Suspeita é de que os assassinatos de dois agentes em quatro dias, na Grande SP, sejam uma retaliação às denúncias de maus tratos contra a cúpula da facção em Brasília; em SP e Brasília, presos fazem greve
Dois agentes penitenciários foram assassinados em quatro dias na Grande São Paulo. A Polícia Civil investiga se as mortes são uma retaliação do PCC (Primeiro Comando da Capital) por conta das denúncias de maus-tratos aos líderes da facção presos na Penitenciária Federal de Brasília.
Na noite desta quinta-feira (12/3), o agente penitenciário Alexandre Roberto de Souza foi executado com 15 tiros no Jardim das Oliveiras, em Taboão da Serra (Grande SP). A vítima trabalhava no Centro de Detenção Provisória de Itapecerica da Serra, também na região metropolitana. Segundo a Polícia Militar, os assassinos fugiram em um veículo Fiat Toro vermelho.
Na tarde de segunda (9/3), Samuel Correia Lima, funcionário do CDP de Mauá, também na Grande SP, foi assassinado com sete tiros em um depósito de material de construção no vizinho município de Santo André. Amigos de Lima afirmaram à Ponte que o servidor trabalhava na enfermaria da unidade prisional e que sempre tratou bem tantos os presos quanto os colegas de trabalho.
Os assassinatos dos agentes deixaram a categoria em alerta. O presidente do Sindicato dos Funcionários do Sistema Prisional do Estado de São Paulo, Fábio Jabá, enviou uma mensagem de áudio na noite de quinta-feira (12/3) pedindo cautela aos trabalhadores. “Vamos nos defender e se possível também atacar”, afirma.
“Não devemos esperar 2006 para saber o que está ocorrendo”, afirma Fábio Jabá na mensagem. Ele orienta a categoria a ter o máximo cuidado dentro e fora dos presídios para que não se repitam as cenas registradas em maio de 2006, quando o PCC comandou rebelião simultânea em 74 prisões e atacou as forças de segurança, matando 59 pessoas, entre agentes e policiais. “Vamos nos defender e se possível também atacar”, afirma.
A megarrebelião de 2006 foi em protesto contra o isolamento de 765 presos da facção na Penitenciária 2 de Presidente Venceslau, na véspera do Dia das Mães, data sagrada para a população carcerária. Em resposta aos ataques do PCC, policiais mataram 505 pessoas em São Paulo.
“Greve branca”
Parentes de presos disseram que os detentos da Penitenciária Federal de Brasília iniciaram greve de fome como forma de protesto. Eles se queixam da qualidade da alimentação, da falta de atendimento médico e de revistas vexatórias impostas às visitantes, que seriam obrigadas a ficaram nuas na frente de funcionários.
No Estado de São Paulo, centenas de detentos manifestaram solidariedade aos presos do PCC de Brasília e se recusaram em sair das celas para audiências em fóruns. A manifestação é chamada de “greve branca”.
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Em mensagem de áudio a que a Ponte teve acesso, um agente penitenciário no Fórum Criminal da Barra Funda, na zona oeste da capital paulista, conversa com colega do CDP Belém, na zona leste, sobre a greve dos presos em São Paulo e comenta que “o bicho vai pegar”.
Segundo funcionários do sistema prisional, na quarta-feira (11/3) ao menos 60 presos foram mandados para o castigo na Penitenciária 1 de Presidente Venceslau, por causa da “greve branca”. A SAP (Secretaria Estadual da Administração Penitenciária) não confirma essa informação.
Funcionários do sistema prisional disseram à Ponte não ter dúvidas de que as mortes dos dois agentes foi uma vingança do PCC por conta da situação dos líderes na Penitenciária Federal de Brasília e também por causa da remoção de presos para o castigo na Penitenciária 1 de Venceslau.
Um agente penitenciário afirmou que entre 60 e 80 presos da Capital foram transferidos para a P1 de Venceslau porque se solidarizaram com os chefes da facção criminosa recolhidos em Brasília. O funcionário contou ainda que outros presos do Interior, que também participaram da “greve branca”, serão levados para a P1 de Venceslau ainda esta semana.
Em nota divulgada na quarta-feira (11/03), a SAP havia informado que “houve poucas recusas dos presos, em algumas unidades, para comparecimento em juízo”.
Desde janeiro a Ponte vem divulgando denúncias trazidas por familiares de presos do PCC relacionadas à falta de atendimento médico e hospitalar, privação de alimentação e revista vexatória na unidade de Brasília.
Outra queixa refere-se à proibição dos presos de abraçar os filhos ao menos uma vez por mês em dia de visita. Os detentos que tiveram bom comportamento em um ano inteiro podiam fazer isso. Mas esse direito foi tirado, o que causou grande insatisfação à população carcerária
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