quarta-feira, 11 de novembro de 2020

Guedes se diz 'bastante frustrado' por não ter conseguido vender uma única estatal em dois anos

 


Ministro da Economia repetiu que há resistência no Congresso à venda de empresas públicas. Governo planejava quatro privatizações em 2020, mas não realizou nenhuma.

Por Alexandro Martello, G1 — Brasília

 


O ministro da Economia, Paulo Guedes, disse nesta terça-feira (10) que está "bastante frustrado" por não ter conseguido vender nenhuma empresa estatal em quase dois anos de governo.

De acordo com Guedes, "acordos políticos" no Congresso têm impedido as privatizações e, para superar esse obstáculo, ele avaliou que o governo precisa recompor sua base parlamentar (leia mais abaixo neste texto).

O programa do então candidato à Presidência Jair Bolsonaro nas eleições de 2018 defendia a venda de estatais. Para 2020, Guedes havia afirmado que pretendia fazer quatro grandes privatizaçõesEletrobrasCorreiosPorto de Santos e Pré-Sal Petróleo S.A. Faltando dois meses para o fim do ano, porém, nenhuma delas foi a leilão.

Em outro evento nesta terça, o ministro afirmou que a nova meta é vender essas quatro empresas até o fim de 2021.

"Estou bastante frustrado com o fato de a gente estar aqui há dois anos e não ter conseguido vender uma estatal. É bastante frustrante. Até por isso um secretário nosso foi embora, decidiu ir embora", disse o ministro, durante evento promovido pela Controladoria-Geral da União (CGU).

O ministro se referia ao ex-secretário de Desestatização, Salim Mattar, que deixou a equipe econômica em agosto deste ano, junto com Paulo Uebel, que comandava a Secretaria de Desburocratização, Gestão e Governo Digital.

Na ocasião, Guedes admitiu que havia uma "debandada" na área econômica devido a dificuldades no avanço das reformas prometidas.

Assista abaixo a comentário de Miriam Leitão sobre as demissões na equipe econômica e as ações do Ministério da Economia.

Miriam Leitão: ‘Debandada no Ministério da Economia se deu porque programas não existiam’

Segundo o ministro, o secretário Diogo Mac Cord, nomeado para o lugar de Salim Mattar na secretaria que cuida das privatizações, tem "muita determinação e mais juventude".

"Quem sabe ele aguenta o tranco e vai conseguir entregar mais. Ele só tem que fazer um gol para ganhar, porque, no outro, não fizemos nada", acrescentou.

'Acordos políticos' contra privatizações

Guedes voltou a dizer que "acordos políticos" impediram o avanço do processo de privatizações no Congresso Nacional, e avaliou que o governo tem de recompor sua base parlamentar para conseguir levar adiante as vendas de empresas estatais.

No fim de setembro, o ministro chegou a afirmar que o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), havia se aliado com a esquerda para emperrar a votação de privatizações, mas depois eles fizeram as pazes. Nesta terça-feira (10), Guedes não citou nomes.

"Devemos à democracia essa transformação do Estado. Essa missão está acima da política partidária, está acima disso tudo, que inclusive impediu que nós avançássemos. Acordos políticos impedindo as privatizações, de um governo liberal democrata que foi eleito e que falou o tempo inteiro que ia privatizar", disse.

E completou: "E aí tem acordo político, de repente, na Câmara e no Senado que não deixa privatizar. Que história é essa? Então precisamos recompor nosso eixo político para conseguirmos fazer as privatizações prometidas durante a campanha", afirmou.

Reportagem de agosto de 2020 sobre fala de Bolsonaro de que privatização da Eletrobrás estava descartada naquele momento.

R$ 2 trilhões em ativos

Segundo o ministro da Economia, o Brasil possui, atualmente, cerca de R$ 2 trilhões em ativos, considerando R$ 700 bilhões em empresas estatais e R$ 1,2 trilhão em imóveis. Ao defender a desestatização desses ativos, ele avaliou que esses recursos poderiam ser utilizados para baixar a dívida pública e, com isso, economizar no pagamento de juros, que somam de R$ 300 bilhões a R$ 400 bilhões por ano.

"A ideia era só para dizer que o Brasil era um país que tinha R$ 4 trilhões de dívida, mas que tinha R$ 2 trilhões de ativos. E ele carrega estatais e imóveis ineficientes. Tem imóvel que o mato está subindo, está engolindo tudo, está perdendo valor econômico da propriedade, só que há uma dívida do outro lado. E que foi de dois dígitos durante décadas", disse ele.

De acordo com Paulo Guedes, o "movimento óbvio a ser feito era acelerar as privatizações, os desinvestimentos de imóveis e derrubar a dívida". Segundo ele, isso permitiria, inclusive, que o governo avançasse em programa para transferir renda aos mais pobres.

Nos últimos meses, o governo tem debatido um novo programa social após o fim do auxílio emergencial, mas tem esbarrado na regra do teto de gastos, que limita o crescimento das despesas do governo. O ministro da Economia não explicou como essa transferência de renda seria feita.

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