Levantamento do Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP) mostra que há menos de dois PMs para cada grupo de mil moradores do estado
atualizado
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São Paulo — As polícias Militar e Civil de São Paulo, estado mais rico da federação, estão com falta de agentes em seus efetivos. Entre 2013 e 2023, o contingente de policiais militares caiu de 89.869 para 80.037 (-8,9%), enquanto o de policiais civis encolheu 19,5%, de 32.278 para 25.980.
Os dados constam do mais novo levantamento feito pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP), divulgado nesta terça-feira (26/2). Segundo o “Raio X das Forças de Segurança Pública do Brasil”, há 1,8 policial militar em território paulista para cada grupo de mil habitantes. Já na Civil, a proporção é de 0,5 policial para cada mil cidadãos.
O diretor-presidente do FBSP, Renato Sérgio de Lima, afirma ao Metrópoles que, na prática, um grande efetivo não significa mais segurança. “O que garante isso é a forma como os policiais são organizados no território.”
O especialista diz, ainda, que a sobrecarga de trabalho, resultante do déficit de policiais, também acarreta problemas de saúde dos agentes, incluindo saúde mental, o que resulta em mais gastos com afastamentos e eventuais tratamentos médicos.
Déficit em números
A sensação de insegurança relatada por moradores de São Paulo, incluindo a percepção de falta de policiamento, se reflete nos dados levantados pelo FBSP.
De acordo com a pesquisa, o efetivo previsto para a Polícia Civil é de 27.170. Na prática, no entanto, 21.089 agentes estão na ativa no estado, representando 77,6% do ideal.
A PM também está com policiais em falta. Dos 93.802 previstos, 80.037, incluindo 8.506 bombeiros, estão trabalhando nas ruas e em setores administrativos das corporações.
Diferenças salariais
O levantamento do FBSP também mostra as diferenças salariais dos policiais militares de São Paulo e de todos os estados brasileiros. Goiás é o mais generoso, onde um soldado recebe R$ 10 mil de salário bruto, ou R$ 6.615 com descontos. Isso supera os R$ 5.794 pagos, em média, para subtenentes em São Paulo.
Os soldados, primeira patente na hierarquia militar, recebem em São Paulo salário bruto de R$ 6.362. De acordo com o levantamento do FBSP, eles também contam com um contingente menor do que o de cabos, que são seus superiores diretos, um degrau acima na escala hierárquica da corporação.
O levantamento do FBSP mostra que há 27.382 soldados atuantes na PM paulista e 35.931 cabos. Ou seja, há 8.549 superiores diretos a mais do que soldados na corporação. Isso cria um “clima organizacional ruim”, afirma Renato Sérgio de Lima.
“A própria polícia não respeita níveis. Não faz concurso, promove verticalmente. Isso gera distorção, só alimenta insatisfação.”
O especialista acrescenta que muitos policiais são cedidos a outros poderes e órgãos, como tribunais, promotorias e secretarias, tanto municipais como estaduais. “Muita gente [policial] cedida, fazendo outra função, sem critério, sem baliza, gera esse tipo de situação [baixo efetivo]”, conclui.