BRASÍLIA — O Fórum Nacional de Governadores, que congrega chefes dos 26 estados e do Distrito Federal, avalia a possibilidade de flexibilizar o uso de máscaras no país a partir de março. O grupo pediu uma análise técnica ao comitê científico que o assessora voluntariamente e agendou para o próximo dia 15 uma reunião a fim de formular um cronograma de transição de medidas restritivas relacionadas à Covid-19.
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Ao GLOBO, Wellington Dias, coordenador do fórum e governador do Piauí, confirmou que o grupo projeta que o Brasil alcance a marca de mais de 80% de vacinados com as duas doses contra a Covid-19 até o dia 20 de março. A partir disso, segundo ele, seria possível pensar em novas medidas, inclusive sobre o distanciamento social imposto pela doença.
— As máscaras podem ser o primeiro ponto a se modificar. Elas passariam a ser uma recomendação em vez da medida coercitiva que é hoje. Outra questão é a regra de distanciamento nas escolas, que impõe dificuldades por conta da capacidade de abrigar os alunos. Queremos discutir mudanças, mas com respaldo da ciência — diz.
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No Rio, o Comitê Científico de Enfrentamento à Covid-19 marcou reunião para o dia 14 de março, quando a prefeitura deverá bater o martelo sobre a liberação total do uso de máscaras. No último encontro, ficou definido que o momento atual não é adequado para uma medida dessa natureza.
— A vacinação precisa continuar avançando. Ainda temos 670 mil pessoas que já poderiam ter tomado a dose de reforço e não tomaram — diz o secretário municipal de Saúde, Daniel Soranz.
Em entrevista publicada no GLOBO na quarta-feira desta semana, uma das maiores referências nos cuidados da Covid-19, o infectologista Julio Croda, pesquisador da Fiocruz e presidente da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical (SBMT), falou sobre o assunto.
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— O mês de fevereiro ainda vai ter muita transmissão, muita hospitalização, muito óbito. Em algum momento teremos que fazer a discussão sobre a flexibilização das máscaras, mas provavelmente isso será a partir do meio de março.
Presidente da Sociedade Brasileira de Infectologia, Alberto Chebabo afirma que não há problemas em se discutir medidas de flexibilização, principalmente diante de uma queda considerável das internações no país. Mas alerta que será necessário verificar o cenário pós-carnaval antes de adotar qualquer nova regra.
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— A gente precisa esperar o carnaval e ver se haverá repique de casos. Porque mesmo que não haja festa de rua propriamente, muitos vão viajar, existem os eventos privados, haverá alguma aglomeração, como vimos no réveillon — defende Chebabo.
O infectologista enfatiza que uma flexibilização não quer dizer proibição:
— Ainda vai haver recomendação para alguns grupos. Mas vai depender de cada um, deixando de ser uma exigência do poder público.
O Conselho Nacional dos Secretários de Saúde (Conass), que reúne os gestores dos estados, adota tom mais conservador ao falar em medidas de flexibilização. O vice-presidente da entidade, Nésio Fernandes, lembra que os próximos três meses são o período da sazonalidade para doenças respiratórias agudas graves em grande parte do país.
— Durante os dois últimos anos da pandemia, as duas piores expansões do vírus aconteceram justamente nos meses de março, abril e maio. É possível que os sistemas de saúde tenham algum tipo de pressão, principalmente de casos leves. Nesse sentido, a preservação do uso de máscara, da testagem e o avanço da vacinação são medidas que ainda devem coexistir por um tempo — sustenta.
Um estudo para desobrigar o uso da máscara por quem tomou a vacina ou foi infectado foi pedido pelo presidente Jair Bolsonaro ao Ministério da Saúde em meados do ano passado. A ideia foi atropelada pela alta de casos provocada pela variante Ômicron.
Segundo o secretário-executivo Rodrigo Cruz, os estudos da pasta se baseavam em parâmetros usados por países tomaram decisões semelhantes baseadas em três fatores: número de casos, lotação ou infraestrutura hospitalar e cobertura vacinal:
—A gente sabe que qualquer movimento do ministério poderia pautar o comportamento de todos os municípios. Então, resolvemos aguardar para entender o comportamento da cepa.
Mesmo com alta de casos, alguns países flexibilizaram medidas, tendo em vista a menor gravidade da doença nos contaminados com a nova cepa. A Dinamarca anunciou no início deste mês o fim de todas as restrições. A Bélgica reabriu espaços de lazer. O governo britânico decretou o encerramento de seu plano de contenção, apesar da alta elevada de mortes.
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