segunda-feira, 5 de setembro de 2022

Pensar cansa? Porque trabalho mental intenso leva à fadiga

 

Por Rebeca Letieri, para o Eu Atleta — Rio de Janeiro

 


Pensar cansa? Qualquer pessoa que faça trabalhos que exigem muito do cérebro por muitas horas sabe que sim, o trabalho mental intenso pode levar à exaustão. Um novo estudo de pesquisadores da universidade francesa Sorbonne, publicado em agosto na revista científica Current Biology, explica por que trabalhos não braçais, que exigem muito mais do cérebro do que do resto do corpo, deixam a pessoa igualmente exausta e a resposta parece estar no acúmulo de um neurotransmissor chamado glutamato no córtex pré-frontal, uma área do cérebro, causado por intenso trabalho mental. O Eu Atleta conversou com um neurocientista e um psicólogo, que preparou uma lista de dicas para ajudar a eliminar as substâncias tóxicas como o glutamato do cérebro e não deixar ninguém pifar nem entrar em burnout.

O cansaço mental pode levar à exaustão — Foto: Freepik

O cansaço mental pode levar à exaustão — Foto: Freepik

O estudo

De acordo com neurocientista Igor Duarte, ao realizar tarefas que exigem alta demanda neural, pode realmente haver sinais de fadiga inicialmente ligados à baixa concentração de glicose, como ocorre após 5 horas de uma partida de xadrez. Nesse período, os jogadores – mesmo profissionais – estão sujeitos a erros básicos devido à fadiga. Todavia, o especialista lembra que embora essa explicação seja aceita, não há base para sustentá-la de acordo com os autores. Outra possível explicação, segundo Duarte, seria uma escolha do cérebro de deixar a tarefa exaustiva para realizar tarefas mais agradáveis.

– Os autores levantaram a possibilidade de um neurotransmissor (glutamato) estar envolvido. Glutamato é a mesma substância utilizada na culinária chinesa. Sabe-se que em grandes concentrações pode ser tóxico e não há mecanismos bioquímicos capaz de neutralizá-lo, apenas a via normal de circulação de fluídos pelo tecido nervoso – explica.

O glutamato é um aminoácido muito presente no sistema nervoso central (SNC), e funciona como um neurotransmissor excitatório, estimulante do sistema nervoso central, atuando no desenvolvimento neural, na plasticidade sináptica, no aprendizado e na memória. Afeta ainda o mecanismo de algumas doenças neurodegenerativas. Em excesso, quando não está equilibrado no organismo, pode levar a distúrbios psíquicos, à epilepsia e, de acordo com o novo estudo, à fadiga, quando se acumula no córtex pré-frontal do cérebro, onde ocorrem os processos mentais, comportamentais e cognitivos mais complexos.

Durante o trabalho mental intenso, o glutamato se acumula no córtex pré-frontal (prefrontal cortex, em inglês), levando à exaustão — Foto: Istock Getty Images

Durante o trabalho mental intenso, o glutamato se acumula no córtex pré-frontal (prefrontal cortex, em inglês), levando à exaustão — Foto: Istock Getty Images

Os autores realizaram uma pesquisa onde um grupo fez uma tarefa (cognitiva) simples enquanto outro grupo fez a mesma tarefa numa versão "difícil". Os participantes foram submetidos a exames de ressonância magnética funcional para avaliar as funções executivas e a presença do glutamato fora dos neurônios. Os resultados apontam para maior concentração de glutamato no tecido nervoso dos participantes que fizeram a tarefa na versão "difícil", especificamente no córtex pré-frontal lateral. A explicação refere-se à escolha do sistema em manter o controle cognitivo x elevação de glutamato. Conforme se eleva o glutamato, o controle cognitivo diminui e, assim, aparecem os sinais de fadiga. E esses sinais seriam o alerta de que aquele é um momento de dar uma parada no trabalho para preservar o bom funcionamento cerebral.

Como evitar a fadiga mental

Segundo Duarte, o segredo é dormir e descansa, e algumas medidas simples podem ajudar:

  • É sabido que durante o sono ocorre a faxina no cérebro. Portanto, o sono é fundamental para manter a energia e eliminar as toxinas, inclusive aquelas que predispõem à doença de Alzheimer. Entre 7 e 8 horas por noite é o ideal. Para isso, deve-se manter o quarto escuro e livre de ruídos.
  • Descansar ou fazer uma tarefa que lhe seja agradável como hobby, também pode ser bom para minimizar os efeitos do esgotamento cognitivo.
  • Uma viagem para o interior ou litoral num feriado prolongado, sempre é uma boa opção. Durante o passeio, as redes neurais mudam de executiva para rede padrão.
  • Tirar pequenos intervalos para relaxar durante a jornada de trabalho também é uma boa medida: fazer uns minutos de meditação, ler algumas páginas de livros por lazer, fazer um alongamento ou um treino de HIIT, vale o que fizer bem à pessoa.

A qualidade de vida do trabalhador vem sendo estudada há anos. O cansaço corporal é diferente do cansaço mental/cognitivo. Quando o corpo está cansado fisicamente, um boa noite de sono ajuda muito. No cansaço mental, dormir pode ser um grande problema. A psicóloga Elisangela Paes Leme lembra que o excesso de preocupação por não conseguir resolver os problemas cognitivos dificultam o sono e piora a situação. A insônia gera mais ansiedade e pensamentos negativos.

– O que podemos fazer? Ativar as emoções positivas com ações assertivas: caminhar, ouvir música, sair com amigos, ou seja, separar tempo para o lazer. Emoção positiva é diferente de pensamento positivo. Ficar repetindo uma frase de forma automática e sem senti-la não mudará a situação. Quando eu digo emoções positivas é criar situações para que elas aconteçam. É ação, fazer algo! – explica.

O que acontece com o corpo quando temos emoções positivas:

  • Redução dos níveis de hormônios ligados ao estresse;
  • Diminuição das reações inflamatórias;
  • Melhora do sistema imunológico;
  • Redução dos riscos de pressão arterial, diabetes e derrame;
  • Aumento dos hormônios do bem-estar (dopamina e serotonina);
  • Melhora na aprendizagem.

– Se você conseguir fazer atividade física irá potencializar todos os benefícios citados. Nos casos de depressão e de momentos de crise, o tratamento é necessário. Porém, podemos acessar a esperança que é uma das emoções possível – completa a especialista.

Fontes:
Elisangela Paes Leme é psicóloga, mestre em educação e doutora em psicologia clínica.
Igor Duarte é neurocientista, membro da Sociedade Brasileira de Neurociências e Comportamento.

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