Prêmios como viagens com a família para quem cuida da saúde, lava a jato de graça no serviço, jornada de quatro dias, folga por adoção de animal de estimação, lava a jato na empresa e até mesmo licença remunerada por TPM são alguns dos benefícios oferecidos.
Quem não gostaria de bater o ponto apenas quatro dias na semana? Essa ideia, ou melhor, tendência, vem sendo debatida há alguns anos entre organizações não governamentais e agências que buscam a melhoria e o bem-estar dos trabalhadores. Com a pandemia, período em que a grande maioria teve que trabalhar em casa, o assunto veio à tona com maior ênfase. A promoção do bem-estar corporativo, no entanto, vai muito além. Para obter resultados satisfatórios de seus colaboradores, práticas como palestras motivacionais e de conscientização, assim como investimentos na saúde e segurança também são levadas em conta.
Países europeus como França, Dinamarca, Espanha e Reino Unido, onde a prática do day off foi difundida em larga escala, figuram entre os maiores entusiastas dessa ideia. Grandes multinacionais já adotaram o modelo, entre elas a Panasonic, cuja sede, no Japão, anunciou, em janeiro, que seus funcionários teriam a opção de trabalhar desta maneira ou na rotina comum.
Segundo relatório da thinktank Autonomy, 85% dos trabalhadores islandeses já aderiram à escala 4x3.No Brasil, ainda são poucas as empresas com jornada de trabalho semanal reduzida.
Em território nacional, companhias que entraram de cabeça no quesito buscam meios para proporcionar um ambiente e vivência saudável de trabalho. Imagine poder tirar uma folga para tratar os sintomas provocados pela TPM, ter um dia para acostumar seu novo animal de estimação, considerado membro da família, ouainda optar por começar a semana na segunda ou terça-feira.
A onda da semana de 4 dias
No caso da Shoot, agência de comunicação gaúcha, a percepção de uma equipe continuamente cansada, mesmo com as folgas do fim de semana, preocupou as lideranças e foi a gota d’água para a adoção da semana de quatro dias trabalhados. “A gente voltava do fim de semana esgotado, demorava para entrar no ritmo”, conta Luciano Braga, líder de ativismo e projetos sociais da empresa.
A empresa segue uma política de trabalho que prioriza uma rotina saudável. Além disso, proíbe mensagens fora do horário de expediente e durante os fins de semana. Braga atribui parte dessa fadiga à conectividade e imediatismo do mundo.
Antes da empresa adotar a nova rotina de trabalho, foram realizados testes durante os últimos meses de 2021. A empresa inteira parava na sexta-feira, porém, foi observado que permanecer um dia útil inteiro no off não era um fator positivo.
A experiência auxiliou a Shoot a desenvolver uma rotina de trabalho, na qual sempre haja funcionários presentes na empresa. A “carta na manga” consistiu em dividi-los em duas equipes: o grupo que trabalha de segunda a quinta-feira, e outro que trabalha de terça a sexta.
Outra reivindicação acatada foi a substituição de reuniões presenciais por videoconferências e troca de e-mails. “Na maioria das vezes, esses encontros ocupavam boa parte do expediente, o que era bastante desgastante”, diz Braga.
Outro benefício inusitado oferecido na firma gaúcha é a folga da TPM. Nessa modalidade, mulheres com sintomas muito fortes da menstruação ou com dores que atrapalhem o desempenho no trabalho podem solicitar um turno de folga, procedimento que, além de não implicar corte no salário, dispensa reposição do dia não trabalhado.
Trocar ideias
Com o sucesso da semana de quatro dias na Shoot, outras empresas se interessaram no método. Segundo Luciano Braga, existe um movimento de empregadores preocupadas com o bem-estar do funcionário. Além disso, a procura por reuniões formais e informais é constante. Ele considera o benchmarking, processo de análise estratégica das melhores práticas incorporadas por empresas atuantes no mesmo setor. “Isso é significativo, pois muitos dos exemplos que deram certo comumente chegam do exterior. São inúmeras essas práticas na Islândia e Espanha, mas precisamos entender que nem sempre um modelo estrangeiro se aplica no nosso contexto. No Brasil existe uma cultura e leis trabalhistas diferentes, então não tem como seguir à risca os passos das empresas de outros países”, afirma.
Lava a jato, quitutes e viagens de graça para quem se cuida
Empresa de tecnologia da informação com sede em Brasília, a Tecnisys promove uma série de programas para valorização de seus colaboradores, como incentivo à pratica regular de atividades físicas e estímulo à alimentação saudável. Os que mais se cuidam recebem como prêmio viagens de três dias para destinos brasileiros, com direito a levar junto seus familiares. Além disso, os funcionários têm à disposição uma copa completa com comidas saudáveis, entre frutas e sucos naturais, e ainda oferta de serviço gratuito de lava a jato para que não percam tempo com essa tarefa durante o expediente.
“Anualmente coletamos informações sobre gordura corporal, massa magra, gasto calórico basal, idade corporal e gordura visceral. Durante as pesagens, os que apresentam melhor resultado são premiados”, conta.
Ainda segundo ela, as respostas obtidas com os projetos de estímulo superaram as expectativas. “Pouquíssimas intercorrências médicas foram registradas desde que implantamos os programas. Visamos à melhoria da imunidade e do bem-estar de toda a equipe”, afirma.
A gerente de marketing Marianna Valentini é uma das colaboradoras da Tecnisys mais empolgadas com os projetos da empresa que visam ao bem-estar dos funcionários. “Sempre participo dessas ações. O programa que oferece pesagens periódicas de bioimpedância é fantástico, além da alimentação de primeira que é disponibilizada na copa da empresa, como frutas, iogurtes e sucos naturais.São programas que nos ajudam muito no dia a dia, pois é menos coisas para a gente se preocupar. Facilita bastante a nossa vida”, diz.
Produtividade
Ela afirma que essas práticas alteraram significativamente, para melhor, a rotina diária e também a produtividade de todos. “Nós ganhamos tempo com essas praticidades. A prática de exercícios físicos, alimentação e tudo mais, nos deixa mais dispostos e menos propensos a doenças.”
Capítulo à parte, a oferta do lava a jato é outra ação que facilita muito a vida dos colaboradores da empresa, diz Marianna. “Com essa praticidade, não precisamos, por exemplo, usar o nosso horário de almoço ou o nosso momento de descanso no fim de semana para lavar o carro, ou mesmo sair no meio do expediente para buscá-lo. É menos uma preocupação no nosso dia a dia. Isso facilita muito nossas vidas, além de nos ajudar a focar mais nas tarefas diárias”, diz.
Outros fatores positivos apontados por ela são o fortalecimento do vínculo com a empresa e a sensação de pertencimento. “São fatores que aumentam quando percebemos que a empresa se importa e está se esforçando para o nosso bem-estar. São esses pequenos detalhes do dia a dia que encantam e eng
IMERSÃO
Equilíbrio entre a vida pessoal e profissional é fundamental
Busca pelo equilíbrio mental é fator preponderante para a garantia do bem-estar e de toda a cadeia produtiva, afirma especialista
A busca pelo equilíbrio mental continua marcando presença nos debates em torno do local de trabalho. Como esse fator afeta ou se é o único responsável pelo bom desempenho dos funcionários é uma questão são cada vez mais discutida. Diversas empresas notaram que colaboradores não saudáveis, tanto fisicamente como psicologicamente, acabam provocando perdas para ambas as partes. Buscando reduzir o número de faltas, afastamentos e licenças médicas, várias empresas estão reestruturando suas políticas de trabalho, a fim de melhorar a produtividade e qualidade de vida de seus empregados.
Essa gestão mais humanizada, com enfoque no indivíduo, possibilita um aumento no bem-estar empresarial. Além disso, pode transformar um ambiente tóxico em um espaço aberto para compartilhar sentimentos e opiniões. Fatores que estimularam algumas companhias a abolirem regras rígidas, visando à produtividade, a adotarem pausas durante o expediente, fornecendo locais para descanso, recreação e até meditação em suas dependências.
A cabeça responde ao coração
O bem-estar molda a forma como as pessoas agem na sociedade. É denominador comum que problemas pessoais e sobrecarga no trabalho são fatores que contribuem para que milhares de funcionários no mundo sofram da Síndrome de Burnout. Tanto que esse problema é reconhecido como uma doença ocupacional pela Organização Mundial da Saúde (OMS), que incluiu a patologia na categoria Equilíbrio entre a vida pessoal e profissional é fundamental IMERSÃO Busca pelo equilíbrio mental é fator preponderante para a garantia do bem-estar e de toda a cadeia produtiva, afirma especialista de Classificação Internacional de Doenças (CID).
Na CID-11, que passou a vigorar em janeiro de 2022, esse problema ganha oficialmente o entendimento mais aceito pelos especialistas, o de um esgotamento que é fruto do estresse crônico no local de trabalho. Agora estão previstos os mesmos direitos trabalhistas e previdenciários assegurados no caso das demais doenças relacionadas ao emprego.
A síndrome, desencadeada pelo estresse crônico no ambiente laboral, se caracteriza pela tensão resultante do excesso de atividade profissional e tem como principais sintomas esgotamento físico e mental, perda de interesse no trabalho, ansiedade e depressão.
De acordo com a pesquisa Pebmed, um em cada três trabalhadores brasileiros sofrem com a Síndrome de Burnout, mal que afeta mais de 30 milhões de pessoas no país.
O Brasil figura entre os países com maior índice de estresse do mundo. Para se ter uma ideia da gravidade dessa doença, 70% da população ativa já apresentou ou possui sintomas, de acordo com estudo feito em 2017 pela Isma-BR (Associação Internacional de Gerenciamento de Estresse Brasil).
Segundo a psicóloga Shana Wajntraub, os principais motivos para um funcionário manifestar sintomas dessa síndrome podem estar relacionados à carga horária de trabalho, pressão de lideranças, sobrecarga de demandas, ou ambiente laboral tóxico. “O nosso corpo dá sinais, pode ser por uma dor na cabeça, olhos piscando com muita frequência ou lapso de memórias”, afirma.
A especialista oferece consultorias para empresas que têm o objetivo de proporcionar bem -estar para a equipe. Durante as visitas, ela percebeu a presença de diversos funcionários com déficit de atenção, além de um número elevado de abstenção. A psicóloga observa que é papel das empresas conscientizar seus funcionários sobre saúde mental e também física.
“O profissional também precisa se dar ao protagonismo. Passamos por um momento conturbado durante a pandemia, provocadas pela insegurança sanitária e a solidão. Acredito que os todo trabalhador deve cobrar das empresas essa obrigação, assim como deve se empenhar em se cuidar, alimentar bem, descansar e exercitar”, observa.
Ela compartilha algumas soluções adotadas pelos empregadores, como salas de descanso e mindfulness (espaços destinados para prestar atenção e focar nas atividades), e até mesmo salas para meditação, onde os funcionários possam reservar um espaço da rotina de trabalho para recuperar as energias.
Para ela, essa preocupação e implementação gera um retorno imensurável tanto para os funcionários quanto para a própria empresa. “Ter pessoas saudáveis diminui o turnover, absenteísmo, faltas e afastamentos por problemas de saúde. Além de melhorar o clima organizacional”, afirma, ponderando que foi-se o tempo em que as pessoas separavam o trabalho da vida pessoal. “Hoje tudo é uma coisa só, ambos sofrem influência mútua constantemente.”
ELE CHEGOU
Mais do que nunca considerados membros da família, animais de estimação proporcionam melhor qualidade de vida e também asseguram folga no trabalho
Adoção de mascote garante "licença maternidade"
Assim como as licenças maternidade e paternidade, pessoas que adotam um animal de estimação têm a possibilidade de garantir folgas remuneradas para promover a adaptação do novo membro da família. No Brasil, o interesse cada vez maior por animais de estimação tem relação direta com o fato de as famílias optarem por terem menos filhos, além do aumento da expectativa de vida da população.
A importância que os animais de estimação exercem cada vez mais na vida das pessoas levou a Seguros SURA, uma das maiores empresas do setor na América Latina, a garantir o day off para pais e mães de pets. A companhia instituiu que, a partir desse ano, o funcionário que adotar um animal de estimação tem um dia livre para cuidar do recém-adotado, além de folga em caso de falecimento do mascote.
“Temos um olhar atento em relação ao bem-estar e saúde mental e sabemos que o contato com animais tem impacto positivo na vida das pessoas. Com isso, resolvemos oferecer o benefício em incentivo a adoção, aos cuidados dos bichinhos e à própria satisfação dos nossos talentos que têm seu pet como membro da família”, comenta Juan Guerra, vice-presidente de talento humano na SURA.
Carolina Lima, analista de marketing e experiências na seguradora, admira a postura da SURA em se preocupar com esse novo formato de família. Segundo ela, essa prática garante uma relação mais estreita entre a empresa e o empregado. “Mãe” de Liz, da raça Spitz Alemão, popularmente conhecida como Lulu da Pomerânia, ela dedica boa parte de seu tempo ao convívio com a mascote.
“Sou apaixonada por animais. Minha relação com minha cachorrinha é muito amorosa. É como se fosse uma verdadeira filha. Me preocupo, cuido e amo como se fosse um bebê. Ter essa segurança de, se um dia ela não estiver mais aqui, ter um momento só meu para sentir essa perda é muito bom. Muito legal a empresa olhar para esse novo formato de família, pois é isso que a Liz é para mim, parte da minha família”, afirma.
Tutor de três yorkshires, o consultor de marketing e experiências Guilherme Viana considera extremamente importante que as empresas lancem olhar especial para os donos de pets. “Os animais são muito importantes na vida das pessoas. Além da companhia e do amor incondicional, eles proporcionam maior concentração e produtividade no trabalho”, afirma.
De acordo com a Associação Brasileira da Indústria de Produtos Para Animais de Estimação (Abinpet), atualmente existem cerca de 144,3 milhões de animais no Brasil. O número de pets representa 67,6% da população, ou seja, mais da metade dos brasileiros tem pelo menos um animal domesticado.
“Somos o terceiro país do mundo com maior população de animais domésticos, e a licença paternidade ou maternidade é uma tendência no mundo. Temos uma gestão de pessoas personalizadas e buscamos sair do formato habitual de benefícios corporativos para oferecer, cada vez mais, soluções de acordo com a necessidade de cada colaborador”, diz Guerra.
*Estagiária sob a supervisão de Jáder Rezende