'Me dá vontade, inclusive, de mandar a conta para o ministro', afirmou Doria em coletiva nesta sexta-feira (16). Preso em 2019, traficante foi solto no sábado (10) após ter habeas corpus concedido por Marco Aurélio Mello, do Supremo Tribunal Federal (STF).
Por G1 SP — São Paulo
André do Rap foi capturado no dia 15 de setembro de 2019 em Angra dos Reis (RJ) — Foto: Divulgação
O governador de São Paulo, João Doria (PSDB), disse nesta sexta-feira (16) que a força-tarefa para tentar recapturar o traficante André do Rap representará um custo de R$ 2 milhões a cada 120 dias para o estado.
"A despesa para recuperar o fugitivo André do Rap, que foi liberado por um habeas corpus do ministro Marco Aurélio de Mello, representa para os cofres públicos de São Paulo cerca de R$ 2 milhões. Me dá vontade, inclusive, de mandar a conta para o ministro”, afirmou Doria durante coletiva de imprensa na tarde desta sexta-feira (16).
“A despesa está prevista para um período de 120 dias, isso não significa que estamos acreditando, confiando ou afirmando que André do Rap será capturado em 120. Mas a cada 120 dias nós teremos essa despesa, que é mobilização de equipe, as despesas operacionais, custos com equipamentos e diárias dos policiais aqui do estado."
Desde o último sábado (10), mais de 600 policiais civis dos três principais departamentos de segurança de São Paulo estão mobilizados para localizar André Oliveira Macedo, conhecido como André do Rap. O traficante é considerado um dos chefes do Primeiro Comando da Capital (PCC), facção que atua dentro e fora dos presídios paulistas.
Ele deixou a prisão na manhã de sábado, após ter um habeas corpus concedido pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Marco Aurélio Mello.
Horas depois, no mesmo dia, o presidente do STF, Luiz Fux, revogou a liminar e determinou o retorno de André à prisão (leia mais abaixo). Nesta quinta-feira (15), a decisão foi mantida pelo plenário da Corte nesta quinta-feira (leia mais ao final da reportagem).
André estava preso desde setembro de 2019, quando foi encontrado num condomínio de luxo em Angra dos Reis, litoral fluminense, numa operação da Polícia Civil de São Paulo. Naquela ocasião, foi detido por tráfico internacional de drogas após ficar quase seis anos foragido da Justiça.
Além de São Paulo, agentes da Polícia Federal (PF) e as polícias civis do Paraná e Santa Catarina procuram o traficante. As investigações trabalham com a possibilidade de ele ter ido em seu jato particular até o Paraguai, a Bolívia ou a Colômbia.
Governador João Doria (PSDB) durante coletiva nesta sexta-feira (16) — Foto: Reprodução/TV Globo
Prisão será muito difícil, diz promotor
O promotor Lincoln Gakiya, que investiga a ação do PCC, e o delegado Fabio Pinheiro Lopes, que coordenou a operação que prendeu André do Rap em 2019, afirmaram durante a semana que será muito difícil conseguir prender o traficante novamente.
"Impossível não é, mas vai ser difícil", afirma Gakiya, do Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado (Gaeco) do Ministério Público.
“Para nós foi um banho de água fria. Ele usa várias empresas de fachada, então, para conseguir capturá-lo de novo, vamos ter uma grande dificuldade. Ele é o maior atacadista de cocaína do país”, diz Pinheiro Lopes, delegado e diretor do Departamento Estadual de Homicídios e Proteção à Pessoa.
Listas de procurados
André do Rap entra na lista de mais procurados da polícia de SP — Foto: Reprodução/Polícia Civil de SP
Devido à periculosidade do traficante, que pode ter fugido do Brasil e buscado refúgio em outro país, o nome, a foto e os dados dele foram incluídos na lista restrita da Interpol, espécie de polícia internacional, onde estão os criminosos mais procurados do mundo.
O criminoso também passou a figurar nas listas dos bandidos procurados pelo Ministério da Justiça e pela Polícia Civil de São Paulo.
Apesar da repercussão do caso, até esta quarta-feira (14) a polícia ainda não havia recebido nenhuma denúncia, mesmo anônima, sobre o possível paradeiro de André do Rap. Quem tiver informações a respeito do traficante pode ligar para o número (11) 3311-3148 e o Disque-Denúncia, pelo 181. Não é preciso se identificar.
Soltura do traficante
O ministro do STF Marco Aurélio Mello soltou André do Rap após atender pedido da defesa do traficante, que alegava que seu cliente estava preso desde o final do ano passado sem uma sentença condenatória definitiva por causa da prisão preventiva no estado do Rio de Janeiro. Segundo a defesa, esse período excedia o limite de tempo previsto pela legislação brasileira.
A legislação processual brasileira mudou em 2020, com o pacote anticrime, determinando que prisões provisórias sejam revistas a cada 90 dias para verificar se há necessidade de manutenção da prisão – e foi isso que, segundo o ministro Marco Aurélio Mello, não ocorreu no caso de André do Rap.
O traficante estava preso por duas condenações em segunda instância por tráfico internacional de drogas, com penas que totalizam 25 anos, nove meses e cinco dias de reclusão em regime fechado.
Marco Aurélio Mello também já havia dado habeas corpus em favor de André do Rap nesses dois processos. Em um deles ainda não havia trânsito em julgado (quando a tramitação é totalmente concluída, sem mais possibilidades de recursos). Diante disso, o ministro entendeu que ele deveria ser solto imediatamente.
Levantamento feito pelo G1 mostra que o ministro já mandou soltar quase 80 presos usando o mesmo critério de André do Rap.
Possível fuga para o exterior
Polícia Civil apreende lancha de luxo ligada ao traficante André do Rap em Ilhabela, SP — Foto: Divulgação/SSP
Para o Ministério Público (MP) de São Paulo, o traficante pode ter deixado a prisão, viajado até Maringá (PR) e embarcado para algum país da América do Sul que faz fronteira com o Brasil.
Promotores e procuradores disseram que já tinham pedido à Justiça a manutenção da prisão de André do Rap.
Por se tratar de um criminoso perigoso, os serviços de inteligência monitoraram à distância a movimentação de André e têm a certeza de que o traficante usou um avião particular para fugir do Brasil.
STF manteve prisão
Nesta quinta, a maioria dos ministros do STF votou pela manutenção da prisão de André do Rap. Eles entenderam que não é possível soltar um criminoso considerado de alta periculosidade e que já havia fugido antes.
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