Servidores de unidades socioeducativas criticam tempo maior de internação para infratores
Medida está prevista em proposta analisada por comissão especial da Câmara. Tema foi discutido em audiência nesta terça-feira.
Representantes de servidores de unidades destinadas ao cumprimento de medidas socioeducativas por adolescentes infratores classificaram o sistema atual como “caótico” e manifestaram preocupação com o eventual aumento do período de internação – de três para dez anos – no caso de atos infracionais equivalentes a crimes hediondos.
Lucio Bernardo Jr. / Câmara dos Deputados
Cristiano Torres: aumentar o período de internação sem adotar medidas complementares é "suicídio"
Essa medida está prevista em um dos 53 projetos (PL 7197/02 e apensados) analisados pela comissão especial sobre mudanças no Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA – Lei 8.069/90).
Para Cristiano Torres, presidente do conselho nacional que reúne entidades representativas dos funcionários das unidades, aumentar o período de internação sem adotar medidas complementares “é suicídio”. “Não temos condição de manter lá pessoas de 26 anos ou mais. Em alguns lugares, há rebeliões todos os dias e não temos condições mínimas de serviço”, apontou.
Hoje, um adolescente infrator pode ser mantido em uma unidade socioeducativa até os 21 anos de idade. Caso a elevação do tempo de internação para dez anos vire lei, o infrator poderá permanecer nos centros até os 28.
Além do aumento da infraestrutura física das unidades e do número de funcionários, Torres sugeriu duas medidas: a inclusão dos servidores do sistema na lista de carreiras típicas de Estado (o que exige uma emenda à Constituição) e a adoção de uma Lei de Execução Penal voltada aos adolescentes infratores.
O presidente da comissão especial, deputado Pompeo de Mattos (PDT-RS), concordou com a sugestão de equiparação dos servidores das unidades com os do sistema de segurança pública. “Não podemos negar que os trabalhadores do socioeducativo atuam diretamente na área de segurança. Há unidades unidades que são verdadeiras cadeias”, afirmou.
Proposta
O relator da comissão especial, deputado Aliel Machado (Rede-PR), pretende apresentar ainda neste mês o substitutivopara as 53 propostas em exame. Ele não quis antecipar se vai ou não defender o aumento do período da medida socioeducativa, mas questionou a medida.
O relator da comissão especial, deputado Aliel Machado (Rede-PR), pretende apresentar ainda neste mês o substitutivopara as 53 propostas em exame. Ele não quis antecipar se vai ou não defender o aumento do período da medida socioeducativa, mas questionou a medida.
“Para o adolescente de 12 anos, um ano é muito mais tempo, pois é a fase de desenvolvimento dele. Não podemos achar que a punição vai resolver o problema”, disse.
Lucio Bernardo Jr. / Câmara dos Deputados
Aliel Machado: o Estado tem de ser responsabilizado pelo não cumprimento das ações preventivas estabelecidas pelo ECA
Para Machado, o Estado tem de ser responsabilizado pelo não cumprimento das medidas preventivas do ECA. “Esses jovens vivem uma realidade de problemas econômicos, de vulnerabilidade, não vão à escola e são mantidos em lugares às vezes piores que presídios”, comentou.
Caos
Presidentes de sindicatos estaduais dos servidores dos centros socioeducativos também citaram dificuldades enfrentadas pelos trabalhadores. “As unidades não têm capacidade de abrigar mais ninguém”, afirmou Bruno Menelli, do Espírito Santo.
Presidentes de sindicatos estaduais dos servidores dos centros socioeducativos também citaram dificuldades enfrentadas pelos trabalhadores. “As unidades não têm capacidade de abrigar mais ninguém”, afirmou Bruno Menelli, do Espírito Santo.
“De norte a sul do País, a realidade é uma só: o sistema socioeducativo está um caos. Os estados têm terceirizado os funcionários para as organizações sociais, só para transferir o problema”, acrescentou Roberto Condé, de Goiás.
“Se aumentar o período de internação, precisaremos triplicar ou quadruplicar o número de servidores”, comentou Aldo Damião, de São Paulo.
Aplicação do ECA
Diante dos depoimentos, as deputadas Carmen Zanotto (PPS-SC) e Erika Kokay (PT-DF) defenderam a aplicação do ECA em vez da elevação do tempo de internação.
Diante dos depoimentos, as deputadas Carmen Zanotto (PPS-SC) e Erika Kokay (PT-DF) defenderam a aplicação do ECA em vez da elevação do tempo de internação.
“O sistema penal não recupera ninguém, e esses centros socioeducativos não estão funcionando como deveriam”, sustentou Zanotto.
“Não existem as políticas básicas previstas no estatuto; medidas protetivas implementadas pelos conselhos tutelares não são cumpridas”, destacou Kokay.
A audiência pública foi pedida pelo deputado Laerte Bessa (PR-DF). Ele ressaltou a importância de conhecer a visão de quem trabalha diretamente com o sistema socioeducativo.
ÍNTEGRA DA PROPOSTA:
Reportagem - Antonio Vital
Edição - Marcelo Oliveira
Edição - Marcelo Oliveira
COMENTÁRIOS
André de Jesus Sarmanho dos Santos Freire | 05/04/2017 - 12h53
Entendo que esse problema poderia ser resolvido com a retirada da proteção à ao adolescente infrator no ECA (Lei 8.069/90),deixando este para promoção e proteção à criança e ao adolescente em situações de vulnerabilidade e risco.Um novo Estatuto para o Menor Infrator seria criado,retirando do ECA,a proteção a marginais menores de idade.Dessa forma se prestaria um serviço de assistência social às crianças e adolescentes em situação de vulnerabilidade e risco. já o Estatuto do Menor Infrator asseguraria a recuperação em reformatórios sob responsabilidade da Polícia Carcerária.
Erasmo Neto | 05/04/2017 - 12h50
Estão só discutindo os efeitos e não procuram estudar as causas.Os jovens são aquilo que a sociedade ensina.Quem administra a sociedade somos nós adultos,mas muitos adultos foram criados na mentalidade dos guetos,os quais tem por principio o egocentrismo que,não permitem o abraço dos diferentes.Convivi com todas as praticas de crimes,do intelectual abstrato que é o pior, a justiça humana só julga com base material cientifica, os autodidatas, a justiça consegue punir.Enquanto os crimes forem tratados como uma industria geradora de empregos legais e não morais o caos evoluí no vácuo moral.
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