terça-feira, 1 de março de 2022

Policial civil é baleado por PM e morre em frente a delegacia

 

Por g1 Santos

 


Policial civil Eduardo Antonio Brazzolin foi morto por um PM em frente a delegacia — Foto: Arquivo Pessoal

Policial civil Eduardo Antonio Brazzolin foi morto por um PM em frente a delegacia — Foto: Arquivo Pessoal

Um policial civil foi morto por um policial militar durante uma discussão em frente à Delegacia Sede de Guarujá, no litoral de São Paulo, na madrugada desta segunda-feira (28). Durante o registro da ocorrência, foram apresentadas duas versões para as circunstâncias do crime, que é investigado pela Polícia Civil.

Em uma das versões, os policiais militares envolvidos na situação alegaram que estavam em patrulhamento quando foram informados de que havia um suspeito armado em uma praça. Eles passaram algumas vezes no local, e o homem teria feito gestos obscenos em direção à viatura.

Ainda de acordo com os PMs, eles tentaram abordar o jovem, um motoboy de 23 anos, mas ele apresentou resistência, sendo necessária a utilização de força para imobilizá-lo. Outras equipes foram acionadas para prestar apoio.

Policial civil é morto por PM em frente à Delegacia Sede de Guarujá
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Policial civil é morto por PM em frente à Delegacia Sede de Guarujá

De acordo com o boletim de ocorrência, o motoboy foi conduzido à Unidade de Pronto Atendimento (UPA) do bairro Enseada, por conta de escoriações causadas pelo uso da força, e em seguida foi levado à Delegacia Sede.

O policial civil, Eduardo Antonio Brazzolin, de 65 anos, pai de um amigo do motoboy detido, foi até a delegacia, onde iniciou uma discussão com os policiais e disparou contra eles, atingindo o ombro de um deles. Os policiais militares revidaram e dispararam contra o policial, que morreu no local.

Outra versão

Segundo o boletim de ocorrência, o filho de 21 anos do policial civil contou que estava em um restaurante com o amigo motoboy, quando ambos perceberam que policiais militares estavam passando várias vezes pelo local e apontando na direção deles.

Por esse motivo, eles resolveram sair do estabelecimento e seguiram em direção aos respectivos carros. Nesse momento, o filho do policial civil foi abordado, e viu que o amigo também estava sendo abordado.

Segundo a versão do jovem, durante a abordagem, os policiais militares, ao tomarem conhecimento de sua identidade, ameaçaram o pai dele de morte. O amigo, por sua vez, foi conduzido à viatura da Força Tática. Na sequência, o filho do policial civil entrou no carro, foi para casa e, por volta da 0h50, contou para o pai o que havia ocorrido.

O jovem conta que ele e o pai foram à delegacia procurar pelo motoboy, e após 15 minutos, o encontraram dentro da viatura da PM. Ocorreu uma discussão entre o pai dele e um policial militar, em frente à delegacia. Outros três PMs foram para cima do policial civil, que foi empurrado e imobilizado pelo policial militar. O PM que iniciou a discussão efetuou seis disparos contra o policial civil, que caiu e morreu no local.

Caso ocorreu em frente à Delegacia Sede de Guarujá, SP — Foto: Luciana Moledas/g1

Caso ocorreu em frente à Delegacia Sede de Guarujá, SP — Foto: Luciana Moledas/g1

Investigação

A Polícia Civil informou que irá analisar as imagens da câmera de monitoramento da delegacia e de câmeras acopladas aos uniformes dos policiais militares durante a investigação.

Em nota, a Secretaria de Segurança Pública de São Paulo (SSP-SP) informou que todas as circunstâncias relacionadas aos fatos estão sendo apuradas pela Delegacia Sede de Guarujá, que instaurou um inquérito policial.

De acordo com a pasta, a autoridade policial analisa imagens, realiza a oitiva de testemunhas e busca por elementos que auxiliem no esclarecimento dos fatos. As armas dos policiais envolvidos na ocorrência foram apreendidas e encaminhadas à perícia. Um inquérito também foi instaurado pela PM.

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segunda-feira, 28 de fevereiro de 2022

Número de internos na Fundação Casa cai 26% em cinco anos

  


Há três justificativas: melhora dos indicadores criminais, medidas alternativas e envelhecimento populacional

POR KALLY MOMESSO

FÁBIO ROGÉRIO (10/2/2022)
Unidades de Sorocaba abrigaram 68 jovens a menos entre 1º de fevereiro de 2017 e a mesma data deste ano.

O número de adolescentes internados e atendidos nas unidades da Fundação Centro de Atendimento Socioeducativo ao Adolescente (Casa) de Sorocaba diminuiu 26,3% nos últimos cinco anos. A comparação ainda demonstra que, atualmente, os quatro centros de Sorocaba atendem o menor número de jovens nos últimos 10 anos. O secretário da Justiça e Cidadania do Estado de São Paulo e presidente da Fundação Casa, Fernando José da Costa nega relação com a pandemia de Covid-19 e explica a diminuição.

De acordo com o balanço feito pela Fundação Casa a pedido do Cruzeiro do Sul, as quatro unidades sorocabanas tiveram 68 jovens a menos entre o dia 1º de fevereiro de 2017 [258 internos] e a mesma data deste ano [190 internos]. Já na comparação entre a última década -- de 2012 a 2022 --, a diminuição é menos substancial, 9%. Nos últimos 10 anos, o maior número de jovens internados foi registrado em 2016, com 269 adolescentes.

Fernando Costa atribui a queda a três fatores: a melhora dos indicadores de criminalidade no Estado; adoção de medidas alternativas pelo Judiciário; e o envelhecimento da população. Já sobre relação com a pandemia de coronavírus, ele nega. “Na pandemia a gente veio mantendo a média de internos”, explicou.

A internação é a pena máxima que pode ser aplicada a adolescentes condenados por atos análogos a crimes graves e vai até três anos. O perfil dos jovens da Fundação Casa mostra que a maioria (48,37%) está lá por tráfico de drogas, seguido de roubo qualificado (34,32%).

A tendência tem feito com que o governo paulista feche parte das unidades. Cinco tiveram as atividades encerradas no dia 31 de janeiro, elevando para 30 o número de centros desativados. “Estamos analisando a necessidade de suspender mais alguns centros porque, com isso, você economiza esse dinheiro e investe em outras sessões”, disse Fernando Costa.

Atualmente, no Estado de São Paulo, os centros de atendimento contam com aproximadamente 4.500 jovens para 7.582 vagas, ou seja, uma ocupação de 60% mesmo com a suspensão das unidades. Ainda assim, se houver aumento de demanda do atendimento nas respectivas regiões, os centros socioeducativos podem ser reabertos. Em Sorocaba nenhuma unidade foi fechada.

Capacitação profissional

Luciana Monteiro Santos, encarregada técnica da Fundação Casa de Sorocaba apontou a capacitação dos jovens para o mercado de trabalho como atividade para reduzir a reincidência. “Nós temos todos os recursos humanos para que ele [interno] tenha um bom desenvolvimento dentro da medida com os servidores da Fundação e os parceiros, como o Senac, o Projeto Guri e Rede Cidadã”, contou.

Nesse sentido, o governo estadual implantou em dezembro de 2021 o programa Minha Oportunidade, voltado a jovens da Fundação Casa para capacitação e inserção no mercado de trabalho. A ação teve investimento de R$ 25 milhões e deve encaminhar ao menos metade dos adolescentes internados nas unidades à empregabilidade pelos próximos 22 meses.

Quem sente a importância das medidas socioeducativas é o jovem Ariel, de 18 anos. Ele é interno há 8 meses e almeja um futuro melhor. Enquanto escrevia sua redação sobre seu projeto de vida, ele contou à reportagem que faz diversos cursos e aprendeu a gostar dos estudos. Ele quer aprender cada vez mais e ajudar o próximo cursando enfermagem.

Já Maceió, de 18 anos, está aproveitando as oportunidades que não tinha antes para dar orgulho à sua mãe. “Nesses 8 meses eu estou amadurecendo e aprendendo a viver em sociedade”. Ele gosta de marketing e disse que seu pai irá ajudá-lo a abrir um negócio. Mas seu sonho mesmo é cursar gastronomia.

Assim que o adolescente sair da Fundação Casa ele pode ser acompanhado pela Organização da Sociedade Civil (OSC) contratada pelo governo do Estado. “Ela tem a obrigação de verificar no mercado quais empresas estão aptas a contratar egressos da Fundação Casa, orienta as empresas sobre essa contratação e orienta a Fundação para capacitar os jovens para esses empregos, principalmente o mercado de trabalho digital. Além disso, a organização ainda acompanha os jovens que saem da Fundação em pelo menos três entrevistas de emprego”, explicou o secretário Fernando Costa.

A medida também é uma aposta para a diminuição da criminalidade. “Muitos jovens vivem em um ambiente propício à criminalidade. É muito importante que eles tenham a possibilidade de escolher na vida. Esse adolescente precisa do apoio do Estado, porque, se não tiver, a probabilidade dele sair e cometer outro ato infracional é muito elevada. Com isso, aquele índice de criminalidade não vai abaixar, trazendo mais custo”, disse o presidente da Fundação.

Mudanças na gestão

Em 2021, o governo paulista encerrou a gestão compartilhada com a Pastoral do Menor. A entidade assumiu a gestão da Fundação Casa em 2006, buscando superar o passado marcado por denúncias de tortura, maus tratos, superlotação, falta de unidades no interior e ausência de projeto pedagógico da antiga Fundação de Bem-Estar do Menor (Febem), como lembrou Dom Julio Endi Akamine, arcebispo metropolitano da Arquidiocese de Sorocaba, na época do desligamento.

Dessa forma, todas as Casas passaram para o modelo de Gestão Plena. Em Sorocaba, a Pastoral do Menor (Associação Dom Luciano) deixou as unidades em 30 de setembro de 2021 com o desligamento de cerca de 70 funcionários. (Kally Momesso)