Dois agentes se agrediram no último dia 21 na base do Grupo de Operações Especiais (GOE) em São Bernardo do Campo, Grande São Paulo. Dois cachorros atacaram briguentos, que foram separados por outros policiais. Corregedoria da Polícia Civil investiga o caso.
Por TV Globo e g1 SP — São Paulo
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Policiais de grupo de elite brigam em SP
Vídeo gravado por câmera de segurança e que circula nas redes sociais mostra o momento que dois policiais civis brigam na base do Grupo de Operações Especiais (GOE) em São Bernardo do Campo, na Grande São Paulo (veja acima). O caso ocorreu no último dia 21 de março.
Nas imagens é possível ver os agentes do GOE, grupo de elite da Polícia Civil do estado, trocando socos. Um dos policiais ainda chuta o colega e tenta imobilizá-lo. As armas que eles portavam não foram usadas.
O motivo da briga foi uma dicussão entre eles por causa da escala de folga e de trabalho durante o feriado da Semana Santa, nesta sexta-feira (29) e na Páscoa, no próximo domingo (31).
Dois cães do grupamento intervêm e mordem
os briguentos. Em seguida aparecem mais policiais que tentam apartar a briga dos agentes e afastar os cachorros com chutes.
Por causa dessa confusão, a Corregedoria da Polícia Civil abriu um inquérito para apurar as condutas dos agentes envolvidos na confusão, segundo informou a Secretaria da Segurança Pública (SSP).
Policiais do GOE 'saem na mão' por causa da escala de folga na Páscoa — Foto: Reprodução/Redes sociais
Edmilson Ferreira da Silva saiu de casa aos 7 anos para fugir de um padrasto violento e passou a morar no Centro de Campinas (SP). Após ser adotado, viu na própria história uma ferramenta para tentar mudar a vida de outros jovens.
O menino de rua que 'renasceu' pela adoção e vive sonho de trabalhar na Fundação Casa
Aos 48 anos, Edmilson Ferreira da Silva relata com um semblante impassível a infância marcada por violência nas ruas de Campinas (SP). Em meio às lembranças duras, o primeiro sorriso aparece despretensiosamente quando o agente socioeducativo traz à tona o nome da mulher responsável por seu “renascimento”: dona Maria Ferreira, a mãe adotiva.
Em situação de rua desde os 7 anos, Edmilson foi adotado por dona Maria aos 18 após ser acolhido em uma entidade assistencial para crianças e adolescentes em vulnerabilidade social na metrópole. Hoje, o agente socioeducativo usa a própria história para tentar mudar a vida de jovens que cumprem medidas na Fundação Casa.
“Tudo que a gente [Edmilson e o irmão] faz hoje em dia, é porque temos certeza que a minha mãe foi quem nos deu essa oportunidade e ensinou o caminho. Ela sempre falava: ‘olha nos olhos das pessoas, não tenha medo de encarar as pessoas frente a frente, olha no rosto da pessoa porque você é digno, você é bom, você é honesto e você faz o bem’. Foi isso que ela passou pra gente, fazer o bem para as pessoas, e eu comecei a levar isso comigo”, diz.
Violência e perda
Anos antes de conhecer dona Maria, Edmilson precisou se despedir da família biológica para fugir de um padrasto violento. Sozinho e nas ruas, criou uma relação de irmandade com aproximadamente 30 outros garotos que, assim como ele, buscavam a ideia de liberdade.
“Comecei a procurar meu espaço ali na rua, frequentar outros ambientes, encontrar com outros meninos que moravam na rua, e comecei a fazer amizade. Com o passar do tempo, me esquecendo que eu tinha irmão, que eu tinha mãe, que eu tinha família. Naquele momento, o mais importante para mim era sobreviver”, relata.
Para sobreviver, também era preciso lidar com a criminalidade e a presença constante de drogas, principalmente a cola de sapateiro. “Além da questão de ter de sobreviver, um proteger o outro, a gente ainda tinha a preocupação de esconder. E mesmo assim, com toda essa vivência na rua, a gente sofria muita violência”.
Com o passar dos anos, as despedidas continuaram. Não era incomum, segundo Edmilson, perder amigos que também estavam em situação de rua por doença ou assassinato. Um dos casos mais marcantes foi a morte de um garoto apelidado de “Come-Cola”, que dormia ao seu lado.
“De repente, eu escutei uns barulhos e alguma coisa espirrava na minha nuca. Na hora eu não definir o que era, e naquele momento eles estavam dando tijoladas na cabeça do Come-Cola. Eu senti o corpo dele estremecer porque ele estava colado no meu, e eu senti o sangue dele espirrar na minha nuca”, conta Silva.
Edmilson saiu de casa e se juntou a grupo de crianças em situação de rua no Centro da metrópole — Foto: Edmilson Ferreira/Arquivo pessoal
De 'dona Maria' a 'mãe'
Foi em frente à Catedral Metropolitana de Campinas que Edmilson viu a mãe pela primeira vez. Carregando uma “bagagem” de traumas, ele lembra de ver dona Maria com uma sacola na mão, oferecendo lanches aos meninos em situação de rua habituados a pedir comida e dinheiro na região.
“A tia Maria tinha um jeito todo especial de chegar. Segurava assim na nossa cabeça, dava um beijo na nossa festa e isso foi marcando para mim. [...] Começou a entrar na nossa história, a querer fazer com que a gente se sentisse gente, porque a gente não tinha essa questão de se sentir pessoas de verdade. A gente era tido como bicho”, diz.
Os encontros com Maria Ferreira se tornaram cada vez mais frequentes e esperados, até que veio o convite: os meninos seriam levados à Casa Maria de Nazaré, instituição que recebe crianças e adolescentes em vulnerabilidade social na metrópole. Atualmente, a entidade possui cerca de 800 atendidos.
Na instituição, o carinho pela mulher que não demonstrava receio em se aproximar dos garotos começou a se transformar em um amor recíproco. Edmilson ainda lembra do dia em que dona Maria revelou ter dado entrada na papelada para adotá-lo junto ao melhor amigo dele, com quem dividia a rotina nas ruas.
“Era um recomeço, como se a gente estivesse nascendo de novo para a vida. Como se uma pessoa pegasse você, tirasse do abismo e da lama e te limpasse. […] Ela nos deu o caminho, a oportunidade de vida, de ter uma mãe que se importasse realmente com a gente e que nos desse carinho”.
Edmilson Ferreira e outras crianças na Casa Maria de Nazaré, em Campinas (SP) — Foto: Edmilson Ferreira/Arquivo pessoal
O sonho do concurso
O recomeço por meio da adoção despertou em Edmilson a vontade de mudar a realidade de outros meninos com histórias parecidas. Nasceu, então, o sonho de prestar o concurso público para se tornar servidor da Fundação Casa.
À época em que decidiu se candidatar, Edmilson trabalhava como motorista e usava os pequenos intervalos entre os trajetos para estudar. Há cerca de um ano e meio, o agente socioeducativo foi aprovado e começou a atuar em uma das unidades da instituição na metrópole.
“Minha responsabilidade como como servidor público é passar para eles a minha experiência, para que ele se inspirem de alguma forma e façam uma escolha diferente daquela que fizeram e levou eles para aquele momento. Como ser humano, me vejo na obrigação de estar ajudando de alguma forma”, destaca Silva.
“É uma oportunidade de passar para esses meninos, que estão reclusos de liberdade por praticarem algum ato infracional, a minha experiência de vida. Mostrar para eles que não precisam ir para o caminho errado e praticar atos infracionais por não ter família, por não ter uma condição de vida boa”.
Edmilson ao lado da mãe adotiva, dona Maria, e da filha — Foto: Edmilson Ferreira/Arquivo pessoal