Josmar Jozino
Colunista do UOL
08/10/2020 04h05
Saídas da cela para passeios em avião particular com o diretor de um presídio eram algumas das regalias desfrutadas nas prisões brasileiras pelo narcotraficante Orlando Marques dos Santos, 59, o Sarará, o líder mais perigoso do PCC (Primeiro Comando da Capital) preso na Argentina.
Sogro do também narcotraficante Gilberto Aparecido dos Santos, o Fuminho, este sendo braço-direito de Marco Willians Herbas Camacho, o Marcola, apontado como chefe máximo do PCC, Sarará foi preso com a ajuda da PF (Polícia Federal) em Buenos Aires em 18 de dezembro de 2019.
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O criminoso está recolhido em penitenciária federal na capital argentina. Há quem diga que o narcotraficante já sente saudades dos tempos de cárcere no Brasil, principalmente de uma CPP (Casa de Prisão Provisória) do interior de Goiás.
O Ministério Público de Goiás apurou que Sarará tinha a chave da cela e costumava sair da CPP para fazer viagens interestaduais "a negócios" em 2001.
Ele viajou para o Maranhão, Pará, Piauí e São Paulo. Segundo a Justiça de Goiás, em um dos voos, para a cidade de Palmeirópolis (TO), o preso levou a bordo de um avião particular o diretor da CPP.
O criminoso também era autorizado a sair da cadeia para participar de festas familiares.
Tratamento dentário de R$ 30 mil
Não era só na prisão de Goiás que Sarará tinha um tratamento diferenciado dos demais detentos. Na década passada, quando esteve na Penitenciária de Araraquara (SP) ao lado da "sintonia final do PCC", a alta cúpula da facção, Sarará pagou R$ 30 mil à vista por um tratamento dentário.
As autoridades carcerárias de São Paulo apontavam Sarará como um prisioneiro de muitas posses e um dos 10 maiores narcotraficantes do Brasil. Ele foi acusado de lavar dinheiro do tráfico de drogas investindo em revendedoras de veículos, imóveis de luxo em Alphaville (bairro nobre na região de Sâo Paulo), aeronaves e uma fazenda com 3.500 cabeças de gado em Tocantins.
Em 2014, o preso conseguiu o benefício do regime semiaberto e foi transferido para um presídio de Franco da Rocha, na Grande São Paulo, de onde fugiu em 6 de fevereiro do mesmo ano. Nas prisões paulistas por onde passou tinha telefones celulares e contava com vários advogados.
Segundo a Polícia Federal, depois da fuga, Sarará voltou a atuar ao lado do genro Fuminho e passou a ser o homem de confiança dele. Agentes apuraram que ambos enviaram grandes carregamentos de cocaína da América do Sul para diversos países, sobretudo da África e Europa.
Sarará circulou por 4 países na América do Sul
Em fevereiro de 2018, após ter seu nome envolvido como mandante das mortes de Rogério Jeremias de Simone, o Gegê do Mangue, e Fabiano Alves de Souza, o Paca, líderes do PCC assassinados no Ceará, Fuminho foi embora para o continente africano.
Policiais federais apuraram que no dia 19 de março de 2018 Fuminho deixou a Argentina em um voo da Lufthansa com destino à Alemanha. De lá seguiu para a África do Sul, onde se estabeleceu com sua mulher, filha de Sarará. Fuminho acabou preso em Moçambique em abril deste ano.
A partir da fuga de Fuminho, Sarará passou a coordenar o tráfico de drogas até então consolidado pelo genro. A Polícia Federal, no entanto, já o monitorava e descobriu que ele usava diferentes identidades na Bolívia, Peru, Paraguai e Argentina.
Em 10 de dezembro do ano passado, a PF recebeu informações de que Sarará estava na província de Chapare, na Bolívia, e que se deslocaria para Salto del Guairá, no Paraguai. Oito dias depois, a PF descobriu que o narcotraficante estava na Argentina.
Compadre de Marcola
Ainda segundo a Polícia Federal, Sarará tinha relações de amizade com Marcola e o chamava de "compadre" quando ambos cumpriram pena em um presídio no interior de São Paulo. A PF informou também que o processo de extradição de Sarará para o Brasil está em andamento.
Na folha de antecedentes de Sarará consta que ele foi condenado a 34 anos pelos crimes de homicídio, tráfico de drogas, associação ao tráfico e lavagem de dinheiro.
O UOL não conseguiu contato telefônico com o advogado de Sarará na Argentina. A coluna também enviou email para o advogado dele no Brasil, mas até a conclusão desta reportagem o defensor não havia dado retorno.
** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL
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