preso adulto tem como trabalhar. O adolescente também pode trabalhar depois dos 16 anos, aprender uma profissão. É caro? Sim. Mas a gente precisa ir atrás de orçamento para fazer essas coisas. Aprender a ser padeiro, aprender computação, programação. É isso que a gente vai tentar.”

Parcerias e convênios

“Como eu acabei de chegar, preciso me inteirar da legislação se existe essa possibilidades de parcerias com o governo. Se não tiver, vamos criar. Mas não podemos deixar essa meninada sem atividade intelectual, sem atividade profissional. Se não eu deixo um menino lá por três anos, sem aprender nada, e aí entrego em casa e falo para a família se virar. Muitas vezes ele chega em casa e não tem nem o que comer”.

“Tem que fazer a qualificação dentro da instituição e fora também. Se tiver sucesso na qualificação profissional dentro da instituição, é um problema a menos que você vai ter fora dela.  A pariticpação do município é fundamental. A gente já tem tido sucesso com essas parcerias, mas ainda não é o ideal”

Perfil dos jovens infratores

“O perfil não difere da população carcerária: tráfico, roubo e furto. São os três crimes que levam à custódia na Fundação Casa. 70% dos internos são pretos ou pardos. Os pretos sofrem discriminação, não conseguem emprego, vivem na pobreza e uma coisa leva a outra. É o racismo estrutural que reflete no sistema penal. Eu sou preto e vivi isso na pele”.

Funcionários da Fundação Casa

“Até julho quero conhecer as 116 unidades da Fundação Casa. São 46 cidades. Ver o que falta, o que precisa. Prestigiar os funcionários. O funcionário é parte preponderante para o sucesso. E aquele das regionais, aquele que lida com o adolescente. É lá na ponta que você tem que fazer com que o adolescente reflita. O agente socioeducativo lida com ele todo dia, é o que vai substituir o que ele não tem em casa. Essa convivência tem que ser pacífica, harmônica, educadora e produtiva”.

Quem é João Veríssimo Fernandes

João Veríssimo Fernandes é filiado ao PSD e aliado do atual secretário de governo de São Paulo, Gilberto Kassab.

Advogado de formação, atuou como juiz de Direito do Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais (TJMG) entre 1993 e 2015. Também foi juiz eleitoral no Tribunal Regional Eleitoral de Minas Gerais (TRE-MG) por 13 anos.

Na área administrativa, atuou na área da Infância e juventude como coordenador do antigo Comissariado de Menores da Comarca de Mauá, na Grande São Paulo. Na ocasião, realizou ações sociais com foco em adolescentes infratores e crianças e adolescentes em situação de vulnerabilidade.

Depois de deixar a magistratura, em 2015, foi secretário de governo na prefeitura de Mauá e assessor especial na prefeitura de Santo André.

Natural de Santa Fé do Sul, no interior paulista, se mudou para Mauá com a família em 1970, aos 9 anos de idade. Construiu parte considerável de sua história na cidade da Região Metropolitana de São Paulo

terça-feira, 17 de janeiro de 2023

Haddad sinaliza corretamente sobre precatórios



  • Grupo de avaliação de riscos fiscais pode reduzir custo dessas responsabilidades do Tesouro. Novo avanço pode ser a exclusão do teto de gastos

Na quinta-feira passada, 12, ao anunciar suas primeiras medidas, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou que iria “atuar tecnicamente nos tribunais, com muita força, para mostrar a robustez” das decisões tomadas, entre elas “evitar que aconteçam novos calotes de precatórios”. Ao mesmo tempo tornou pública a criação do grupo de acompanhamento de riscos fiscais. 

Acompanhar os riscos fiscais permitirá que se atue não apenas nos tribunais, mas especialmente no início dos processos de precatórios em instâncias inferiores. Isso poderia evitar casos mal construídos, que podem resultar em sentenças de valores excessivos.

O ministro tem tudo para avançar ainda mais, seja para colocar um fim à vergonha do calote dos precatórios, seja para evitar, em futuro próximo, impacto excessivo nas contas do Tesouro. Tal impacto viria de decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) que considere inconstitucionais as emendas do calote (EC 113 e 114). Em duas ocasiões, o STF decidiu pela inconstitucionalidade de emendas de mesmo objetivo.  Calcula-se que a bola de neve que se acumulará em consequência do adiamento da quitação  de precatórios possa alcançar 350 bilhões de reais. 

Se vier a ser o caso, como é muito provável, a medida judicial influenciará negativamente a confiança dos mercados diante de seu efeito na gestão macroeconômica. Certamente, o governo e o Congresso agiriam para excluir os precatórios do teto de gastos, mediante rápida aprovação de emenda constitucional com esse propósito. Por que não agir antes? 

De fato, o recomendável seria promover essa exclusão aproveitando a criação do grupo de avaliação de riscos fiscais. A lógica da medida é reconhecida na literatura sobre regras fiscais. Afirma-se que tetos de gastos devem prever válvulas de escape para lidar com gastos imprevisíveis e fora do controle do governo. Esse é o caso típico dos precatórios, que resultam, como se sabe, de decisões do Judiciário.

Tenho defendido essa exclusão neste espaço. Essa também é a opinião do ex-secretário do Tesouro Nacional, Mansueto Almeida, que participou da formulação do teto de gastos. Ele declarou que houve falha em não excluir os precatórios do limite. Em artigo acadêmico, Fabio Giambiagi e Manoel Pires, ambos do IBRE, dois de nossos reconhecidos especialistas nessa área, defenderam uma revisão das regras do teto, a qual excluiria os precatórios. 

Atuar imediatamente permitirá que o Tesouro disponha de tempo para absorver os custos de tais sentenças judiciais, em vez de não se preocupar com um risco fiscal que se acumulará nos próximos anos. Sua materialização de uma hora para outro teria graves consequências para a economia brasileira.

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